opiniões sobre tudo e sobre nada...

Domingo, 19 de Setembro de 2010
O desaparecimento das línguas

É um dado adquirido. Já desapareceram muitas e outras, mais tarde ou mais cedo, desaparecerão também. A tendência é a de passar da diversidade linguística para universalidade de uma só língua. Esse fenómeno já está a suceder. Quando visitamos um país estrangeiro, vemo-nos obrigados, quando desconhecemos a língua, a utilizar aquela que já é considerada, desde há bastante tempo, a primeira a nível mundial – o inglês. Se olharmos aos nossos estudantes, estes já introduziram no seu calão muito calão anglo-saxónico bastante divulgados nos filmes norte americanos. E não há estranheza. A adopção foi feita de coração. Exprime os sentimentos dos mais jovens que se identificam com ele. Em França, aquando da preocupação com a protecção da língua em relação à ameaça inglesa, foram interditas palavras anglo-saxónicas em locais públicos. O que aconteceu? É a língua mais usada nos grafitis pintados nas paredes. Eu nunca me preocupei com a defesa da língua. Pertenço àquele grupo (se é que existe tal grupo) que defende que a língua tem mecanismos próprios para se defender. Na verdade, o verdadeiro guardião, pelo menos até há pouco tempo, da língua, é o povo português. Ainda me lembro quando os emigrantes regressavam ao país, falavam, muitas vezes, nas línguas dos países que os acolheram e não eram raros os portugueses que diziam divertidos: “Olha, fala português se queres que te compreenda!” Agora, há um dado de vital importância para a língua: tem de evoluir. Falamos o português de hoje que mais não é do que o resultado da fuga à norma daquele que se falava há uns séculos atrás. E quanto mais a língua é complicada maior é a tendência para a simplificação. Caso contrário, perecerá. Vejamos o caso particular do inglês que leva uma vantagem em relação, por exemplo, às latinas: os objectos não têm género, o que já facilita a aprendizagem da língua, depois a sua divulgação. Já nos entra nos ouvidos como se nos pertencesse. O que vai acontecer à nossa? Acabará também por desaparecer eventualmente. Não vai ser das primeiras, poderá ser das últimas mas, eventualmente, acontecerá. A única preocupação será a de perceber o que será melhor, em termos humanos: se a continuação de várias se a existência de uma só. Na minha opinião, e desde que não se perca conhecimento, a língua falada é indiferente…



publicado por fatimanascimento às 10:20
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Terça-feira, 2 de Setembro de 2008
Estilo

Antes de mais, devo dizer que entendo o estilo como uma forma particular de utilizar a língua, o que diz respeito a cada um. Depois, a língua foi criada foi criada para servir o homem e não o contrário. Aliás, foi o próprio homem que a criou para o servir na difícil arte de comunicar e, no vasto oceano que ela é, cada um tem a sua maneira de se exprimir, isto é, o seu estilo. Na escrita passa-se o mesmo. E a literatura não é, também, excepção.

Há já algum tempo atrás, tive a oportunidade de passar os olhos por uma entrevista realizada a um autor português muito conhecido que conheceu o sucesso, nacional e internacional, que se traduziu num volume de vendas considerável, o que me enche de orgulho, e, desde já, desejo-lhe a continuação. Segui a entrevista com muito interesse, dando igual importância às perguntas e às respostas, como sempre faço. A determinada altura, deparo-me com uma questão que me deixou perplexa. O jornalista perguntava ao autor o que pensava de determinadas críticas que colocavam em dúvida a qualidade literária do seu estilo. Deve ser a pior questão que se pode colocar a um autor. Para mim, só há duas posições a tomar perante o estilo dos autores: ou se gosta ou não se gosta. E é tudo. Depois a linguagem literária não é, a meu ver, unívoca mas plurívoca. Ninguém pode obrigar ninguém, nem deve, a escrever como qualquer outro autor cujo mérito é reconhecido por uma determinada classe cultural. O estilo é pessoal e, como tal, nunca poderá ser posto em questão. Cada um deve encontrar, no universo literário, a sua voz. Esta tem de ser genuína ou não chegará até ao leitor. Uma crítica destas só passa pela cabeça de pessoas paradas no tempo, com uma visão estreita da literatura, o que não deixa de me suscitar, ao mesmo tempo, uma certa compaixão e repulsa. Só o atrevimento de se pôr em causa a escrita do autor em causa, provoca-me arrepios. Revela uma pretensão enorme, da parte de quem critica. Penso que se tocou num terreno privado onde ninguém se deve pronunciar, mas limitar-se, unicamente a apreciar. Nem que seja por uma questão de respeito. Eu, e a respeito do estilo deste autor, devo dizer que não só gosto como respeito ou não teria comprado os seus livros. Depois, a batalha está ganha, se se olhar ao volume de vendas, o que mostra que o escritor encontrou muitos leitores que se revêem no seu estilo. E é isto que é importante. Ou não serão os leitores que dão a importância ao escritor? Ninguém tem valor até que alguém lho dê. Eles são o maior e o melhor prémio que um escritor poder ter. Este escritor conseguiu-o. Parabéns!

 



publicado por fatimanascimento às 10:53
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Quarta-feira, 14 de Maio de 2008
A engraçada evolução das palavras

A língua que falamos, actualmente, não foi sempre assim, como hoje a falamos e escrevemos. Sofreu modificações ao longo de muito tempo. Como todo o organismo vivo, ela “nasceu”, cresceu e, se não quiser morrer, tem de continuar a adaptar-se aos novos tempos e a modificar-se com eles. Uma das modificações mais engraçadas, a nível da língua, considero eu, são as modificações de sentido que as palavras assumiram ao longo do tempo. Algumas delas começaram por traduzir uma realidade, e, com a evolução dos tempos, o seu significado modificou-se para traduzir uma realidade que pouco ou nada tinha a ver já com a do início. A semântica sempre foi um campo que me fascinou. Acho também fascinante como uma língua, mesmo numa determinada época, começa a dar significados diferentes a determinadas palavras, ou a incluir, na mesma palavra, outro significado ou outros significados. Isto nota-se na linguagem oral e também, obviamente, na linguagem escrita, uma vez que a maioria das pessoas tem a tendência de escrever como fala. É precisamente esta característica da língua que me atrai. Não gosto de pensar na língua como um organismo estagnado mas em constante mutação, em constante evolução. E as evoluções têm custos. Muitas palavras perdem-se e ganham-se outras. (Tenho muita pena de uma palavra portuguesa, muito engraçada que parece ter sido, definitivamente, substituída pela inglesa, “clip”. Tenho perguntado a muita gente, muita da qual não tem ideia sequer de ter havido outra palavra para designar esse objecto. Eu acabei por me esquecer.) Paciência. Aliás, a língua que nós falamos foi o resultado da evolução da língua falada pelo povo (e é aqui que ela sofre mais modificações na semântica, sintaxe, no léxico, etc.); da língua erudita, só nos ficaram algumas palavras que chegaram até nós, quase intactas, a par com a sua homóloga popular, e pouco mais. O que, neste momento, é erro, será, daqui a uns tempos, a forma correcta de expressão e, daqui a uns bons tempos, alargar-se-á o campo de significados de uma mesma palavra ou modificar-se-á o seu significado. Ao conversar com algumas pessoas, sobretudo a nível popular, nota-se já que algumas palavras são usadas com outro significado, se estivermos atentos ao contexto em que foram aplicadas. Isto, é claro, deve-se a várias situações, sobre as quais não me vou debruçar aqui. Aquela palavra naquele contexto é considerada erro por alguém que, como eu, conhece a língua mas, entre os seus pares, as pessoas usam-na com aquele significado, sem se darem conta de que, actualmente, a palavra em questão tem um significado diferente que não traduz exactamente a ideia que tem em mente quando a utiliza. Agora, uma questão se levanta. Se assim é, vale a pena ensinar uma língua? Sim, vale a pena. O que não podemos é ter a veleidade de pensar é que ela, dessa forma, não sofre corrosão. Pela minha experiência, o ensino é só uma parte da vida do aluno. Ele é observado e corrigido nas salas de aula e, muitas vezes, em forma de brincadeira, fora delas, mas, quando o aluno regressa ao seu bairro e à sua casa, ele, mesmo esforçando-se por falar correctamente, como lhe foi ensinado, a tendência natural é a de voltar a repetir a língua, tal como ouve e ouviu durante tantos e importantes anos da sua vida… muitas vezes, eles mesmos, por timidez, e para não quererem destoar, acabam por se deixar influenciar de novo. Outra questão se pode colocar, é se uma criança, proveniente de classes desfavorecidas, poderá, alguma vez, falar correctamente a sua língua. É claro que sim, desde que a sua vontade seja mesmo essa. Mas nunca poderá, nem deverá esquecer é que a língua segue o seu processo de evolução, e nem sempre é aquele que esperamos ou desejamos. Cabe à linguística o trabalho de acompanhar e registar as novidades dessa evolução na gramática. Será talvez este o novo caminho da linguística, da nova linguística, daquela que se debruça sobre a nobre tarefa de estudar a língua falada e de registar as modificações que sofre. Já se faz…

 

Fátima Nascimento



publicado por fatimanascimento às 09:56
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