Os livros trazem surpresas agradáveis. Não todos. Alguns. Tive a oportunidade de comprar um livro pequeno de poesia do autor Harold Pinter. Chegou-me às mãos num catálogo enviado por uma editora, por ocasião da celebração da entrega do prémio Nobel. Hesitei. Era-me totalmente desconhecido, mas ficou a curiosidade. Comprei o mais barato. E o mais estreito também. Arrumei-o na prateleira, junto de tantos outros, à espera de tempo para o ler. Contudo, ao folhear o livro, dei conta da foto debaixo da qual estavam algumas frases suas ali colocadas à laia de apresentação. Não poderiam ter escolhido melhor. Sempre senti curiosidade em conhecer a pessoa que está por trás das palavras. Mais importante do que as palavras, são as pessoas. Aquilo que elas são. Posso dizer que aquela meia dúzia de frases teve um impacto tão forte em mim quanto o conteúdo do livro. Já tivera outras experiências semelhantes. Estou a lembrar d’ “O Senhor do Anéis” em três grossos volumes que tive a infelicidade de emprestar a uma pessoas que nunca mais mos devolveu. Esta obra vinha precedida de uma espécie de nota introdutória que li com muito interesse. Nela, o autor contava as peripécias ocorridas no percurso da obra antes da mesma conhecer a madrugada da impressão. Sublinhei, a lápis, algumas partes que achei interessantes e que me acompanharam desde então. Nesta última, porém, a ideia prendeu-se a mim. Talvez porque me revi nelas. Na verdade que nelas impressa. Diz assim: “Em 1958 escrevi: não há grande diferença entre aquilo que é real e aquilo que é irreal, nem entre aquilo que é verdade e aquilo que é falso. Uma coisa pode não ser nem verdadeira nem falsa. Pode ser ao mesmo tempo verdadeira e falsa. Acho que esta afirmação ainda faz sentido e se aplica ainda à exploração de realidade através da arte. Por isso, enquanto escritor defendo esta afirmação. Mas enquanto cidadão não, enquanto cidadão tenho de perguntar o que é que é verdade? O que é que é falso? - Harold Pinter, Abril 2002”. É isto que, enquanto cidadãos responsáveis devemos fazer. É uma obrigação moral. Para evitar que o mundo se transforme num esgoto humano cheio de lodo viscoso onde corremos todos o risco de nos afogarmos. Num mundo de mentiras e meia verdades e verdades destorcidas onde já quase ninguém é o que parece, corremos o risco de parecer algo que nada ou pouco tem a ver com a essência humana. Como detesto a mentira, acho que toda a mentira é uma traição, e vivo rodeada delas, não podia encontrar em melhor altura tais palavras! Alguém que, finalmente, declara alto e bom som o seu interesse pela verdade. São tão poucos! No seu caso acho que se pode afirmar que por trás de um grande autor, há uma grande pessoa! Há uma boa pessoa! A sua luz apagou-se no ano de 2008. Mas este homem interessante deixou uma obra que merece ser seguida com atenção.
Projecto Alexandra Solnado
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