Sempre detestei venenos fossem de que natureza fossem. Ainda mais quando em casa tinha uma criança pequena e animais domésticos. Vendo os perigos que estes constituem para os próprios seres humanos, ainda pior.
Estamos a sofrer já o abuso do uso indiscriminado dos venenos. Não sei se todos têm consciência disso ou se ainda há quem os use. As mentalidades custam a mudar. Se as pessoas estão habituadas a resolver um problema de uma certa maneira, continuam a fazê-lo sem se questionarem. Um dia destes vi um senhor a matar as ervas do passeio com um pulverizador. Imaginei imediatamente a água da chuva a varrer aquele veneno para os esgotos e dali para os rios e finalmente para o mar onde todos tomamos banho no verão. Só estou a falar dos venenos caseiros, já não falo dos outros tipos de veneno (que os há!).
Ainda nas hortas ou nos jardins se usam para combater as doenças das plantas. Mas estes venenos matam tudo, sobretudo os insectos polinizadores tão importantes na natureza. Ou por exemplo aquele usado para prolongar a vida das batatas guardadas ou para matar ratos…
Esquecemo-nos que o que mata insectos e outros animais mata o ser humano de uma forma mais ou menos rápida. Somos apenas um animal mais neste grande jardim – chamado natureza - que é a nossa casa. Não há outra! O mal que lhe fazemos, fazemo-lo a nós mesmos de uma forma mais ou menos directa. Talvez por isso haja tanta doença que nem os médicos conseguem perceber… será talvez o veneno a matar o organismo de uma forma lenta?
Posso exemplificar com o que acontece nas grandes plantações. Depois de serem pulverizadas com pesticidas/insecticidas, a água da chuva leva o veneno para os lençóis de água subterrâneos impossibilitando as pessoas de usar essa água no consumo caseiro. O mesmo será dizer que não se pode beber. Só utilizar-se na limpeza ou na lavagem da roupa. E não sei qual será o resultado desse uso.
Mas essa utilização não é de agora. Lembro-me de visitar hortas e pomares de familiares e ser sempre avisada para não comer nada sem lavar a fruta primeiro.
Agora em casa, estou a ter um problema com um enxame de moscas bebés que não sei de onde vêm. Poderia pulverizar toda a área com veneno, fechar tudo e esperar. Não o faço. Estou, noite após noite, a combater essa praga (melgas?) contando com umas aliadas inesperadas – as formigas. Nalgumas noites, a minha mesa-de-cabeceira enche-se do ruído de asas logo acompanhado pelo exército daqueles pequenos seres incansáveis que as combatem tenazmente, sem tréguas, com a ajuda também preciosa dos aranhões. E durante umas noites a situação acalma-se para logo renascer do nada. E recomeça tudo. A paciência é essencial aqui.
As formigas este verão são também visitantes assíduas e algo irritantes. Eram até perceber a sua utilidade. São agentes de limpeza naturais com uma eficácia surpreendente. Em poucas horas limpam tudo e… desaparecem! Aprendi as respeitá-las quando vi um pequeno ser levantar um pedaço três vezes maior que ele. Aprendi também que na natureza temos aliados valiosos que desprezamos com a nossa mania da limpeza levada ao extremo.
Aqui há uns anos falava disto mesmo a alguns alunos meus e percebi a pouca abertura a esta maneira de pensar. Enquanto alguns (poucos) concordavam e se admiravam com este modo de raciocinar, outros estranhavam e até se revoltavam com a ideia.
Por aqui vemos que as mentalidades são o mais difícil de mudar se não nos habituamos a pensar sobre aquilo que nos ensinam. E é o que se passa. Ensinam-nos algo e tomamos isso como uma verdade inquestionável o que torna a mudança de mentalidades sempre mais difícil.
Mas o tempo urge e é cada vez mais importante que todos comecemos a olhar à nossa volta e a pensar sobre o que está mal criando assim todas as condições necessárias para a mudança de postura frente à natureza da qual somos apenas mais um elemento.
Voltei agora mesmo do hospital com a minha filha do meio. Na semana anterior, já lá estivera com a minha mais nova. Provavelmente, na próxima terei de lá voltar com mais velho. O mesmo problema de saúde, originado pelo mesmo animal microscópico que o ser humano ainda não consegue combater eficazmente. Nem nos lembramos dele! Talvez devido ao tamanho – não se vê! As pessoas, habitualmente, não se incomodam com aquilo que não vêem ou não se apercebem. Também só quando são atacadas por ele é que lhe dão importância. Como é que seres vivos tão pequeninos conseguem fazer tanto mal? Chegam mesmo a matar! E quando não é o responsável directo pela morte, a sua forte contribuição está lá. Mais um batalhão de comprimidos, neles incluído o antibiótico, para ajudar o corpo a expulsar o dito ser que vive só para matar. É talvez o maior predador do ser humano, acarretando um palmarés de mortes que ainda não foi suplantado por nenhum outro. Ao passar um olhar histórico pelos séculos anteriores, damos conta disso mesmo. Para mim, o vírus é um animal esperto, para o mal, mas é. A prova está na sua capacidade de adaptação e de tomar várias formas para resistir e ultrapassar toda a forma de combate que o ser humano lhe faz, tentando escapar à morte que lhe está destinada e votando ele mesmo esse ser onde se hospeda a esse fim a que tenta safar-se. Houve alguém, no início do século anterior, que votou a sua vida à procura de um meio capaz de livrar muitas pessoas da morte provocada por ele. E o antibiótico é, sem dúvida, a grande descoberta de todos os séculos, a nível científico, que alguma vez foi feita pelo ser humano, embora não mate o vírus, só ajuda o corpo a expulsá-lo. É, pelo menos, aquela a que devemos estar mais gratos, pelas vidas que já salvou! O problema é que parece que nada evolui no sentido de se criarem novos meios de combater eficazmente este ser ou usá-lo no sentido de salvar vidas. Já se faz isso com as vacinas. Mas o maior problema está em não se ver nele a maior ameaça à vida humana. E se mudamos a página de um século em que o antibiótico já não é eficaz e não temos nada para o substituir? Temos armas capazes de destruir a vida humana em poucos minutos, mas não temos nada que mate um vírus, ainda. Talvez os cientistas precisem de autonomia para trabalhar, no sentido de dar azo a toda uma procura científica capaz de se centrar num problema urgente, em vez de endividarem esforços em campos que em nada ajudam ou dignificam a evolução humana.
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