Às vezes, passa-se a ideia de que os trabalhadores portugueses são preguiçosos e não querem trabalhar preferindo viver de subsídios… Deixo aqui a história de uma jovem que já conheceu os espinhos da alegria de ter trabalho. Jamais escreveria este texto se não se desse o caso de a conhecer de há muito…
É jovem. Trabalha por turnos. Vive num quarto. Divide despesas num apartamento. Ganha pouco. Trabalha muito. O dinheiro não dá para tudo. Está a pensar acumular empregos para fazer face às simples despesas mensais. Se juntarmos a isto, o mau ambiente criado por alguns superiores… temos o quadro completo! O quadro infernal dos nossos dias!
Numa loja, como tantas outras de uma grande cidade, há duas empregadas. A colega com um cargo superior, com acusações imaginárias que ligam a jovem ao patrão, e com uma vingança sórdida que consiste em deixar a jovem sozinha no horário de maior afluência. Como a subordinada se desembaraçasse, e não se sentindo satisfeita, esta, ao fazer a escalas dos turnos, retirava-lhe ou trocava-lhe muitas das folgas a que tinha direito. A situação chegou ao ponto da empregada ser acusada pela falta de dinheiro na caixa, e ver-se obrigada a pagar sem provas de que tivesse sido ela. A solução encontrada para tanta perseguição implacável foi conseguir trocar de loja após confronto com o gerente e a proposta de demissão. A partir de aí, confessa-se aliviada e satisfeita. O gerente da nova loja é boa pessoa e a subgerente também, e os horários melhores.
Sempre conheci esta moça como um ser humano trabalhador, inteligente, justo, sincero, equilibrado e frontal. O que a faz explodir de raiva agora? A atitude errada de alguns colegas pertencentes a outras nacionalidades. Se multiplicarmos estes casos por muitos, podemos dizer que há certas pessoas pertencentes a certas culturas e nacionalidades que estão a deixar os seus pares mal vistos, arriscando-se a uma má vontade sem precedentes neste país. E Portugal, embora tenha casos de racismo, estes não são uma notícia vulgar. (Mas também não saberia deste, se não mo tivessem contado.) O problema deste país é que se encobre muito, de forma a dar uma ideia boa do mesmo que, no final de contas, não corresponde à realidade. E todos têm a tendência a sofrer sozinhos. Nada mais errado! Ora, por certo que há mais casos e têm de ser denunciados e tratados para evitar que a má vontade se generalize. Quando ouço uma pessoa como ela dizer que Portugal tem de seguir o exemplo de outros países europeus que se fecharam aos estrangeiros, uns de uma forma mais explícita e outros de forma mais discreta. Quando a oiço dizer que está “farta de sofrer descriminação no seu próprio país efectuada por pessoas que não pertencem aqui”… já atingimos um ponto em que ou as coisas mudam ou a revolta será generalizada.
Vamos a um exemplo para se perceber melhor. O que é melhor, tratar uma ferida quando ainda está fresca ou devemos deixá-la infectar e alastrar-se? O mesmo se passa com estas situações: deverão resolver-se já ou deixar-se arrastar até estas se tornarem em má vontade irracional com todos os perigos que esta arrasta?
Os portugueses são pessoas de brandos costumes. São conhecidos como tal. Mas até para estes há um limite! Não vamos generalizar e dizer que todos se assemelham às pessoas mencionadas atrás, pessoas cujas atitudes deixam muito a desejar, mas as vozes vão-se multiplicando e a saturação gera sentimentos de intolerância localizada ou generalizada. Repito que enquanto os focos forem tratados localmente, ainda há esperança, quando se generalizar (cada amigo tem um amigo que conta a outro amigo) poderá ser tarde de mais! E este povo de brandos costumes poderá mostrar, ao invés, os seus “instintos mais ferozes ” e das mais diversas formas.
E quem deseja uma situação destas em que só as minorias têm a perder?
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