Há portugueses que me fazem orgulhar de ser quem sou. Portugueses anónimos que se afastaram cedo do país em busca de uma vida melhor. Não há nada de extraordinário nisto que mereça atenção, não fosse a reportagem lida numa revista semanal que deu a conhecer uma pessoa extraordinariamente inteligente. Há muito tempo radicado na África do Sul, este homem fez muito por aquele país – criou riqueza e empregos. Não negando as suas origens portuguesas, este homem que poderia ter outra qualquer nacionalidade, dá excepcional prova de inteligência e generosidade. O que para alguns poderia ser motivo de problema, ele encara como um desafio ultrapassado. Foi obrigado a dar 30% da sociedade a dois negros que quase nunca aparecem na empresa mas não se enfurece nem desanima, antes pelo contrário, uma vez que, para ele, “liderança não é posição, é acção”. É dono de um património considerável mas, nem assim se tornou ganancioso ou implacável. Está a expandir-se para América Latina, mas não parece preocupado com a situação na África do Sul de onde se recusa a retirar o seu dinheiro. “A terra que o dá é a terra que o leva”. Quando estamos num mundo onde a ganância leva à fuga de capital e aos impostos, por pessoas sem escrúpulos, escolhendo paraísos fiscais para colocarem o seu dinheiro, este homem dá provas de um carácter extraordinário. Não é sul-africano mas a gratidão com que premeia este país por lhe ter dado a oportunidade de construir o seu império, recusando-se a retirar o seu dinheiro de lá, ainda que à cautela, mostra um ser muito superior à maioria que circula no meio negocial e até fora dele. Veio do nada, mas não renega as suas origens, revelando-se apenas um ser aberto a todos os desafios e com o espírito necessário para os ultrapassar, sem medo. Confia nesta terra de oportunidades independentemente do que o futuro lhe reserve. Não há cidadão mais universal do que este que sabe repartir os seus sentimentos e o seu respeito por todas as partes por onde passa. E não deixa de ter sucesso por ser assim! São pessoas destas que nos fazem orgulhar de sermos quem somos. São pessoas assim que fazem o mundo girar de uma forma mais saudável. São pessoas destas que ajudam a criar um mundo melhor.
Lia, um dia destes, uma curiosa e interessante entrevista ao escritor espanhol Juan Manuel Prada, aquando do lançamento do seu último romance “O Sétimo Véu”. Esta seria mais uma entrevista normal, se não fossem algumas passagens interessantes que me fizeram pensar. O enredo do seu romance, segundo as suas palavras, passa-se durante a Segunda guerra Mundial, e faz uma incursão pela ocupação e consequente Resistência francesa. Uma das passagens interessantes desta entrevista tem a ver com toda a investigação realizada pelo autor sobre aquela época em que ele fala das dificuldades encontradas. Diz o autor, e passo a citar, que “…enquanto me documentava sobre a época, dei-me conta de que muitas das noções históricas que temos estavam mitificadas, falsificadas. Por exemplo, temos uma noção romantizada da Resistência francesa. E o livro converteu-se em algo mais: numa reflexão sobre o heroísmo, a memória, a identidade. Num discurso sobre a dificuldade de avaliar o passado e enfrentar a verdade. Creio que as nações europeias tenderam a mitificar ou idealizar o seu passado.” Mais à frente acrescenta que “A escritora russa judia Irene Némirovski contou,
Mais do que as minhas reflexões, esta entrevista é toda ela muito importante pelas questões que deixa no ar, (e todos nós que saboreamos a História, não nos limitando a engoli-la, já demos por alguns factos que não estão explicados, isto é, cujas causas se desconhecem. Por exemplo, como é que a França, no final dos anos 30, e com o armamento já desenvolvido, ainda confiava na Linha Maginot? E nós apercebemo-nos dessa lacuna).
Já não é a primeira vez que leio uma apreciação destas. Um índio norte-americano falava da nossa história como uma versão da mesma e não a verídica. Há muitos autores que defendem que a História não é mais do que a versão dos vencedores. Assim sendo, a História não poderá ser considerada uma ciência pela falta de rigor. Assim sendo, corremos muitos riscos… E a quem interessará esta História mutilada, mascarada? Não aos povos, não às nações… nem favorece a própria História. O que é a História? Ela não é mais do que a memória dos povos, não a memória conjunta mas a soma das memórias individuais. As memórias das suas vivências boas e más. Tudo tem de ser estudado sem excepção, não há que ter medos ou vergonhas, há que enfrentar esses momentos maus, pensar sobre eles e aprender com os mesmos. Só assim a Humanidade avança verdadeiramente! Só a verdade contribui para o engrandecimento do Homem e das Nações. E a França é uma grande nação e a Verdade só poderá contribuir para a engrandecer ainda mais. E há que engrandecer a própria História, enquanto ciência, numa era como a que vivemos em que há pessoas que afirmam, (não sei em que é que se baseiam) que certos aspectos da História não aconteceram, que são mentira. Agora, mais do que nunca, é preciso estudar tudo a fundo e trazer tudo a lume, para que, no futuro, essa Verdade não venha a ser mal utilizada ou sequer questionada. Porque, ao contrário daquilo que se pensa, poder-se-á esconder a Verdade por muito tempo, mas não para sempre. A verdade acaba sempre por triunfar e que com ela triunfe a verdade. É para isso que serve a Literatura também – para abrir caminhos que ainda não se teve coragem de encetar. Quando a França, de uma forma mais serena, puder avaliar as suas feridas e trazê-las à luz do sol, a História da Humanidade trará um grande contributo não só à História do seu País mas também à da Humanidade.
Há algum corajoso que se queira aventurar a estudar, de forma isenta, este campo ainda mal explorado em França?
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