Sempre entendi os outros como um prolongamento de mim própria. Somos todos seres humanos, fisicamente todos somos semelhantes: uma cabeça, um corpo, duas pernas, dois braços, pés e mãos. Julgo que, mesmo que visse um ser diferente de mim, não estranharia. Aliás, sempre me lembro de ser uma gaiata muito voltada para o espaço, que sempre me fascinou e intrigou. Não era em vão que eu queria ser astrónoma. Sempre tive um espírito muito aberto e procuro sempre mantê-lo assim.
Quando era pequena, lembro-me de não ter nojo ou medo de praticamente nada. Tudo quanto mexia na natureza, eu tocava e agarrava. Lembro-me das lagartixas e das osgas, duas vizinhas menos apreciadas por mim. Nunca me ocorreu apanhá-las. Limitava-me a observá-las, quando elas nos presenteavam com uma visita ao sol, em cima dos muros quentes e caiados. Com os meus pequenos vizinhos, e companheiros de brincadeiras, acontecia o mesmo. Não tínhamos medo ou nojo de nada. Quando algum de nós tinha um rebuçado na boca, partia-o com os dentes e distribuía-os por nós. Nós aceitávamos com agrado e colocávamo-lo na boca sem qualquer espécie de problema. Havia, na altura, vizinhas que nos alertavam para as doenças ou outras complicações que poderiam resultar dessa troca. Nunca ligámos a isso. Nós sentíamo-nos como que um prolongamento dos outros. O que acontecia a um de nós, era um problema de todos. Lembro-me de uma vez, no regresso do ciclo, ter sido abordada por uma cigano, ainda jovem, que me apontava com o dedo indicador, e dizia: “Foi esta!” Eu nunca vira o rapaz na minha vida. E o caso estava a ficar feio, quando um vizinho meu e amigo se acercou, conheceu o rapaz cigano, percebeu o que se passava e lhe explicou que não era eu. Percebi quanto o cigano o respeitava, porque acatou a sua explicação. Os mais velhos que, entretanto, se aproximavam do grupo que se avolumava, desmobilizaram, e o rapaz, pediu desculpa e seguiu o seu caminho. Agradeci ao Majó, sem perceber ainda o que acontecera. Tratara-se, segundo ele, de uma confusão. Ele já a desfizera. Não deveria pensar mais nisso
Com os meus filhos aconteceu o mesmo. Desde pequenos que sempre partilharam tudo, mesmo o que tinham na boca. Mas, cada vez mais, são as vozes que se levantam, tentando evitar que esse tipo de experiência seja evitado. Eu defendo o contrário. As crianças, tal como eu e os meus amigos de infância, elas também precisam de experimentar essa partilha, esse aconchego do próximo e ao próximo. O pior é que essas vozes são muitas vezes respeitadas, acabando por influenciar pessoas mais vulneráveis, que acabam por sublinhar essa ideia. Noto que isso acontece cada vez menos, e é uma pena, porque nós, seres humanos, só tínhamos a ganhar com isso.
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