Lembram-se das manhãs em que nos levantávamos cedo para ir ao pão? Pegávamos no saco branco bordado e dirigíamo-nos à padaria do bairro, com o número das unidades bem memorizado ou com o papel riscado (ajuda aos mais distraídos) à pressa pelos pais que jazia perdido no fundo desse saco? Lembram-se das carcaças também conhecidas por papo-secos? Aquele pão ligeiramente esguio, leve e pequeno, com um vinco ao meio e terminado por duas pequenas pontas redondas, uma de cada lado, com uma côdea levemente dourada e estaladiça, do qual se desprendia um aroma delicioso a pão quente? Sim, esse mesmo. Voltávamos para casa, com o pão agasalhado dentro do saco, e aquele aroma acompanhava-nos, reconfortando-nos a alma. Esperávamos ansiosamente pelo momento de chegar a casa, para pegar numa faca, retirar a manteiga do frigorífico, abri-lo e barrá-lo… que delícia! Lembram-se como as carcaças eram acessíveis à maioria dos bolsos? Já não são mais…
Estava, um dia destes, numa daquelas intermináveis filas, características das grandes superfícies, quando dei por mim a reflectir no preço do pão. Trazia quatro sacos de carcaças, dentro daquelas embalagens plásticas, com uns buracos minúsculos, cada uma com cinco, a 89 cêntimos cada saco… dá 3,56. Isto, na antiga moeda portuguesa, dá 712 escudos. Dei 712 escudos por 20 carcaças! Já o havia pago mais caro - a 98 cêntimos o saco de cinco! Ao que parece desceu. Não percebo muito da política de preços, mas, com a crise financeira instalada, o aumento dos preços e o desemprego são um sinal de fome nos tempos vindouros… se ela não existir já! E com ela o enfraquecimento do corpo e toda a espécie de doenças! Como todos nos cruzamos com todos, as doenças não irão conhecer fronteiras e, tal como na Idade Média, (nem sei porque me lembrei desta época), ela não distingue o pobre do rico. A peste pode ser outra, mas os contornos estão lá. Isto mostra que não evoluímos nada a nível das mentalidades desde os tempo mais remotos! Que rico mundo, estamos a construir! E que tal optar por um não aumento dos preços, este ano, para variar, e não piorar o problema social com que nos debatemos?
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