Que a mesquinhez grassa no mundo já ninguém duvida uma vez que as pessoas mesquinhas proliferam como as ervas daninhas. Assim, não será difícil encontrarmos histórias que ilustrem essa mesquinhez e as consequências da mesma. A mesquinhez não é, em princípio, um fim em si mesma mas um meio para atacar ou prejudicar de alguma forma alguém. Tenho uma história de pessoas mesquinhas. Conheci uma senhora que, para além de colega de uma outra escola, era também vizinha. Aproveitando-se da sua capacidade de manipulação, envolveu dois miúdos na consecução de um plano bem arquitectado. Sabendo que, como pessoa, estimulava a leitura nos miúdos e que nunca recusaria um livro a uma criança, pediu a uma miúda, que estava a passar férias em casa de uns parentes vizinhos que me pedisse alguns livros emprestados. A miúda pediu-me os livros dos cinco que eu tinha comprado com o dinheiro que eu poupava das minhas magras mesadas. Eu estranhei que ela conseguisse ler tudo de uma vez. Convidei-a a levar a levar um de cada vez. Insistiu que lia tudo num instante. Acedi após muita insistência. A minha filha mais e o meu filho preveniram-me que não a achavam grande leitora. Mais tarde, essa colega, à laia de boazinha, contou-me que os livros tinham ficado esquecidos em cima do passeio e que a filha mais nova tinha feito o favor de os levar para casa. Ora, só que os levou para a casa errada. Devia tê-los entregue na minha! E da sua casa nunca mais sairiam! Desculpas sucessivas de esquecimento, aparentemente leais, foram-se repetindo para chegar à conclusão de que queriam ficar com os meus livros. E não por serem pobrezinhos! Comecei a juntar as peças do puzzle e descobri a artimanha. Fiquei furiosa! Mais tarde, o primo da miúda que me havia pedido os livros andava a jogar à bola com o meu filho e outro vizinho e a bola ia sucessivamente para ao eucaliptal. Só que, da última vez que lá foi parar, ela veio rota. Tinha sido chutada pelo meu filho. O rapaz não parava de pedir o dinheiro da bola ao meu filho. Chegando mesmo a ameaçá-lo indirectamente. Perdi a paciência e disse-lhe que chamasse o miúdo. Disse-lhe que lhe dava o dinheiro da bola quando ele me trouxesse os livros que haviam sido emprestados por mim à prima dele. Abriu a boca espantado. Mas tinha sido a prima não tinha sido ele! Estava à responsabilidade dele e da sua família uma vez que estava a passar férias em casa dele. Era a ele e à sua família que tinha de pedir contas!
“A minha prima nem gosta de ler!”, afirmou. Foi aqui que tive a certeza absoluta do que acontecera! Percebi que era impensável pedir os livros à mulher por quem se deixara manipular mais a prima! Não envolvera as filhas, envolvera os filhos de terceiros para se desvincular e aos seus de qualquer pista que os implicasse directamente. Não sei quanto à miúda que nunca mais vi, mas enquanto ao rapaz acho que não se vai meter noutra! Serviu-lhe de lição! Nem vai poder confessar jamais o que aconteceu, uma vez que a mulher manipuladora e as filhas lhe caem logo em cima! Só sei que o esquema é estar à espera que um dia eu seja famosa, para poderem vender aquela cerca de meia-dúzia de livros da colecção dos cinco porque têm a minha assinatura de quando andava no ciclo preparatório! Vai ter de esperar algumas gerações até o conseguir depois desta denúncia! Mas vai haver sempre, um dia, mesmo conhecendo esta história, alguém que não vai ter escrúpulos e vai comprar os ditos livros, sem conseguir resistir à tentação de ter um livro com essa assinatura! A roda da vida movimenta-se mas as pessoas continuarão na mesma! Percebendo como funciona aquela mulher, consigo imaginar a forma como os atraiu à armadilha: com desafio à laia de brincadeira! E é esta mulher professora!
Há três meses atrás, fiz uma visita de estudo aquando da formação que realizei em Empreendedorismo no Turismo. Fomos a Tomar visitar alguns dos locais mais emblemáticos desta localidade: Convento de Cristo (onde tivemos a oportunidade de sermos acompanhados por uma senhora ligada àquele monumento, já faz muitos anos, e que nos deu uma óptima visão de todo o historial daquele edifício tão belo e imponente), a Sinagoga, onde pudemos entrar em contacto, de uma forma mais directa, com a realidade daquela religião tão irmã como é a judaica, a Igreja de S. João Baptista (que se encontrava encerrada) e a Mata dos Sete Montes que me pareceu um pouco votada ao abandono. Ainda na visita realizada ao convento de Cristo, a senhora que nos recebeu e acompanhou, respondeu a algumas questões colocadas pelo formador, sobre os recentes achados arqueológicos, mesmo ao lado do cemitério actual. Depois de termos cumprido integralmente o roteiro escalonado, ainda tínhamos algum tempo livre que aproveitámos cada um à sua maneira. Eu, o formador e dois colegas resolvemos aproximar-nos daqueles achados que tanto apelavam à nossa curiosidade e ao nosso coração. Fomos a pé, debaixo de um sol impiedoso e sufocante, combinando a desculpa a dar, caso fôssemos abordados por alguém. Visitámos a igreja do local, que eu sempre encontrara fechada e que, havia muitos anos, e após várias tentativas falhadas, desistira já de conhecer. Junto dessa igreja, estavam a realizar-se escavações que punham em estado de sítio as imediações da mesma. Deslocámo-nos com cuidado e aproveitámos para interrogar as pessoas directamente ligadas àquele achado. Trata-se de um cemitério medieval e vários túmulos estavam a ser escavados, na tentativa de se conhecer mais sobre aquela época. É, tanto quanto pude constatar, um achado importante que se estendia para lá das imediações daquela igreja. As estradas que se construíam à volta, limitavam aquele local outrora sagrado, ameaçando tapá-lo para sempre. Foi com emoção que vimos aquelas ossadas de antepassados nossos, descobertos. À frente do projecto, e nas imediações da igreja de Santa Maria, encontravam-se, salvo erro, dois arqueólogos, e o resto do pessoal, tanto quanto pude averiguar, era miúdos contratados, sem grande preparação, e o que era mais curioso, era a incessante pergunta sobre a hora de saída. Via-se que não estavam muito motivados, e a culpa não é deles. Vi, horrorizada, algumas ossadas serem inutilmente destruídas, embora tentasse avisar que, naquela altura, a ferramenta utilizada não era a adequada. Inútil ou demasiado tarde! Já faz tempo que deixei o curso de arqueologia, trocando-o por outro… mas, pelo que vi, quase nada mudou! Aqui o aspecto positivo a realçar, é o interesse suscitado que levou as autoridades locais a chamar os cientistas para que pudessem averiguar a importância dos achados. Até o acolhimento às pessoas de fora, não esqueçamos que o património é de todos e tem de se cultivar na população o amor por estes achados, não foi a melhor, por parte daqueles que lá trabalhavam, ligados ou não aos achados. Será que este país nunca mais acorda? Será que nunca mais se aprende a fazer as coisas correctamente? Medo? Não se vai a lugar nenhum sentindo medo por este ou aquele motivo…
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