O Natal é um período mágico. Nele se diluem todos os medos, todas as preocupações, todas as raivas, todos os ódios… Vive-se um clima de harmonia excepcional exclusiva desta época. A pessoa concentra-se exclusivamente nas festas que se avizinham, na comida, nas prendas, na família… mas há um sentimento morno no ar, que nada tem a ver com a coluna quente de fumo que se desprende da boca do assador das últimas castanhas da época. Os traços faciais estão mais diluídos e o rosto parece emitir uma luz que vem da alma. Há uma inevitável esperança que preenche os espíritos das pessoas com que nos cruzamos na rua. Mesmo vivendo momentos difíceis, que ameaçam prolongar-se por uns bons longos anos, as pessoas necessitam de viver este momento, que lhes dará o ânimo que irá sendo carcomido pelos bichos da incerteza e da instabilidade, ao longo do ano que se aproxima. Esse estado de espírito começa a desvanecer-se logo a seguir ao dia de Natal. As notícias, que preenchem os ecrãs, anunciam um ano problemático cheio de aumentos e desemprego, enfim… anunciam aquilo que todos já sabemos mas nos recusamos a encarar, porque não queremos perder esse estado de graça, com que somos agraciados nesta excepcional época – não existe abismo nenhum entre o novo ano e o precedente, mas uma simples continuação. As pessoas acordam do seu curto estado de graça, para enfrentarem novos e velhos problemas do país que não tem pessoas capazes de lidar com as situações criadas interna e externamente. As velhas soluções servem para tapar os velhos novos problemas existentes. Sim, porque dentro do sistema capitalista, os problemas repetem-se e, enquanto dermos mais importância ao dinheiro que às pessoas, menos soluções possíveis encontramos para ele. A dura realidade faz renascer os receios que ameaçam corroer o sentimento harmonioso que preenche as esfomeadas almas, desequilibrando-as e ameaçando-as novamente com o fosso do desânimo, para onde, invariavelmente, somos projectados, ano após ano. Sim, não se fecha nenhum ciclo (como gostamos de pensar) antes se continua o que estivemos durante um ano (e mais!) a percorrer. Somos, aliás, uma consequência dele.
Ainda me lembro do tempo em que esta palavra representava uma ideia temerosa para os idosos, uma vez que estes ainda estavam habituados à ideia de serem cuidados pelos seus descendentes directos, geralmente os filhos, quando os havia. Foi quando começaram a aparecer em massa… Lembro-me da forma como eram encarados pelos mais e menos novos. Para os mais novos, a ideia do lar representava um alívio para aqueles que, ainda que quisessem, não podiam tratar dos seus familiares idosos mais próximos, pelas mais diversas razões; para os mais idosos, o lar representava o fim da vida, com tudo o que de mau isso acarretava, em termos de saúde e de mudanças nas suas vidas – os lares representavam o local onde passariam o resto dos seus dias, longe de tudo aquilo que um dia fora o seu lar. Quanto mais novos e autónomos são, mais difícil a adaptação… os outros, aqueles cuja saúde precária os limita a uma cama ou uma cadeira de rodas, para esses tanto dá… (ou quase!), o sítio onde estão, uma vez que, desde que sejam estimados e tratados como deve ser, pouco mais pedem. Contudo os lares, ainda que tenham um espaço acolhedor e amplo, adaptado às mais diversas necessidades, não devem ser encarados única e simplesmente como armazéns de idosos, onde estes passam sossegadamente os seus últimos tempos, até chegar o dia decisivo. Os lares da 3ª idade precisam de muito mais do que aquilo que muitos presentemente oferecem. É terrível ver como estes idosos passam o seu tempo a olhar para uma televisão com o som baixo, pelo que acabam por dormitar, misturados com outros com doenças do foro psicológico e psíquico que passam os dias agitados (falando sem parar!), esperando impacientemente as horas das refeições, que são das poucas onde se adivinha algum movimento…
Falo de entretenimento ou diversão, o que ajudaria os idosos a passar o tempo de forma mais agradável e enriquecedora… (os animadores culturais poderiam fazer muito por eles, nestes lares, sobretudo com aqueles que ainda mantêm a sua sanidade mental e se vão mexendo razoavelmente.) Não falarei das visitas que se poderiam organizar, perto da instituição, limitar-me-ei a dar exemplos de actividades que se poderiam organizar dentro dos próprios lares e que fariam toda a diferença – um simples baralho de cartas e outros jogos, a recepção dos jornais e/ou revistas que eles pudessem ler (semanários ou diários), a organização de uma pequena biblioteca ou sala de vídeo, onde pudessem visionar um filme português e outros, a música ambiente, organização de jogos que os ajudassem a manter a sua lucidez, um espaço para a franca troca de impressões sobre as suas vidas e as suas vivências, um local onde se possam dedicar à jardinagem, ou outras actividades fora das paredes dos lares, o intercâmbio com as escolas, onde alunos e velhotes podem trocar experiências, (eu fiz isto no âmbito da disciplina de Formação Cívica e deu muito bom resultado!), enfim… tudo aquilo que pode fazer de um lar, um verdadeiro Lar. É isto, quanto a mim, que falta nestas instituições. Não isolem os idosos do mundo cá de fora…Não façam dos lares uma antecâmara da morte!
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