Entre os clássicos lidos, posso afirmar que Kafka se encontra entre os meus favoritos. Li a sua Metamorfose. Genial! Para quem não conhece a obra, trata de um homem que trabalha para sustentar a sua família (pais e irmã). Um dia, acorda sem se conseguir quase mexer. Qual não é o seu espanto quando se olha ao espelho e se vê transformado em… mosca gigante. Toda a trama se desenrola em volta deste acontecimento e dos problemas que este filho cria à família com a sua involuntária transformação. Não pude deixar de transportar esta narrativa para a realidade e perceber como é bem real! Nós, seres humanos, reagimos assim! Vemos isso na nossa sociedade. Enquanto trabalhamos e fazemos o que se espera de nós, a vida corre bem. Se algum imprevisto acontece na nossa vida, acarretando todo um peso no meio familiar e social, onde estamos inseridos, as relações complicam-se. A pessoa que contribuía para o bem-estar familiar torna-se, de repente, um estorvo para quem não possuía outras soluções para o seu sustento. A transformação deste homem causou toda a espécie de problemas. Desde os transtornos financeiros que obrigou toda a família a trabalhar, até ao convívio com os hóspedes que alugaram quartos na casa. Tudo correu bem até à descoberta deste. Escusado será dizer o que aconteceu! Toda a narrativa evolui numa transformação dos sentimentos e laços familiares culminando com o isolamento e a consequente morte do indivíduo transformado. O que representou a morte deste para a família? Sobretudo, alívio. Esta situação contada pelo autor, é bem visível na sociedade. Não quer dizer que todos ajam desta forma, mas, de uma forma geral, é assim que encaramos aqueles que são, de alguma forma, diferentes de nós. Talvez por isso mesmo eu não tenha esquecido a obra! Vejo o meu pai, por exemplo, que, com a sua difícil doença se tornou um peso para a minha mãe, que não sabe lidar bem com a situação. Desiludida com a velhice que “preparou tão cuidadosamente”, vê-se a braços com um problema que a transcende. Se juntarmos alguma impaciência (que a faz gritar com ele) para com aquele idoso-criança, tudo se torna mais complicado. Não é uma pessoa difícil, o meu pai. A única exigência é a presença constante de alguém junto de si. Para aliviar os dois, trago o meu pai para junto de mim. Fica sentado no alpendre, onde vê melhor, onde a minha filha mais nova faz os trabalhos e eu partilho com ele cajus. À nossa frente, os eucaliptos agitam-se ao sabor do vento. Fica sentado, calmamente, sentindo a paz que lhe é transmitida. Não dá trabalho. Não é violento. Os meus filhos, e isto preocupa-me, estão a ver o lado da minha mãe, esquecendo-se completamente da doença do meu pai. Não me canso de lhes chamar a atenção para tal, mas parece que não consigo fazê-los compreender isso. Não sei onde estou a falhar. Rio-me com o que me contam, escandalizados. Farto-me de repetir que não quero saber dos outros, quero saber dele! Se os outros não querem compreender, tanto pior para eles! Não há nada pior do que a má vontade!
Quando era pequena e ouvia falar dos escritores clássicos com uma reverência quase religiosa, pensava que seriam leitura só para uma certa estirpe de pessoas. Estes “gigantes da literatura” como também eram designados, pareciam ser autores cuja expressão escrita seria de compreensão restrita, isto é, só alguns os conseguiriam interpretar e, por consequência, digerir/compreender. Logo, para mim, também aborrecidos! Eram, em resumo, algo de inatingível. Foi talvez, por esta razão que eu adiei indefinidamente a sua leitura, escolhendo outros.
Há tempos, notei que um determinado jornal, já não me lembro ao certo qual, reeditava com o mesmo obras desses clássicos. Era uns livros rectangulares, estreitos e leves que estavam dentro de um caixote à entrada da tabacaria
Aos que gostam de ler, aqui fica o aviso: Não façam como eu! Leiam que se sentirão compensados! Mas, se há uma coisa que aprendi, é que cada livro/autor tem o seu perfil de leitor e não podemos gostar todos do mesmo! Mas só se experimentarmos poderemos saber se gostamos ou não. Eu adorei-os! Queridos clássicos! Obrigado por terem existido!
Fátima Nascimento
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