opiniões sobre tudo e sobre nada...

Quinta-feira, 29 de Janeiro de 2009
Ainda as palavras do comandante Marcos

Há algum tempo atrás, li uma entrevista do comandante Marcos, onde ele alertava para os perigos da globalização e da nova fórmula política. Esta em nada irá modificar, como é de esperar, a ordem já estabelecida, irá agravar antes alguns problemas já existentes. O ocidente, e a sua cultura, imposta ao resto do mundo, não tem soluções, porque não existe vontade. Os dirigentes nada mais fazem do que perpetuar os sistemas herdados. E têm pessoas a trabalhar para eles, justificando os seus actos que são os intelectuais. Ele tem razão. As soluções passariam por uma nova sociedade mais justa e igualitária. Não há, na filosofia ocidental, capacidade para fazer essa transformação, nem vontade. Só evoluímos tecnologicamente. Mas serão todos assim? Estarão todas as pessoas tão afundadas nestes sistemas que não consigam pensar em soluções alternativas? Talvez não haja pessoas capazes de pensar em alternativas fora dos sistemas conhecidos (devem existir!), mas elas sabem o que está bem e mal. E há pessoas de boa vontade, e pessoas boas, que sabem bem o tipo de sociedade que gostariam de construir. Só que os parâmetros são pobres. E são-nos dados pela História que estudamos. Pouco ou nada sabemos das sociedades diferentes que existem neste mundo e que nada têm a ver com aquelas em que vivemos e que desenvolvemos. Se não estamos contentes com este modelo de sociedade, talvez devêssemos procurar outros. A América tem uma herança fantástica nesse sentido. Não falo das grandes civilizações que deixaram grandes monumentos. E estou a lembrar-me do filme do Mel Gibson, Apocalypto, que mostra a inteligência da personagem índia que se afastou dos estranhos barcos que acabavam de chegar à praia. Já cansado da escravidão vivida, resolve desaparecer, juntamente com a sua família, perdendo-se no interior da selva, onde encontraria a dignidade e a liberdade tão necessárias à vida. Se olharmos às sociedades tribais da América do Sul, especialmente as da floresta da Amazónia, damo-nos conta do bem-estar aí vivido e que nada têm a ver com a aquela em que vivemos. Onde todos são iguais, com um peso igual nas relações.  Ali, ninguém vive com medo do seu semelhante. Há outros exemplos históricos bem sucedidos e que não são estudados na História, só quem pesquisa encontra essa informação. Todas elas representam modelos de sociedades alternativas que poderíamos seguir. Lembro-me particularmente do Paraguai, há séculos atrás, onde tudo quanto se produzia era para o bem de toda a comunidade, contemplando todos sem excepção. É mais estes modelos que deveríamos seguir. É disto que fala o comandante Marcos e é por isto que ele tem de se bater, junto da população, mostrando-lhes que há alternativas, herdadas de sociedades antigas, com as quais podemos e devemos aprender. E se não as pudermos seguir exactamente, pelo menos a sua filosofia. Não se pode só combater o que está mal, tem de se apresentar alternativas às pessoas. Ele é um bom veículo, dependendo do que ele quer fazer...



publicado por fatimanascimento às 19:39
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Domingo, 25 de Maio de 2008
A máscara e a política

 

Ao subcomandante Marcos

 

Se olharmos para trás, não é a primeira vez que um herói popular usa máscara. Estou a lembrar-me do famoso Zorro, que, para fazer justiça, a tinha de utilizar, para se defender dos seus inúmeros e poderosos inimigos. E sabemos como esta figura lendária é famosa não só no seu país, como também além fronteiras, para se tornar numa figura lendária mundial, pela justiça dos seus ideais, que aquecem a imaginação, a esperança e a vontade de criar uma sociedade mais justa, onde todos possam ser iguais e felizes. O mundo, tal como nós o conhecemos, com todos os seus defeitos e qualidades, já se vem arrastando assim, desde os primórdios da civilização, o que mostra que nada ou quase nada evoluímos desde então, em termos de mentalidade. Há como que uma força que o puxa para trás, quando se dá uma brecha no muro da ordem ancestral. Uma curiosidade é o que se passa nos países latino-americanos, onde o povo parece permanecer um pouco ao lado do fenómeno político, olhando, antes, para o lado e observando cruamente a sua miséria e a dos seus vizinhos. São estes que lutam, à sua maneira, por uma vida que a política teima em lhes recusar, talvez por ter perdido esses ideais, talvez por os ignorar. São estes heróis anónimos, sem cor política, que, mais tarde ou mais cedo, conhecem a prisão, por reivindicarem direitos que há muitos já deveriam ter sido conquistados. É nestas circunstâncias que há lugar para pessoas como o subcomandante Marcos, (desde já todo um mito social actual, também ele de máscara, para se defender de possíveis perseguidores), e outros idealistas, que, (há falta de ideais humanos e sociais, só abordados pelos políticos tradicionais nas campanhas, e só com o fino intuito de angariarem votos que os conduzam ao poder), à falta de espaço no apertado cerco da política actual, enveredam por caminhos paralelos, procurando alertar as pessoas e o mundo para possíveis alternativas. A verdade é que o mundo está farto de política e de políticos cuja única qualidade é a da manipulação das massas, através da palavra, e que não têm soluções para nada, nem, muito provavelmente, têm a ideia de como resolver os simples problemas com que se deparam diariamente, recorrendo, invariavelmente, ao aumento dos impostos e à política de tapa buracos. A impressão que dá, é que o sistema político, tal como o conhecemos, sejam a democracia ou as ditaduras (sejam elas de que natureza forem), à falta de soluções, e para conservarem a ordem mundial, tal como a conhecemos, recorrem a tudo para nos fazer crer que essas soluções existem. Talvez existam e eu creio que sim, mas é preciso vontade de mudar um sistema pesado com muitos milhares de anos. Acredito que há pessoas que queiram tentar, pelo menos mostram publicamente vontade disso, e é preciso dar-lhes uma oportunidade também. É isso a democracia – a criação de uma sociedade com espaço para todos. Depois, a política, tal como está, com a dança dos políticos nas cadeiras do poder e à frente dos partidos, caras há muito desgastadas pela própria fama, que, muitas vezes, não vai além do aparecimento da cara deles na televisão, (não se sabe muito mais deles), a não ser que muda a cor política, para continuar tudo na mesma, levam as pessoas a alhearem-se da política o que constitui, só por si, uma ameaça à democracia, porque não há democracia sem participação popular. Dêem oportunidade às novas caras… e, talvez, quem sabe, a uma nova era.

 

Fátima Nascimento



publicado por fatimanascimento às 17:06
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