Como sobreviver contornando as livrarias tão pesadas com obras que fazem as mesmas passar despercebidas.
Conheci dois poetas, há algum tempo atrás, que decidiram as suas vidas! Como tivessem dado com uma editora que nada fazia quanto ao escoamento dos seus livros, resolveram eles próprios deitar mãos à obra. Assim, e com protocolos firmados com os municípios, percorrem o mapa nacional, aos fins-de-semana, levando a cultura aos mais diversos pontos do país – a sua cultura! E como não poderia deixar de ser, têm bastante clientela porque o produto tem qualidade. Assim, e não correndo o risco de me enganar, são capazes de vender tanto como alguns autores conceituados e sempre tão divulgados pelos meios de comunicação social que rodam basicamente, e ao que parece, à volta de três ou quatro nomes. Eles fazem a sua própria publicidade, vamos utilizar um termo mais nobre (embora saiba que a nobreza reside no carácter das pessoas ao serviço das mais diversas funções) relações públicas, levando até ao leitor a sua obra, conversando sobre poesia e lendo os seus próprios textos. Assim, e como já devem ter entendido, eles não estão a enganar ninguém. As pessoas só compram se gostarem do que ouvem. Eles são os próprios críticos das obras cujos trechos puderam escutar e avaliar. E, depois de um serão bem passado, passam aos autógrafos e venda das obras. São comerciantes dos seus próprios “produtos” recebendo o dinheiro empatado na editora e acabando mesmo por ter algum lucro que cobre as despesas de deslocação e não só. Depois, o reconhecimento e a divulgação da obra expande-se pelo meio de comunicação mais antigo existente na terra – a publicidade boca a boca – e se, naquele serão, estiveram só cinquenta pessoas, no próximo estarão já oitenta ou mais, porque os presentes levam outros consigo! É uma forma original de se trabalhar neste país, onde, se queremos ver alguma coisa feita, temos de ser nós a realizá-la ou, se estivermos à espera, seja do que for, não fazemos absolutamente nada! Eles auto-promovem-se junto da população dos mais diversos concelhos e são respeitados enquanto autores. Vão ao encontro da população, enquanto que, alguns autores, no seu desinteresse ou vaidade ou até impossibilidade, esperam e querem que seja a população a ir até eles! É um esforço de louvar! Há alguma humildade, pelo menos aparentemente. Já espalhei a ideia e mais autores se mostraram disponíveis para fazer o mesmo! É uma ideia útil para quem quer recuperar o dinheiro investido. Desenganem-se aqueles que pensam que todo o autor editado o faz de forma gratuita. Isso só acontece com alguns! Muito poucos! As livrarias estão mais interessadas, e algumas editoras, na venda de produtos cuja triagem já foi feita noutros países, do que investir nos seus conterrâneos. Só aqueles que conseguiram sair do anonimato, têm ligar fixo nas prateleiras. Os outros ocupam a fila das prateleiras electrónicas. Mas a ideia parece ter pegado! Às vezes, é preciso só dar as ideias às pessoas, elas logo decidem o que querem fazer.
Projecto Alexandra Solnado
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