O que sempre me atraiu nos outros países, não é só a paisagem mas todo um mundo cultural subjacente a ela. Conhecer novas línguas, novas pronúncias, enfim tudo aquilo que diferencia e logo caracteriza como país – a sua individualidade cultural. Confesso que não sairia do país se soubesse que o que lá iria encontrar é igual ao existe no nosso país. É isto que nos enriquece como pessoas - a diferença. Quando tive ou tenho oportunidade de sair e estabeleço alguns laços de amizade, sinto nas pessoas uma curiosidade sobre o nosso país que recai também sobre a nossa língua. Muitos querem saber como é esta ou aquela palavra em português para exprimir certo sentimento ou ideia, sentindo-se fascinados pela diferença. Lembro-me de, aqui há alguns anos atrás, um rapaz do país vizinho, pouco mais velho do que eu, pensar que a língua da Catalunha era muito semelhante à portuguesa. Talvez o ideal da independência o fizesse olhar para nós portugueses com um carinho que não nutria por Castela. Mais recentemente, conheci uma moça galega que também dissocia a cultura da sua província da Castelhana, dando voz a toda uma cultura galaico-portuguesa comum à história de ambas as regiões, em determinada época da história. Mais uma vez tive de defender que não tinha a certeza de que assim fosse. O castelhano invadiu todas aquelas regiões e as semelhanças que eles querem ter connosco são cada vez menos perceptíveis, quase não existindo. O que eles admiram em nós é o facto de sermos um país independente de Espanha, há imensos séculos (exceptuando o período de sessenta anos sob o domínio filipino). A nossa língua, factor essencial na nossa independência, embora muito semelhante ao Castelhano tem características e pronúncia próprias que aqueles adolescentes admiram. São jovens de gerações diferentes mas orgulhosos das suas diferenças culturais que os individualizam da restante Espanha. Ambos conseguem ler o português sem grandes problemas, esquecendo-se das semelhanças do castelhano ao próprio português. Ambos vêem nestas diferenças mais do que razões para fundamentarem as suas aspirações a uma possível independência. Falta a vontade política. Ambos conhecem o desespero do país Basco cuja cultura e cuja língua nada têm de semelhante a Espanha e a França, constituindo todo um mundo à parte. Nota-se a diferença quando saímos daqueles países e mergulhamos naquele mundo cultural com raízes que ascendem ao período pré-romano e que nada tem a ver com os dois países pelos quais se encontra dividido. O ideal de independência custa vidas: morreram imensos castelhanos, que quiseram subjugar o povo português, na tentativa de integrar o seu território nas suas muitas províncias, e muitos portugueses para manterem a independência de um território que durante muito tempo aprenderam que lhes pertencia, não por ordem genealógica da realeza mas por vontade popular. Durante todo este tempo, Portugal manteve-se independente graças à vontade de um povo que teimou em acarinhar uma língua com uma estrutura, um léxico e uma pronúncia diferentes. E não é só o caso do nosso país, há muitos casos por essa Europa fora. A única diferença é que uns além da vontade tiveram sorte, outros nem tanto. Este ideal não morre, ao contrário do que se possa pensar, passa de geração em geração e assume contornos mais ou menos pronunciados em determinadas épocas. Mas não morre.
Há aspectos da vida em que os dois nem se tocam. A sociedade agita as bandeiras do ideal de vida que nada tem a ver com a realidade. Depois, quando algo acontece mostrando isso mesmo, que os ideais são abandonados porque não se criaram infra-estruturas capazes de apoiar a vida das pessoas para que as suas vidas decorram sem sobressaltos. O que acontece quando algo corre mal? A tendência é a de apontar o dedo às pessoas confrontadas, muitas vezes, com problemas ou terríveis tragédias nas suas vidas. Geralmente, quem julga e condena os outros, encontra-se rodeado de um exército de auxiliares que apoia as diversas facetas das suas vidas. Agora, e os outros que, sem qualquer ajuda, se vêem a braços, para além do trabalho e, muitas vezes, dos problemas daí subsequentes, têm ao seu cuidado crianças e idosos que, à falta de autonomia, se encontram dependentes dos outros. Alguns deles com problemas de saúde física e psicologicamente graves. Não é fácil. Estes problemas trazem agravantes, se pensarmos na falta de dinheiro e do tempo, uma vez que as faltas ao trabalho são cada vez mais difíceis, ainda que justificáveis, o medo de perder a única fonte de rendimento… nada facilita a vida das pessoas. Depois, onde deixam as crianças e os idosos quando vão trabalhar? Vivendo numa sociedade materialista onde o trabalho é visto como uma fonte de rendimento, na primeira e na última fase das nossas vidas, encontramo-nos desprotegidos. Se não quiserem modificar nada a nível do emprego, então há que criar ou incentivar a criação de centros capazes de apoiar as famílias que têm a seu cargo idosos e crianças, para que estejam protegidos, durante a ausência dos adultos jovens. Para já não falar da falta de atenção a que estão sujeitos todos aqueles que não produzem (para não falar do trabalho infantil) ou deixaram, em determinado momento das duas vidas, de produzir, que se resignam a uma vida de prateleira, esperando as migalhas da atenção e dividindo-as com outros mais pequenos. Não é fácil uma situação destas para ninguém. A solução do lar é a mais fácil mas também a mais dispendiosa. Os infantários, quando existem, são poucos e limitativos ou privados e caros… Há que multiplicar as soluções. Só quando estas existirem e estiverem ao alcance de todos é que se pode apontar o dedo seja a quem for. Até lá, criem primeiro as condições. Ou, então, as pessoas que criticam que ajudem…
Fátima Nascimento
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