Quase todos os dias entram na minha caixa do correio notícias de jornalistas mortos e bloguistas presos. Esta é a triste realidade vivida em várias partes do mundo. Estes são conhecidos mas devem ser mais só que muitos não são notícia.
Há muita espécie de jornalismo. Há aquele que se limita a reportar aquilo que lhe é dito sem a preocupação de descobrir a verdade (é também a mais segura!) e há aquela que não se contenta com o que lhe é apresentado e, caso hajam indícios, não cessa de procurar a verdade até a encontrar. Só que este tipo de jornalismo, também chamado de investigação, é o mais difícil e aquele que envolve riscos: o desaparecimento, a prisão e até a própria morte. E quem está disposto a correr riscos?
Há jornalistas que exigem a verdade e se há algo que não bate certo, não cessam de procurar a verdade até a encontrarem. Muitos deles desaparecem ainda antes da conclusão das investigações o que sempre é um prenúncio de que estavam perto da verdade. Mas a verdade, para quem tem muito que esconder, é o pior dos pesadelos e despem-se de escrúpulos para a evitarem (ou nunca os tiveram!) E geralmente estas mortes nunca são investigadas, são só notícia. As investigações policiais nem sempre dão fruto e fica a memória do crime horrendo e da coragem demonstrada pelos jornalistas assassinados. E todos ficam com a ideia de que estavam a fazer um bom trabalho por que, se assim não fosse, não teriam sido mortos. A morte parece ser a solução encontrada por pessoas que teriam muito a perder aos olhos do mundo se a investigação fosse terminada e descoberta a verdade (seja ela qual for!).
Sendo este mundo movido por interesses particulares, não é de estanhar as mentiras e as aparências. Ora tudo quanto é aparente tende a desaparecer e é necessário manter essa aparência. Mas, e quando essa máscara é posta em causa por alguém que só quer saber a verdade? E se esta for tão feia que o seu autor ou cérebro só a quer abafar a todo o custo? E quando as ameaças à vida dos repórteres não é tida em conta pela coragem dos mesmos? A morte parece ser a solução… parece ser também a mais barata. Afinal, a cotação da vida humana na bolsa dos interesses nunca valeu nada para as pessoas que vivem da mentira. São estas quem mais odeiam a verdade e aqueles que a procuram!
Mas estamos a passar por momentos em que não é precisa a busca da verdade (nada disto é recente!) para se ser castigado brutalmente: basta ter opiniões diferentes das que são impostas pelas autoridades sejam estas quais forem. E o resultado não é melhor: prisões, processos jurídicos que arriscam anos de prisão, castigos corporais… enfim! Nada parece ter mudado e nada parece ter sido aprendido nestes longos anos de história humana!
E não pensem que isto só acontece e países remotos quer pela sua geografia quer pela mentalidade dos seus governantes. Há bem pouco tempo, li uma denúncia que contava a história de dois jornalistas italianos acusados de divulgar documentos secretos da “santa” sé e arriscam uma pena de prisão. O novo Papa parece ter aprovado recentemente uma lei nesse sentido, o que muito me admira. (Documentos que são só do conhecimento de uns e não de todos? Se assim é, a quem favorece esse secretismo?) Não nos esqueçamos que é baseada nas notícias que formamos a nossa opinião pessoal, embora eu acredite que haja pessoas capazes de ter filtro crítico e percebem algo mais por trás do que é simplesmente divulgado. Estas são pessoas incomodativas porque pensam à margem do que é habitualmente aceite como verdade. São as que saem do rebanho e as que poderão realizar esse despertar tão indesejado.
Mas o que queremos nós, os leitores, espectadores ou ouvintes das notícias jornalísticas? O que procuramos saber do mundo onde estamos inseridos? Queremos a verdade ou a ocultação desta, a meia verdade ou a mentira que nos tapa os olhos? Cabe a nós decidir…
Era assim que um artigo dava resposta ao possível desaparecimento do jornalismo tal como o conhecemos hoje. Como é essencial para a democracia a existência de jornais que têm um pouco a função de vigiar o poder político e económico denunciando toda e qualquer espécie de abusos. Apelava à união de interesses das pessoas de forma a juntarem-se e poder realizar um trabalho dentro do seu campo. Ora, com o eventual desaparecimento dos jornais, as possíveis denúncias terão de encontrar um meio capaz de rodear a forma como são feitas hoje, com alguém portador de uma informação relevante de interesse público, geralmente anónimo, que faz chegar a mesma junto do jornalista acompanhada das evidências físicas. Se os jornais mudarem a sua forma habitual, muda a forma de agir no terreno. Achei engraçado, porque, a dado momento, o autor do artigo diz que todos podemos ser repórteres e dá alguns exemplos que se passam já. Quando há algum evento ou alguma catástrofe as primeiras imagens chegadas às redacções dos jornais/ televisões são as enviadas pelos cidadãos. Eu, pessoalmente, lembro-me de uma linha telefónica grátis que uma rádio nacional tem ao serviço do cidadão e que a vai informando dos acidentes rodoviários ou outros acontecimentos ligados à circulação rodoviária e que vai mantendo as informações actualizadas e que ajudam os condutores nas suas deslocações, ajudando-os, muitas vezes, a encontrarem alternativas às vias em que circulam. A verdade é que todos pertencemos a uma sociedade e o papel de “vigilante”, digamos assim, cabe a todos nós. É, talvez, a ideia do free-lancer que está subjacente a esta filosofia de informação. Mas o que lá é bem defendido é a ideia de que sem jornalismo, vamos ficar de mãos atadas e a corrupção, sob todas as suas formas pode espalhar-se como uma doença contagiosa, se não correr o risco de ser denunciada. Depois, como poderemos escolher os políticos, que nunca chegamos a conhecer verdadeiramente, é verdade, se não sabemos nada deles? O vídeo captado por um anónimo enquanto observava um dos últimos candidatos à presidência dos EUA a trautear uma canção que o comprometeu decisivamente na sua corrida à Casa Branca? E valeu mais que todos os discursos realizados pelo candidato! É nestas pequenas atitudes que descobrimos o carácter da pessoa, não pelos discursos. Estes projectam a imagem, aquelas revelam a pessoa por trás da mesma. E como não podemos separar uma da outra… e como a pessoa prevalece sempre sobre a imagem… temos de nos ligar a estas pistas se queremos ter uma ideia real da pessoa. Ora, o artigo defendia que o candidato nunca cantaria tal música se entre a audiência estivesse algum jornalista. Certíssimo! Mas houve alguém que fez o papel dele! E outra questão se coloca: como proceder à divulgação do mesmo? A esta resposta, o autor não tem dúvida: INTERNET! Se pensarmos nos milhares de e-mails que recebemos por ano denunciando variadíssimas situações… podemos perceber o alcance deste novo meio de comunicação. Mas todo o esforço pode ser tempo perdido se as denúncias só ficam por aí… e não se faz nada. A situação de impunidade cria frustração e futuro desinteresse. Depois, para aqueles que defendem que fariam o mesmo se lá estivessem… não há qualquer possibilidade. Mas enquanto houver denúncia, poderá haver, pelo menos cautela… Se não houver nada, para certas pessoas que necessitam de constante “policiamento” é o descalabro da democracia com os abusos praticados! Será o caminho para algo mais obscuro que nada tem a ver com a democracia, pelo menos da forma como é entendida pelos justos. Os jornais, tal e como os conhecemos, poderão desaparecer, mas a procura e oferta de informação irá continuar! Nem poderão ser substituídos pelos televisivos ou radiofónicos, sempre limitados pelo tempo, o que leva a uma selecção da informação…
Esta foi uma frase que me deixou a pensar. Alguém disse que, qualquer dia, os jornais limitar-se-iam à acção de uma pessoa, isto é, só uma pessoa poderia montar um jornal. Penso que se referia a um jornal digital. Não concordei e não concordo. Um jornal, sobretudo com a magnitude que lhes reconheço, nunca será possível ser realizado apenas por uma só pessoa. Se falarmos de um folheto informativo limitado, dedicado a só uma só especialidade, onde os factos nos aparecem relatados em segunda ou terceira mão, talvez. Mas quem conta um conto acrescenta sempre um ponto. Ora, acreditando na verdade pura e nua onde está a credibilidade dos factos relatados? Imaginemos também panfletos ou pequenos formatos digitais dedicados a determinados ideais (sejam eles quais forem) onde as pessoas se limitam a escrever as suas ideias… é fácil para uma pessoa, mas não é jornalismo, é propaganda. É preciso saber separar o trigo do joio.
Houve uma evolução na comunicação e toda a gente sabe que o computador e a internet vieram revolucionar a mesma. Muita da informação está à distância de um simples clique. Tornou-se fácil, tornou-se cómodo e tornou-se rápido. Não precisamos de sair de casa. No entanto, a informação essencial e diária não é exaustiva e só nos jornais podemos encontrar informação mais aprofundada e completa. Embora tenha havido uma revolução na forma de divulgação, a aquisição da informação não se faz através de uma varinha mágica. Há, no local (seja ele qual for) um profissional responsável pela mesma que tem a responsabilidade de informar, da forma mais fiel possível, a situação num dado local geográfico do globo, seja ela de que natureza for. No entanto, directa ou indirectamente, a notícia está sempre relacionada com o ser humano, sempre actor ou vítima de algum facto. Só a ele interessam as notícias e os jornais não existem senão para si. Portanto, o elo humano entre a notícia e o acontecimento é indispensável, a não ser que as máquinas, em caso de risco de vida, possam substituir o homem, enviando as imagens impossíveis de colher devido ao perigo. Estas notícias chegam às redacções e são desenvolvidas conforme as actualizações que vão chegando. Ora, havendo tanto acontecimento no mundo (e tudo serve de informação e reportagem) e havendo interesse na sua divulgação, é impossível a um homem só, mesmo ajudado pela tecnologia, abarcar e tratar tanta informação. Depois, há sempre notícias que só os humanos conseguem trazer a lume. Por isso, jornais sem jornalistas? Impossível! Não acredito num homem só fazendo todo um trabalho sem ajuda de outro. Seria um jornal com muito pouca informação. O toque humano é, portanto, indispensável. Para mim, é claro que se deve investir nos meios humanos para se ter uma informação minimamente credível. O que me preocupa não é isso, são as forças financeiras ocultas que estão, muitas vezes, por trás dos jornais. O ideal seria estes conseguirem serem auto-suficientes financeiramente. Como tal não é possível (desconheço o motivo, talvez as despesas sejam incomensuráveis) optou-se pelo investimento na comunicação. Não há mal nenhum em ter um suporte financeiro por trás dos meios de comunicação desde que a liberdade de informação seja garantida. Todo o empresário inteligente (que os há, felizmente!) sabe que uma informação plural só pode favorecer a sociedade e a humanidade. O que me preocupa são os outros, os controladores que interferem no que deve ou não ser objecto de notícia. É talvez aqui que devemos concentrar a nossa atenção.
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