opiniões sobre tudo e sobre nada...
O 25 de Abril... o que a História não conta! (Ao sr. Rui... um obrigado pela confiança!)
Como o 25 de Abril é uma data relativamente próxima, existe muita gente viva que viveu directa ou indirectamente este acontecimento político que mudaria para sempre a vida em Portugal. Todos os portugueses conhecem a versão histórica, os mais novos estudaram-na na escola, mas do que nós nos esquecemos é das histórias dentro da História, vividas pelas pessoas nela implicadas. Tratam-se de histórias contadas por pessoas conhecidas aos conhecidos e amigos, numa mesa de café ou entre colegas no local de trabalho, durante um momento de pausa. Todos os portugueses se congratulam por o 25 de Abril ser uma data que, embora tenha dividido as forças armadas, decorreu sem a violência e a destruição ligada às viragens políticas caracterizadas pela força. Não foi por acaso que tal sucedeu. A história, como vamos ver, é feita de pequenas histórias que contribuem para a construção oficial da História. Quando trabalhamos num local onde há pessoas com várias tarefas, limitamo-nos, por vezes, ver nelas aquilo que fazem, sem nos interrogarmos ou interessarmo-nos por elas como pessoas. Isso aconteceu recentemente comigo e tive uma surpresa muito agradável. Tomava o pequeno-almoço no bar do meu local de trabalho, quando entrou um senhor que eu conhecia só de vista, embora trabalhe no mesmo local que eu, e eu, que não sou nada faladora, entabulei conversa com ele. Foi mais ou menos na altura da comemoração do 25 de Abril. Conta ele que estava no quartel, na camarata a dormir com os colegas, quando um jovem sargento da Força Aérea entra de rompante e grita que houve uma Revolução e que as ordens eram de bombardear a capital. Ora, todos aqueles militares haviam regressado há pouco de comissões mais ou menos longas em diversos pontos do ultramar, nomeadamente da Guiné, de Angola (como era o seu caso), de Moçambique (da zona mais conflituosa), entre outras, e todos eles arcando com memórias de vivências mais ou menos traumatizantes que os marcariam definitivamente para toda a vida, quando uma voz estridente e autoritária os arrancou definitivamente ao sono agitado. O único bombardeamento que houve foi o das botas a sibilarem no ar em direcção ao sargento que se barricou atrás da porta. Várias vozes se levantaram em protesto. Estavam fartos de bombardeamentos e desgraças e exigiam que os deixassem dormir! Já tinham visto muita desgraça para a fazerem na capital do seu país. A Baixa lisboeta teria desaparecido, uma vez que um dos alvos era S. Bento, se não fosse a sensatez e a coragem destes homens já fartos de tanto horror vivido no ultramar! Às vezes, vale a pena não acatar ordens e… esta foi uma delas! Se eles tivessem feito caso destas ordens, o que teria sido deste país?