opiniões sobre tudo e sobre nada...

Segunda-feira, 16 de Novembro de 2015
Refugiados

Ainda não chegaram, mas já há muitos que veem na sua chegada tempos apocalípticos! As notícias de atentados terroristas, alegadamente originários do mundo árabe, e perpetrados alegadamente por membros árabes, não melhora a situação. Outros há que defendem primeiro a ajuda aos nossos e só depois aos outros. Enfim, há um sem fim de posições, tendo todas algo em comum: a má vontade, o medo, a desconfiança… mas tudo acabará, espero eu, quando se conhecerem as pessoas e a sua terrível realidade mais de perto e quando perceberem como podem ajudar a nossa sociedade.

Quem quer sair do seu país? Só a guerra, o terror e a pobreza gerada por políticas economicistas que se centram nos lucros e não nas pessoas. Estas são talvez as principais razões que levam pessoas a deslocar-se no limite do desespero na tentativa salvar as suas vidas. Não havendo uma solução encontrada para o seu país que promova a paz, uma vez que as várias facções internas estão apoiadas por países estrangeiros, não lhes resta outra solução senão a fuga ou a morte.

Virão estes refugiados, que fogem da guerra, com vontade de a implementar noutros países?

A ideia de que virão possíveis terroristas integrados nesses conjuntos de refugiados, não me parece muito viável embora nada seja impossível. Mas, mais uma vez, não me parece que quem foge da guerra, a queira implementar nos países que os acolhem. Seria mais do mesmo. Não faz sentido. Quem promove a guerra não a viveu, e teve tempo para assimilar uma quantidade de idiotices capazes de os levar a ver nos irmãos europeus inimigos mortais. E revela falta de visão. Não é o cidadão comum que cria políticas capazes de prejudicar os seus países. São as políticas que defendem interesses particulares. Sempre há sido assim.

O perigo para a Europa não vem de fora mas de dentro. Não nos esqueçamos que a fuga maciça de pessoas, aliada às notícias de atentados, faz com que o sentimento de insegurança domine muitos europeus, promovam sentimentos como o medo e o ódio, e dominem a pessoas menos informadas, o que promove as fileiras de votos dos partidos de extrema-direita que vivem disto mesmo. A má vontade está a criar barreiras a leste e o medo faz florescer políticas de exrema-direita. E a extrema-direita não resolve nada que a democracia não resolva. Aquela limita-se a passar uma ideia falsa de segurança que a democracia ainda não conseguiu passar com o mesmo sucesso, (embora a História tenha posto a vitória sempre do lado das democracias, na história moderna). Só torna possível a sua ambição de poder com tudo o que de negativo arrasta. Ponhamos os olhos no fundamentalismo, seja ele qual for e tome a forma que tomar, e pensemos se queremos isso para as nossas vidas.

Para os que defendem que devemos primeiro ajudar os nossos… Isso não deveria ser de agora mas de sempre e só agora pensamos nisso? Irá este “estado de sítio emocional” alarmar-nos a ponto de avaliarmos a situação de forma deficiente e injusta? Far-nos-á ela esquecer a nossa própria herança histórica muçulmana? É em tempos de crise como estes que nos definimos enquanto povo. É em tempos de crise que mostramos o que valemos… ou o que não valemos como povo!



publicado por fatimanascimento às 00:21
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Terça-feira, 1 de Junho de 2010
Baltazar Garzón: o direito à verdade

É muito conhecido pelo seu trabalho. Agora, é de novo notícia devido à sua suspensão do cargo que, até ali, ocupou. Depois da tristemente conhecida guerra civil que matou imensas pessoas, a Espanha mergulhou numa ditadura dirigida pelo general Franco. Durante a sua governação, e tal como em todas as ditaduras, perseguiu todas as pessoas que se lhe opunham de alguma forma. Muitos desapareceram. Presume-se que os tenham morto. É assim que agem as ditaduras: limpa-se o que não interessa, isto é, as pessoas incómodas. Depois desse tempo conturbado, embora aparentemente sereno, (só aparência!) os familiares pediram autorização para investigarem o desaparecimento de familiares. Compreendo perfeitamente a sua angústia. Se me tivessem desaparecido familiares, gostaria de saber o que lhes teria acontecido. Passado algum tempo, os movimentos de extrema-direita fizeram, e conseguiram fazer passar uma Lei da Amnistia, em 1977, no parlamento que pretendia enterrar o passado. Ora, essa lei parecia não estar de acordo com o Direito internacional, no qual se baseou o juiz para tomar tal decisão. Agora, basearam-se nesse argumento para o atacarem. Acusam-no de prevaricação. Ao encontrarem-se as valas cheias de corpos, o medo deve ter tomado conta dos herdeiros ideológicos da ditadura. Ora, ninguém quer vingança. Ninguém está a pedir nada que seja imoral. Toda a gente tem direito de saber onde repousam os restos mortais dos familiares. O que acontece é que se pretende apagar da memória das pessoas a outra face da ditadura franquista - o horror. Mas o que acontece realmente é que, nas suas investigações apanhou pessoas corruptas altamente posicionadas dentro do partido de direita (PP) e não só. É natural que, ao mexer com tantas pessoas poderosas, ganhasse inimigos. Ganhou-os de certeza. Esta decisão jurídica, embora legalmente apoiada, nada mais é do que vingança. Para certos sectores, não interessa alguém como ele num cargo como aquele que ocupa. É demasiado incómodo! Assim, tratam de o afastar! Temos direito ao passado e queremos a verdade. Ele deu-nos isso! Vamos deixar que interesses obscuros tentem acabar com a carreira de Baltazar Garzón só porque querem esconder o que não lhes interessa que se saiba? Será este o destino de pessoas rectas como ele? Não é preciso o ditador, o legado dele aprendeu bem a lição e está a aplicá-la. As ditaduras, ao contrário do que se pensa, não são só os ditadores mas todos aqueles desconhecidos que os rodeiam e seguem. Nem acredito que isto se passe actualmente em Espanha ou mesmo noutra parte do mundo! Esta posição é inconcebível em democracia!

 

 



publicado por fatimanascimento às 21:45
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Quarta-feira, 3 de Junho de 2009
A vergonha da História

Lia, um dia destes, uma curiosa e interessante entrevista ao escritor espanhol Juan Manuel Prada, aquando do lançamento do seu último romance “O Sétimo Véu”. Esta seria mais uma entrevista normal, se não fossem algumas passagens interessantes que me fizeram pensar. O enredo do seu romance, segundo as suas palavras, passa-se durante a Segunda guerra Mundial, e faz uma incursão pela ocupação e consequente Resistência francesa. Uma das passagens interessantes desta entrevista tem a ver com toda a investigação realizada pelo autor sobre aquela época em que ele fala das dificuldades encontradas. Diz o autor, e passo a citar, que “…enquanto me documentava sobre a época, dei-me conta de que muitas das noções históricas que temos estavam mitificadas, falsificadas. Por exemplo, temos uma noção romantizada da Resistência francesa. E o livro converteu-se em algo mais: numa reflexão sobre o heroísmo, a memória, a identidade. Num discurso sobre a dificuldade de avaliar o passado e enfrentar a verdade. Creio que as nações europeias tenderam a mitificar ou idealizar o seu passado.” Mais à frente acrescenta que “A escritora russa judia Irene Némirovski contou, em Suite Francesa, algo sobre a verdade da França ocupada pela Alemanha: uma potência militar e cultural que, no entanto, só produz a Resistência. Este é um período obscuro da França: com a força de que dispunha, não deveria oferecer apenas resistência. Não está estudado a fundo o fenómeno do colaboracionismo em França. Isto pareceu-me muito interessante, como metáfora de como os povos tendem a não enfrentar a sua verdade.” Falando mais à frente ainda sobre a sua pesquisa refere que “Procuro sempre que tudo esteja bem documentado. Sobre o tratamento que os espanhóis receberam em França li muito e tenho testemunhos pessoais de gente que agora está a morrer. O mais difícil foi a informação francesa sobre a época de ocupação de França, de 1940 a 44. O mais surpreendente é que há muitos livros de memórias, pessoas que contam a sua experiência pessoal, mas não há um grande livro de investigação histórica profunda. É um tema tabu.” Mais à frente e respondendo à questão do jornalista sobre a possibilidade de a investigação “poder provocar um questionamento profundo”, Prada concorda acrescentando … mas é muito cómodo viver na mentira. …Criam-se histórias oficiais – no caso, a de um país que criou a Resistência – e isso é tranquilizador. Ninguém se preocupa em procurar mais.” À pergunta se essa ideia se aplica à Europa actual ele responde que “ “Sim, é uma das suas características mais profundas. Estabeleceu-se uma verdade oficial, e ninguém tem interesse em desmenti-la. Quem o faz, pode ser castigado. Qualquer nação tem episódios menos nobres, e devia assimilá-los e aprender com eles, para não os repetir. Ter um olhar abrangente e, quiçá, misericordioso. Há que ter uma certa grandeza humana. E nós vivemos numa época dominada por grandes ideologias que impõem a sua visão da realidade, e habitualmente são visões com pouca grandeza humana, muito doutrinárias e maniqueístas. Por exemplo, o dinheiro tem um poder religioso.”

  Mais do que as minhas reflexões, esta entrevista é toda ela muito importante pelas questões que deixa no ar, (e todos nós que saboreamos a História, não nos limitando a engoli-la, já demos por alguns factos que não estão explicados, isto é, cujas causas se desconhecem. Por exemplo, como é que a França, no final dos anos 30, e com o armamento já desenvolvido, ainda confiava na Linha Maginot? E nós apercebemo-nos dessa lacuna).

  Já não é a primeira vez que leio uma apreciação destas. Um índio norte-americano falava da nossa história como uma versão da mesma e não a verídica. Há muitos autores que defendem que a História não é mais do que a versão dos vencedores. Assim sendo, a História não poderá ser considerada uma ciência pela falta de rigor. Assim sendo, corremos muitos riscos… E a quem interessará esta História mutilada, mascarada? Não aos povos, não às nações… nem favorece a própria História. O que é a História? Ela não é mais do que a memória dos povos, não a memória conjunta mas a soma das memórias individuais. As memórias das suas vivências boas e más. Tudo tem de ser estudado sem excepção, não há que ter medos ou vergonhas, há que enfrentar esses momentos maus, pensar sobre eles e aprender com os mesmos. Só assim a Humanidade avança verdadeiramente! Só a verdade contribui para o engrandecimento do Homem e das Nações. E a França é uma grande nação e a Verdade só poderá contribuir para a engrandecer ainda mais. E há que engrandecer a própria História, enquanto ciência, numa era como a que vivemos em que há pessoas que afirmam, (não sei em que é que se baseiam) que certos aspectos da História não aconteceram, que são mentira. Agora, mais do que nunca, é preciso estudar tudo a fundo e trazer tudo a lume, para que, no futuro, essa Verdade não venha a ser mal utilizada ou sequer questionada. Porque, ao contrário daquilo que se pensa, poder-se-á esconder a Verdade por muito tempo, mas não para sempre. A verdade acaba sempre por triunfar e que com ela triunfe a verdade. É para isso que serve a Literatura também – para abrir caminhos que ainda não se teve coragem de encetar. Quando a França, de uma forma mais serena, puder avaliar as suas feridas e trazê-las à luz do sol, a História da Humanidade trará um grande contributo não só à História do seu País mas também à da Humanidade.

  Há algum corajoso que se queira aventurar a estudar, de forma isenta, este campo ainda mal explorado em França?

 



publicado por fatimanascimento às 21:42
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