opiniões sobre tudo e sobre nada...
Sábado, 5 de Abril de 2014
O olhar dos outros sobre nós
Temos duas maneiras de nos avaliarmos enquanto povo: olhando para nós ou ver a maneira como os outros nos vêem.
Definimo-nos como um povo de bandos costumes e contentamo-nos com pouco mais. Mas o que se passa debaixo deste manto simpático?
Há uns meses atrás, conheci um casal romeno a trabalhar no nosso país. Tive oportunidade de os conhecer porque dividimos o mesmo apartamento. Eles trabalham nesta região, mais concretamente, no sector da agricultura. Ele fala melhor português devido à necessidade de contacto com os colegas e patrões. Ela teve um bebé que a manteve longe do trabalho precário, durante uns meses, e mergulhada na sua língua natal. Ainda assim, aprende com facilidade. E já se desembaraça bem. As suas experiências por terras lusas nem sempre foram boas pelo que a sua opinião sobre nós não é muito favorável. Escolheram conviver dentro da larga comunidade romena residente no país.
No início, diziam-me que era diferente dos outros. Não percebia aonde queriam chegar, até perceber que me estavam a comparar com outros conterrâneos. E contaram-me algumas histórias. Ele, no trabalho, teve de se impor a um encarregado que o tratava de forma diferenciada. E fê-lo de tal forma que não mais teve problemas! A partir daí, o assunto resolveu-se. Os brandos costumes substituíram as tentativas de abuso verbal.
Ela não teve melhor sorte. Aquando do nascimento da pequena, foi assistida no hospital. O seu nome próprio é igual ao português, mas nunca o pessoal a tratou pelo mesmo. Qualquer contacto começava sempre por “Ó, senhora!” e assim se mantinha inalterável.
Sempre, desde que nos conhecemos, me tratou daquela forma. Mesmo quando lhe disse para me tratar pelo nome. Não quis. Era o seu sinal de respeito por mim, marcada pela grande diferença de idade. Mas não foi o seu caso. E ela sabia. No seu caso foi má vontade das pessoas que trabalham naquela unidade hospitalar. Já nos vimos, nós, portugueses, tratados desta forma? Se assim for, é muita falta de educação e de respeito! Mas se há uma coisa que aprendi na vida, foi que um curso superior não dá educação ou inteligência a ninguém.
E são essas pessoas que dão uma má impressão do país!
A irmã trabalha em Espanha e a experiência é diferente. Sorte? Não sei. Talvez. Não creio que tenhamos o monopólio da má vontade! Nada disso! Mas a questão é que, quando comparados, por exemplo, com os nossos vizinhos, saímos a perder, em tudo!
Desde a questão da arquitectura, tão bem preservada no país vizinho, que dá um toque pitoresco às localidades até à maneira como lidam com os imigrantes. Pelo menos naquela região. Pelo menos, são respeitosos os espanhóis com quem lidam.
Esses portugueses, com quem contactaram, deram uma péssima ideia de nós. Mesmo daqueles que não são assim. E é, infelizmente, essa ideia que vai perdurar quando falarem de nós. E não os poderemos censurar. Afinal, foram essas pessoas que não estiveram à altura das situações.
Segunda-feira, 7 de Maio de 2007
O 25 de Abril... o que a História não conta! (Ao sr. Rui... um obrigado pela confiança!)
Como o 25 de Abril é uma data relativamente próxima, existe muita gente viva que viveu directa ou indirectamente este acontecimento político que mudaria para sempre a vida em Portugal. Todos os portugueses conhecem a versão histórica, os mais novos estudaram-na na escola, mas do que nós nos esquecemos é das histórias dentro da História, vividas pelas pessoas nela implicadas. Tratam-se de histórias contadas por pessoas conhecidas aos conhecidos e amigos, numa mesa de café ou entre colegas no local de trabalho, durante um momento de pausa. Todos os portugueses se congratulam por o 25 de Abril ser uma data que, embora tenha dividido as forças armadas, decorreu sem a violência e a destruição ligada às viragens políticas caracterizadas pela força. Não foi por acaso que tal sucedeu. A história, como vamos ver, é feita de pequenas histórias que contribuem para a construção oficial da História. Quando trabalhamos num local onde há pessoas com várias tarefas, limitamo-nos, por vezes, ver nelas aquilo que fazem, sem nos interrogarmos ou interessarmo-nos por elas como pessoas. Isso aconteceu recentemente comigo e tive uma surpresa muito agradável. Tomava o pequeno-almoço no bar do meu local de trabalho, quando entrou um senhor que eu conhecia só de vista, embora trabalhe no mesmo local que eu, e eu, que não sou nada faladora, entabulei conversa com ele. Foi mais ou menos na altura da comemoração do 25 de Abril. Conta ele que estava no quartel, na camarata a dormir com os colegas, quando um jovem sargento da Força Aérea entra de rompante e grita que houve uma Revolução e que as ordens eram de bombardear a capital. Ora, todos aqueles militares haviam regressado há pouco de comissões mais ou menos longas em diversos pontos do ultramar, nomeadamente da Guiné, de Angola (como era o seu caso), de Moçambique (da zona mais conflituosa), entre outras, e todos eles arcando com memórias de vivências mais ou menos traumatizantes que os marcariam definitivamente para toda a vida, quando uma voz estridente e autoritária os arrancou definitivamente ao sono agitado. O único bombardeamento que houve foi o das botas a sibilarem no ar em direcção ao sargento que se barricou atrás da porta. Várias vozes se levantaram em protesto. Estavam fartos de bombardeamentos e desgraças e exigiam que os deixassem dormir! Já tinham visto muita desgraça para a fazerem na capital do seu país. A Baixa lisboeta teria desaparecido, uma vez que um dos alvos era S. Bento, se não fosse a sensatez e a coragem destes homens já fartos de tanto horror vivido no ultramar! Às vezes, vale a pena não acatar ordens e… esta foi uma delas! Se eles tivessem feito caso destas ordens, o que teria sido deste país?