As pessoas não querem pensar. Não é que não tenham tempo, simplesmente não se querem dar ao trabalho. Não perguntam, nem colocam outras hipóteses explicativas a qualquer situação presenciada. É aquilo, tem de ser… depois arranjam toda uma estória e incomodam todas as pessoas com as suas teorias. Estas são o tipo de pessoas que vêem chifre em cabeça de cavalo. Eu diria que o bom juiz por si se julga…
Tenho uma vizinha de quem gosto muito, e é para mim como se fosse uma filha e uma irmã mais velha para os meus filhos. Ela entra em nossa casa e sente-se como se estivesse na sua. Há toda aquela familiaridade que só certas pessoas conseguem. Gosto, sempre gostei, da maneira descontraída como ela entra em nossa casa e se dirige ao frasco das bolachas e se põe a conversar enquanto vai dando pequenas dentadinhas. Acontece, geralmente, quando está preocupada.
Um dia destes, a mulher do meu ex-marido veio buscar o meu filho a nossa casa. (Eu não estou cá durante parte da semana, já que estou a trabalhar no Minho.) Aconteceu, nessa altura, que a miúda vinha a caminho de nossa casa. Enquanto o meu filho ouvia as admoestações gritadas pela madrasta, que tivera de vir buscá-lo propositadamente a casa, (quando ela pensava que ele estava na casa dos avós maternos), ela foi entrando em casa, algo incomodada com a situação a que acabava, sem querer, de presenciar, da mesma forma descontraída com que sempre nos habituou e que tanto nós apreciamos. A senhora, ao presenciar a entrada da miúda na nossa casa, e sabendo que só o meu rapaz cá estava, começou a fazer um filme. Preocupou-se desnecessariamente e preocupou todos aqueles com quem tem confiança. Ela pensou que a moça era alguma rapariga com quem o meu rapaz poderia dormir. É daquelas pessoas para quem não existe amizade entre um homem e uma mulher e, alargado o perímetro, os jovens também estão incluídos na sua filosofia. Até porque ele está numa fase perigosa, segundo ela afirmou à minha filha mais velha, uma das confidentes por ela escolhidas. É claro que a minha filha ficou boquiaberta perante tal julgamento. Ainda tentou rebater aquela ideia, mas não conseguiu. Também não queria entrar em muitas explicações sobre o que se passava em nossa casa. Quando regressei, ela contou-me tudo. Por pouco não desatei às gargalhadas. Como era possível? Mesmo não sabendo o que se passava, ela deveria saber que as pessoas não são animais, podem ser monstros, mas não são animais. Há pessoas cujos laços afectivos ultrapassam essas necessidades básicas. Para este tipo de pessoas não… Eu não perderia tempo a escrever sobre isto se não soubesse que há mais pessoas por aí iguais, sempre dispostas a julgar os outros por aquilo que são.
Hoje, de manhã, quando entrei nas instalações da associação empresarial onde estou a tirar um curso, nível cinco, para desempregados, deparei-me, antes de subir para a sala, com uma situação insólita e algo caricata. Ao passar em frente do bar/café, reparei que, em cima de uma das mesas, se encontrava um guardanapo cor-de-rosa escuro servindo de embrulho a um… caroço de pêra. Como o bar/café pratica uns preços altos para quem está desempregado, muitas das pessoas que estão a frequentar os vários cursos, leva uma merenda para ingerir nos intervalos dos mesmos. À falta de um sítio onde se possam sentar, reúnem-se, frente ao bar, à volta das mesas do café. Para os senhores que lá trabalham, e que muito gentilmente cedem as mesas e as cadeiras aos ocupantes, não é nada de novo mas, desta vez, parecem ter-se zangado mesmo. Embora nunca tenha visto as mesas com restos de comida ou outros ou outros resíduos, a verdade é que alguém se esqueceu, da peça de fruta meio comida, em cima da mesa. Não sei se terá sido descuido ou desleixo, embora me incline mais para aquela razão, mas a verdade é que alguém decidiu que não haveria de retirar a peça de fruta de cima da mesa. Então, em cima da mesa, sob aquele improvisado embrulho cor-de-rosa, de onde espreitavam os restos da abandonada pêra de um esplêndido verde, aparecia uma folha de papel A4, da qual se desprendiam umas negras letras garrafais que ocupavam praticamente a folha toda com a curta frase “Procura-se o dono”. Não sei se o autor da frase já estava saturado deste tipo de situações, mas tudo leva a crer que estava zangado e não se sentia no dever de retirar os vestígios da improvisada e frugal merenda dali. A verdade é que nós, portugueses, somos muito descuidados com este tipo de situações. Parece que não conhecemos os caixotes do lixo, e eles, muitas vezes, nem estão muito longe, mas colocar o que já não tem utilidade no lixo, não parece ser uma tarefa que nos diga respeita, mas é, e aquele papel chamava precisamente a atenção dos que ali passavam para esse tipo de situações, no sentido de as prevenir. É desagradável para quem lá trabalha e para quem lá passa também. Parece que ainda não aprendemos a simples lição de que devemos deixar os locais como os encontramos, antes de situações destas acontecerem, – limpos!
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