Não foi sem um certo espanto que dei com uma das propagandas ligadas à selecção portuguesa referindo-se a ela como se fosse a imagem do povo português. E o tom e o sentido eram o de pedir para mudar a imagem de Portugal. Entre algumas das “qualificações” que teriam de derrubar estava a de povo “preguiçoso”. Preguiçoso?!
O povo português não tem de mostrar nada a ninguém, em primeiro lugar. Depois, os que estão lá fora, os emigrantes, dão o exemplo de povo trabalhador acumulando, por vezes, vários empregos. Por que é que uma selecção de trabalhadores do futebol, uma classe das mais bem pagas neste país, tem de ser a imagem do povo português? São a imagem deles próprios… e só eles têm a lucrar com uma boa exibição. Desde quando o futebol é a imagem do povo português? A maioria do povo lusitano não tem os salários avultados com que são pagos estes trabalhadores. Aqui, desde logo, a imagem não encaixa. Trata-se, portanto, de uma das poucas excepções, neste país. Depois, ainda no desporto, nem todos têm esta qualidade de vida permitida pelos ordenados recebidos ao final do mês. Se escavarmos dentro deste desporto, muitos jogadores, como tantos outros trabalhadores, têm (ou tinham) salários em atraso. Esta é a realidade da maioria das pessoas neste país que nada têm a ver com a selecção a não ser desejar-lhes o melhor nos jogos a realizar. Então, porquê pôr tanta responsabilidade sobre os ombros de uma selecção? Ou será somente esta uma forma indirecta e cobarde de chamar “preguiçoso” ao povo português que se mata a trabalhar durante uma semana em troca de uma miserável remuneração mensal e que, ainda por cima, tem de pagar a crise que lhe é alheia? São as pessoas que estão à frente do país que têm de dar uma boa imagem do país, eles é que têm de fazer bem o trabalho deles! Os outros, os trabalhadores, já o fazem! São eles que criam a riqueza deste país com o seu trabalho. Quanto à selecção, só tem de dar o seu melhor… Que não se espere que os outros façam o trabalho que compete a outros! Cada um tem o seu!
A selecção é só a selecção e nada mais! Se fizerem boa figura é bom para eles e nós só temos de desejar-lhes o melhor. Agora, Portugal não é só a selecção! E o povo português nada tem a ver com o qualificativo “preguiçoso”. Por amor de Deus, mais respeito por quem trabalha!
Nunca me interessei por futebol de clubes, mas sempre segui os jogos das nossas selecções. Chamou-me a atenção a selecção dos juniores, liderada na altura, por Carlos Queirós, que fora nomeado seleccionador nacional, e conseguiu conquistar o mundial na sua categoria, para além de outros também dignos de registo. Foi um trabalho excepcional, conseguido por uma equipa coesa que com bons e esforçados jogadores, que viriam, mais tarde, a distinguir-se como belíssimos jogadores. Esta equipa não foi resultado de um acaso, mas, e ao que parece, de um esforço grande levado a cabo pelo então seleccionador, que percorreu o país de lés-a-lés, visitando todas as partes do país e observando os miúdos em plena prática desportiva, para ter a certeza de que eram os jogadores com as características que procurava. Esse bom trabalho sério teve os resultados que todos conhecemos e de que nos orgulhamos. Este excelente trabalho parece ter terminado com a saída desse homem. O que não se compreende muito bem… parece que algo não está a funcionar. Numa selecção nacional, é suposto estarem os melhores jogadores da sua categoria, o que não se entende são os fracos resultados e o fraco desempenho demonstrado nos jogos frente às selecções estrangeiras. Não se entende nem se pode aceitar. Não é só a imagem dos jogadores no campo desportivo que está em causa, já que Portugal tem decerto verdadeiros talentos à espera de serem descobertos. É também a imagem de Portugal en quanto país que está
Não é novidade nenhuma que vivemos numa sociedade compartimentada: uma coisa de cada vez. O perigo é que estamos a compartimentá-la de tal maneira, que corremos o risco de perder a visão do conjunto. E, se não há visão do conjunto, limitamos as nossas capacidades a um campo curto e estreito, sem sabermos exactamente como nos metemos lá e como podemos de lá sair. O mesmo se passa com os centros de emprego ou com os testes psicotécnicos. Uma pessoa candidata-se a um emprego e mostra as suas habilitações académicas que, quanto mais altas são, menos servem, para além de serem um entrave, por si próprias à descoberta desse mesmo emprego…porque o campo de procura, dentro dessas habilitações, é estreito e curto também. Compreende-se que se queira realizar profissionalmente uma pessoa, até porque, quanto mais uma pessoa estiver realizada naquilo que faz, melhor realiza o seu trabalho… pelo menos teoricamente é assim. O pior é se ela se encontra desempregada e com despesas às quais tem de fazer face… ora, o facto de uma pessoa ter aquelas habilitações, isso não a canaliza necessariamente para aquele ou aqueles trabalhos. Temos de pensar que as pessoas são mais do que as habilitações mostram, elas têm outras capacidades que podem ser exploradas com sucesso para ambas as partes. Por exemplo, se uma pessoa faz um determinado teste psicotécnico, muitas vezes, é encaminhada para lá, pelas suas habilitações académicas, apesar de mostrar abertamente à pessoa que a entrevista, que poderá aceitar outras ofertas de emprego, dentro da mesma empresa. O que é que acontece então? Se a pessoa, por qualquer motivo, não passar o teste, a sua oportunidade de arranjar emprego fica, automaticamente, perdida, porque, se não for uma pessoa conhecida do empregador, que irá tentar colocá-la noutro trabalho dentro da mesma empresa, aquela candidatura fica ali pendente, até conhecer o caminho irreversível do arquivo ou do lixo, para não mais se pensar nela. Há, deste modo, uma quantidade enorme de desempregados, neste país, que não se importariam de realizar outras actividades, porque precisam de ganhar dinheiro, e vêem-se, assim, privados de o fazer. E ainda dizem que há má vontade em aceitar certos trabalhos… (embora eu pense que o que mais assusta as pessoas é a insegurança do emprego, o que gera instabilidade, a todos os níveis!) o que não vou afirmar que não é certo, há exemplos para tudo, claro, o que quero deixar é a ideia de que, tem de dar oportunidades às pessoas, independentemente das suas habilitações ou de testes limitativos. A selecção tem de ser feita, e há que ter um critério para tal, o que não significa que seja sempre o mesmo… haja imaginação para tal. Copiar só o que se faz noutras empresas ou países, não vale. Até porque as cópias não funcionam, pois as realidades, de país para país, são diferentes e, mesmo com adaptações, é preciso conhecer a realidade. Porque é com a realidade de um país que trabalhamos, e nada mais! E, para mais, nada é infalível… A verdade só é absoluta até se descobrir outra que a anula, faz parte da evolução humana.
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