Nunca percebi porque é que a ilha da Irlanda se encontra dividida em duas, quando o ideal é só um – a independência.
Tinha 17 anos quando morreu. Acompanhei a sua luta muda e determinada através da comunicação social. Ao princípio, ainda com esperança que se encontrasse uma solução para evitar a morte daquele homem ainda jovem. Uma vontade que se assemelhasse a um raio de sol trespassando as densas e negras nuvens. Nada. A dama de ferro não se comoveu e ele não desistiu! Um braço de ferro que terminaria com a morte deste que não desistiu do seu sonho. Já lá vão quase trinta anos! Depois de muitas conversações, muitas delas com a ajuda de intermediários conhecidos do mundo artístico (estou a lembrar-me de Bono, o vocalista da banda U2) que pareceram amenizar os ânimos e sossegar os ódios. Houve um vazio noticioso durante uns anos. Agora, voltaram os protestos à rua, ocupando alguns minutos do horário nobre do espaço noticioso. Esta breve manifestação dá conta que o ideal de independência não morreu no coração dos irlandeses, descontentes com a sua situação. Para mim, e ao contrário do que as notícias pareciam fazer crer, o problema entre as duas partes litigiosas não eram de natureza religiosa mas política. A nomenclatura usada era só uma maneira de os meios de comunicação identificarem as duas partes
Fátima Nascimento
O que sempre me atraiu nos outros países, não é só a paisagem mas todo um mundo cultural subjacente a ela. Conhecer novas línguas, novas pronúncias, enfim tudo aquilo que diferencia e logo caracteriza como país – a sua individualidade cultural. Confesso que não sairia do país se soubesse que o que lá iria encontrar é igual ao existe no nosso país. É isto que nos enriquece como pessoas - a diferença. Quando tive ou tenho oportunidade de sair e estabeleço alguns laços de amizade, sinto nas pessoas uma curiosidade sobre o nosso país que recai também sobre a nossa língua. Muitos querem saber como é esta ou aquela palavra em português para exprimir certo sentimento ou ideia, sentindo-se fascinados pela diferença. Lembro-me de, aqui há alguns anos atrás, um rapaz do país vizinho, pouco mais velho do que eu, pensar que a língua da Catalunha era muito semelhante à portuguesa. Talvez o ideal da independência o fizesse olhar para nós portugueses com um carinho que não nutria por Castela. Mais recentemente, conheci uma moça galega que também dissocia a cultura da sua província da Castelhana, dando voz a toda uma cultura galaico-portuguesa comum à história de ambas as regiões, em determinada época da história. Mais uma vez tive de defender que não tinha a certeza de que assim fosse. O castelhano invadiu todas aquelas regiões e as semelhanças que eles querem ter connosco são cada vez menos perceptíveis, quase não existindo. O que eles admiram em nós é o facto de sermos um país independente de Espanha, há imensos séculos (exceptuando o período de sessenta anos sob o domínio filipino). A nossa língua, factor essencial na nossa independência, embora muito semelhante ao Castelhano tem características e pronúncia próprias que aqueles adolescentes admiram. São jovens de gerações diferentes mas orgulhosos das suas diferenças culturais que os individualizam da restante Espanha. Ambos conseguem ler o português sem grandes problemas, esquecendo-se das semelhanças do castelhano ao próprio português. Ambos vêem nestas diferenças mais do que razões para fundamentarem as suas aspirações a uma possível independência. Falta a vontade política. Ambos conhecem o desespero do país Basco cuja cultura e cuja língua nada têm de semelhante a Espanha e a França, constituindo todo um mundo à parte. Nota-se a diferença quando saímos daqueles países e mergulhamos naquele mundo cultural com raízes que ascendem ao período pré-romano e que nada tem a ver com os dois países pelos quais se encontra dividido. O ideal de independência custa vidas: morreram imensos castelhanos, que quiseram subjugar o povo português, na tentativa de integrar o seu território nas suas muitas províncias, e muitos portugueses para manterem a independência de um território que durante muito tempo aprenderam que lhes pertencia, não por ordem genealógica da realeza mas por vontade popular. Durante todo este tempo, Portugal manteve-se independente graças à vontade de um povo que teimou em acarinhar uma língua com uma estrutura, um léxico e uma pronúncia diferentes. E não é só o caso do nosso país, há muitos casos por essa Europa fora. A única diferença é que uns além da vontade tiveram sorte, outros nem tanto. Este ideal não morre, ao contrário do que se possa pensar, passa de geração em geração e assume contornos mais ou menos pronunciados em determinadas épocas. Mas não morre.
Este pequeno minúsculo pacífico país, escondido no alto dos cumes enevoados e frios das montanhas mais altas do mundo, nunca foi, pela sua cultura, um país ameaçador ou em vias de o ser, convivendo sempre pacificamente com os outros estados vizinhos numa atitude de profundo respeito e humildade, atitude que caracteriza o seu representante legal, o Dalai Lama, agora exilado na Índia. Por alturas da Segunda Guerra Mundial, a China comunista invade e toma posse daquele território perante a incredulidade e a impassibilidade mundiais. Era o fim de um pequeno e recôndito estado, há cerca de meio século, inexplicavelmente, debaixo do domínio de sucessivos governos chineses que tentaram sufocar culturalmente o pequeno estado, ao que parece, ingloriamente. Embora casos de violência tivessem sido denunciados, ao longo daquele já longo período de domínio chinês, o mundo inteiro nada fez para ajudar a resolver o problema deste minúsculo estado, limitando-se a uma política hipócrita de ambivalência do - não concordo, mas também não me meto! Resta àquele povo a incansável acção do seu representante máximo, que nas suas deslocações constantes, leva a causa do seu povo aos outros países, na tentativa de não deixar esquecer o que por lá se passa (e o que aconteceu!). Embora os todos os governos chineses se tenham esforçado por integrar aquele povo na sua cultura, e apesar das sucessivas camadas de população chinesa que imigraram para lá, as recentes manifestações provam que eles não o conseguiram e que aquele pacífico povo continua fiel às suas raízes. Como toda a potência dominadora, a administração chinesa procura abafar toda e qualquer manifestação que relembre os tempos anteriores à anexação do território tibetano, mesmo recorrendo à força contra uma população indefesa cuja única arma são a vontade de inverter uma situação que já dura há demasiado tempo. Se o actual governo chinês acha que consegue lidar com esta determinação (esta resistência), então, ele não entende que a fé move montanhas. E se não consegue compreender algo tão simples, num país profundamente religioso, então, e tal como aconteceu já em muitos episódios da história mundial, o país dominador tem os dias contados lá. Nada demove um povo determinado, pode demorar, mas eles expulsam sempre os opressores, sejam eles quem forem. Quanto aos outros países do mundo, talvez se devessem questionar sobre o persistente interesse de um grande país como a China num estado tão pequeno, e, aparentemente, sem os grandes e tão cobiçados recursos primários que movem nações a dominar outras. Qual será o verdadeiro interesse da China por aquele estado, que se dá a tanto trabalho para integrar uma região dentro das suas fronteiras, sem querer saber da vontade do seu povo? Que interesse será esse que o leva a ser implacável com pessoas desarmadas cujo único intuito é a recuperar a independência e a dignidade perdidas? Depois, o que é mais importante do que a vontade de um povo?
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