Há muitos anos atrás, quando se falava do envolvimento dos pais na vida escolar dos filhos, fiquei algo surpreendida mas algo reticente. Havia uma boa intenção por trás da ideia. Não tinha dúvida alguma. As minhas reticências estavam relacionadas com a experiência. Há uns atrás, tive uma turma do 11º ano, técnico-profissional, da qual era directora de turma. Tinha um horário sobretudo matinal e nocturno. Passado um fim-de-semana, quando cheguei à escola, tinha a prateleira das participações relativas à turma, repleta de queixa. Resolvi fazer uma reunião com os pais para tentar resolver o assunto. Uma colega minha ofereceu-se para estar presente enquanto o Presidente do Conselho Executivo se mantinha na escola caso fosse precisa a sua intervenção. Fiquei admirada com a solidariedade demonstrada. Explicaram-me que os pais eram muito difíceis, assim que todo o cuidado era pouco. Não tardei em compreender o seu gesto! Pouco depois de ter recebido os pais, qual não foi o meu espanto, quando percebi que a posição destes não era a tentar resolver a difícil questão comportamental dos filhos, mas a de defender os mesmos! Foi uma reunião cansativa e sem resultados. Não havia permeabilidade da parte dos pais. Quando desci as escadas, o Presidente aproximou-se do fundo das escadas e perguntou-me como tinha corrido. Resumi a questão em poucas palavras: “Os filhos são a cara dos pais e os pais são a cara dos filhos!”
Passado algum tempo, os pais começaram a assistir a algumas reuniões. Ao fim de algumas, haviam pessoas que não estavam satisfeitas. “O que achaste?” – perguntavam-me – “Não ficaste com a impressão de que a mãe estava a defender o filho? Nem estava preocupada com os alunos da turma, só se concentrava no filho!” Concordei.
Passados todos aqueles anos, problema mantém-se. A escola no início do ano alertou para o problema da indisciplina. A própria associação de pais manifestou a sua preocupação. Já na, uma colega avisou-me que a turma era problemática assim como os pais. Não fiz caso. Sempre defendi que a disciplina tem de se impor logo no início, e quando se tem de actuar, tem de ser feito imediatamente e forma exemplar… E conforme os problemas aparecessem, assim se haveriam de resolver. Ainda mal tinha começado o ano, começaram a chover participações nas outras turmas. Fomos obrigados a reunir no final de algumas tardes, e por mais do que uma vez, para tentarmos encontrar estratégias para os problemas. Não deram resultado. Cansada e indignada pensava com os meus botões que os alunos é que se portavam mal e que os professores é que eram os castigados! Resultado: muitos professores evitaram fazer participações ao longo do ano. Já para o fim os problemas agravaram-se. Contactei com alguns Encarregados de Educação de alunos alvos das tímidas participações. Uma Encarregada de Educação colaborou e o educando mudou a sua postura na com a professora em causa. Outros, nem por isso. As participações chegavam, contactava os responsáveis mas sempre em vão. Nada mudava no comportamento dos alunos. Ultimamente, nos contactos com os Encarregados de Educação, as queixas centram-se sempre e invariavelmente nos professores. Uma atacava um professor que faltou, que dera, na sua opinião, pouca matéria afirmando que a filha tinha sido prejudicada na nota. Não devia ser assim! Respondi à indignada senhora que se a filha não dominava a pouca matéria leccionada, muito menos a outra que ficara por leccionar, uma vez que aumentaria a quantidade que a educanda teria de estudar. Um pai, inconformado com os resultados do filho, defendia que não estava preocupado com a possível reprovação do mesmo. Percebi que não era assim. Socialmente, compreendi que era um peso para ele… Outra, cujo filho tem um processo disciplinar, avançou que não deixava acontecer o que acontecera no ano precedente, enquanto o filho lhe chamava a atenção para a justiça do castigo. Uma outra Encarregada de Educação, a trabalhar na mesma escola, levou os filhos, que haviam sido sujeitos a uma falta disciplinar e à consequente saída da sala de aula, ainda antes de terminar os trabalhos que deveriam realizar. Empurrando-os para dentro da sala e retirando à professora a autoridade sobre a ordem dada. Os educandos lá foram entrando na sala, envergonhados. Enfim, depois destes exemplos e das conversas tidas com alguns, percebo que a posição dos pais em nada mudou, ao longo destes anos. A mentalidade mantém-se. Muitos dos Encarregados de Educação da turma, mantêm a mesma posição daqueles que tive de enfrentar há muitos anos atrás…
Este braço de ferro em nada ajuda os alunos e só desgasta os professores! É urgente repensar o papel dos pais na escola!
O meu filho mais velho vai fazer dezoito anos
Olhando para este e outros incidentes que tiveram como protagonistas os meus filhos, sei que o erro enorme cometido há muitos anos atrás, casando com um homem que nada tem a ver comigo, penso nas palavras de algumas colegas de trabalho que me diziam que a maioria das pessoas cometem um erro e emendam-no divorciando-se. No meu caso, e segundo elas, seria mais difícil, e que teria problemas até ao resto da minha vida, dado o ódio dele por mim, ainda por cima não tendo eu nada feito que justificasse aquele sentimento. Nunca lhes contei a minha vida, mas elas sabiam de muita coisa por “alguém” (há sempre um “alguém” nas nossas vidas que sabe mais delas que nós, uma vez que somos sempre as últimas a descobrir). Posso bem conviver com o ódio dele por mim, uma vez que aquele homem nada me diz. O que não consigo tolerar é a falta de sensibilidade que o leva a aproveitar-se da insegurança de um adolescente para o manipular em vez de o proteger como seria sua obrigação de pai. Sempre fez isto. Quem tem pais assim quem precisa de inimigos? Já há muito que desmistifiquei a imagem do pai reduzindo-o à sua imperfeita condição humana. Mas isso não justifica a maldade para com um filho.
Há quem opte por uma e há quem faça as duas. Tudo depende da pessoa. Se as pessoas sabem ensinar e não sabem bem como educar, é bom que optem por não o fazer; se há pessoas que sabem fazer bem as duas, então deverá fazê-lo. Há quem defenda que um bom professor deve fazer as duas. Um dia destes, falei com uma senhora que defendia isto mesmo. Ela própria, durante a sua experiência como professora, desenvolvera as duas áreas. Eu também faço isso, mas sei que tudo depende das pessoas, primeiro que tudo e volto a reiterar que se a pessoa não sabe como educar (entenda-se educar no sentido de ajudar), então deverá restringir-se à área do ensino. E passo a explicar a razão que me leva a defender esta posição.
Um dia, um aluno de CEF veio ter comigo, pedindo a minha atenção para um assunto sério que o afligia e com o qual nitidamente não sabia lidar. Eu ouvi-o serenamente, até à parte em que ele me contou que já falara com outro colega e o que ele lhe aconselhara. Fiquei gelada e revoltada! Se tivesse sido o meu filho? Como é que um professor, ainda por cima de meia-idade, dá um conselho daqueles a um adolescente? Só se for para o prejudicar! Eu, muito pacientemente, fiz umas perguntas ao aluno, no sentido de o fazer entender que ele já sabia a resposta. De facto, sabia. Ele próprio percebeu que o conselho que o professor não lhe tinha dado o melhor conselho. De facto, tinha sido até o pior! Desculpei o professor em causa, evitando colocá-lo numa posição difícil em relação ao aluno, com aquelas desculpas esfarrapadas que encontramos, no sentido de evitar que um novo problema surgisse. Graças a Deus, o rapaz percebera que algo não estava bem naquele conselho e viera ter comigo. Percebi que para dar conselhos, educar, ajudar uma pessoa é preciso amá-la, antes de mais. Este professor, se não sabia ajudar, (e há pessoas que não sabem), deveria ter admitido isso mesmo e ajudá-lo a encontrar alguém que o soubesse fazer. Outros há, porém, que sabem educar/ajudar e fazem-no sem contudo ser entendido pelos progenitores. Há uns dias atrás, uma colega educou/ajudou um aluno a entender que fizera um disparate. Resultado: o pai foi à escola dizer à professora que se limitasse a ensinar que ele estava lá para educar. Pela atitude deste, percebeu-se que o aluno continuou a fazer o que quis e que não foi mais incomodado. Há alturas que, mesmo sabendo educar/ajudar, não vale a pena fazê-lo, porque há alguém que estraga tudo. E logo um pai, que deveria ficar agradecido com a atenção dispensada ao filho…
Há uns tempos atrás, na conversa com um adolescente de 14 anos, ele contava-me que encontrara uma carteira no chão, junto de um canteiro, com cerca de cem euros em notas, quando passeava com quatro amigos. A carteira voltou para o sítio onde a encontraram, juntamente com os documentos, o dinheiro foi repartido por ele e os amigos. Contou a história com a fanfarronice que o caracteriza, gabando-se dela, como se de um acto heróico se tratasse. Fizeram-no sem qualquer problema de consciência: encontraram o dinheiro, era deles. Discordei do seu ponto de vista. Se eles haviam encontrado a carteira, era porque alguém a perdera e o dinheiro pertencia, por direito, ao dono da carteira. Vi a sua atrapalhação. Nunca ninguém o fizera ver o outro lado da questão. Estivera sempre à espera que concordasse com ele, de alguma forma, ou nunca me teria contado nada. Pensara ele na pessoa que perdera a carteira? Na aflição dela? Pensara, por acaso, que ela poderia ter, naquela carteira, o dinheiro para o resto do mês? Pertenceria a carteira a algum reformado, que necessitaria daquele dinheiro para os medicamentos? Porque não a entregaram, ele e os colegas, numa esquadra da polícia, uma vez que a identificação do dono estava nos documentos da carteira? Enfim, criei-lhe uma quantidade de situações, falando-lhe calmamente, que o deixaram algo incomodado. Multipliquei este adolescente por alguns milhares ou mesmo milhões, e tive a percepção do que espera a sociedade daqui a una anos, com filosofias de vida iguais a esta, já que os adolescentes de hoje são o nosso futuro próximo. Ele, e outros adolescentes como ele, consciente ou inconscientemente, estão a ajudar na construção de uma sociedade que alimenta as filosofias do “salve-se quem puder” e da “lei do mais forte” que, aliadas à firme convicção de que os seus procedimentos estão correctos, vão moldar estes adolescentes para sempre. Pede-se, urgentemente, a intervenção dos pais junto destes adolescentes. O pior, é quando os filhos são o retrato vivo dos pais e vice-versa. Neste caso, pouco ou nada se pode fazer. O pouco fiz eu… pelo menos tentei!
Fátima Nascimento
Os elos mais fracos de todas as sociedades são as faixas etárias que não têm ou já perderam a força – as crianças e os idosos. Mas são aquelas, na sua inocência, as maiores vítimas de uma sociedade calculista, violenta e gananciosa que as explora ou as empurra para o buraco da miséria. Talvez o drama das crianças comece nas famílias onde nascem, que não têm condições financeiras para as sustentar, enviar à escola e, enfim, dar-lhes tudo aquilo que elas necessitam financeiramente e não só. A miséria, a olhar pelo que acontece por esse mundo fora, é, em parte, a grande responsável pela insustentável situação de muitas crianças e suas famílias. A miséria financeira, salvo raras excepções, é, em grande parte, responsável pela miséria moral e, as crianças que deveriam ser amadas e protegidas, são, muitas vezes, negligenciadas, vendidas, maltratadas… Numa sociedade onde o dinheiro é essencial à sobrevivência (longe vão os tempos em que, sem dinheiro, se sobrevivia), já que, sem dinheiro, não se faz nada, é fácil de perceber o que poderá acontecer a estas crianças. Muitas vezes, o trabalho infantil, ainda que injusto e ilegal, é um mal menor, uma vez que, e apesar de tudo, a criança/adolescente está a aprender um ofício que lhe poderá ser útil mais tarde, para além de ajudar a magra economia familiar. Depois, numa sociedade onde o trabalho, mal remunerado é o único sustento das famílias, e olhando aos horários esquisitos que por aí há, ainda falam de negligência da parte dos pais. Se não há dinheiro ou possibilidade de os deixar com alguém conhecido ou com familiares, não resta outra alternativa senão deixá-los sozinhos em casa, com todos os perigos que tal situação acarreta. Lembro-me do caso de um amigo meu, cujo único filho, e devido aos horários do casal, passava imenso tempo em casa sozinho e, como diz ele diz, “Graças a Deus, não aconteceu nada!” Mas poderia ter acontecido… e foi isso que ele quis dizer. Ele e a mulher tiveram a sorte que muitos outros pais poderão não ter tido. Mas o problema não fica por aqui, se olharmos por esse mundo fora, onde os objectivos justificam os meios e, quando o objectivo é o vil dinheiro, faz-se de tudo para o conseguir. É então que vemos pessoas sem escrúpulos (e sem trabalho) a vender e a escravizar crianças, de todas as formas e feitios, em todos os países… desenvolvidos, em vias de desenvolvimento ou mesmo do denominado terceiro mundo. Evoluímos tecnologicamente, mas o dinheiro impede que as mentalidades evoluam. Se formos buscar o exemplo da exploração sexual das crianças, todos sabemos que, cada vez mais, e com as denúncias que têm vindo à luz, que atinge até zonas remotas, onde, hipoteticamente, poderíamos encontrar uma espécie de paraíso, encontramos o mesmo inferno. Estou a pensar no último escândalo daquela ilha do Canal da Mancha, onde as escavações puseram a descoberto as provas das denúncias que só há pouco chegaram aos ouvidos certos que deram início à investigação. Olhando para este panorama mundial, poderemos e deveremos questionar-nos sobre a aplicação do “Direitos da Criança” que teimam em não sair do papel. Talvez as soluções passem não só pela criações de cartas como a dos Direitos da Criança mas por uma profunda remodelação social e económica mundial, mas primeiro temos de passar pela reforma das mentalidades. Nunca se ouviu falar tanto destes direitos e assistimos ainda a tantos atentados a eles. Todos os dias, a cada hora, há uma criança maltratada, de alguma forma. Vejamos o caso daquela menina brasileira…Para já, podemos ficar com a ideia que não se pode ajudar as crianças sem ajudar as suas famílias também… Depois, como pode um governo responsabilizar alguém quando ele próprio não consegue criar as condições ideais para acabar com grande parte dos problemas responsáveis pelo mal estar infantil? Não há soluções para este problema assim como não os há para outros, porque toda agente pensa nas soluções dentro da sociedade tal como está estruturada e não passa por aí… nem nunca passará! Há que pensar
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