Ouvi na rádio e quase não queria acreditar naquilo que ouvia! Pela primeira vez, e depois de muito batalhar na ideia de que a igreja tem de acompanhar a evolução dos tempos, socialmente falando, o Bispo de Viseu veio publicamente anunciar a sua determinação em conseguir isso mesmo. Confesso que já tinha perdido a esperança que, alguma vez, alguém dentro da igreja tivesse a coragem de tomar essa posição. A situação era tal que confesso que esperava mais uma espécie de fundamentalismo do que abertura, por parte da nossa igreja. Depois, os raros diálogos estabelecidos com alguém meu conhecido, ainda novo, também pertencente à igreja, deram-me também a impressão disso mesmo. Confesso que já perdera a esperança chegando mesmo a abandonar, de forma irreversível. A ideia que tenho é que há muito de igreja na filosofia da sua conduta e pouca mensagem de Jesus. E não sentindo Jesus nela, nada, para mim, faz sentido. Posso dar exemplos que confirmam isso mesmo, mas será necessário? Todos nós já conhecemos a posição discriminatória da igreja relativamente a alguns assuntos sociais. Eu questiono-me sobre o que Jesus faria se estivesse no lugar desta igreja tão alheada da realidade social e a perder o passo na marcha do tempo. É claro que a resposta que encontro, no meu coração, em nada favorece esta actual igreja na qual já pouco me revejo. Respeito-a, embora discordando com quase todas as posições sociais que ela vem defendendo. O que aconteceu, na evolução desta, para haver este fosso actual entre igreja e sociedade? À igreja cabe o papel de apoiar e não de julgar.
Não sei o que o Bispo de Viseu tem em mente, (nunca o vi!) mas, para já, a sua posição é bastante inteligente e corajosa. Resta saber se a sua amplitude de visão dá para abarcar mesmo todos os aspectos sociais. Depois, olhando para uma igreja toda ela hierarquizada, (quando o maior papel, e único, deveria ser só o de padre!), pergunto-me até quando esta posição se conseguirá manter de pé, sem que alguma posição de força a venha subtilmente tentar subjugar. Vamos a ver se esta abertura não tem a mesma sorte da curta e célebre “Primavera de Praga”!
(Ainda a propósito... Outro texto aproximadamente da mesma altura do outro, este acho que foi escrito em 2005, uma vez que o recuperei de um caderno de uma das disciplinas da pós-graduação que fiz nesse ano.)
Falar de religião ou religiões não é, forçosamente, falar de fronteiras. Bem pelo contrário, as religiões, todas elas, em vez de dividirem a população mundial, deveriam uni-la. Como? Embora a prática seja específica de cada religião, e a arquitectura dos templos varie segundo o país/cultura ( as mesquitas, as sinagogas, os templos budistas, etc., toda a população mundial com uma cultura média as consegue reconhecer pelas suas características específicas), contudo, a mensagem é uma só: O AMOR A DEUS, A SI PRÓPRIO E AO SEU SEMELHANTE. Porque será que esta mensagem é tão difícil de compreender, aceitar e pôr em prática?
Eu nasci numa família de classe média baixa, religiosa q. b., fui baptizada, tive uma educação a condizer – frequentei um colégio fundado pelas irmãs de S. José de Cluny – fiz a primeira comunhão e terminei com o crisma. Para além do amor a Deus, da profunda mensagem de Jesus e do seu incomparável exemplo, sempre me ensinaram a respeitar os outros, independentemente da sua raça, credo, cultura, condição social, etc., e é isso que eu tenho tentado fazer durante toda a minha vida.
Ora, eu tive a oportunidade de conhecer pessoas de outras religiões e de conhecer algumas das suas “Leis”. Sim, porque parece que algumas das religiões têm também as suas leis. Uma das que mais me chocou, foi a da Igreja de Cristo dos Últimos Dias ( é mais ou menos este o nome dela) quando uma amiga minha muito querida me disse que eu, pelo facto de ser católica, nunca poderia entrar numa igreja deles, nem mesmo pelo casamento dela. (Eu não me importaria (e até gostaria) de a acompanhar à igreja dela, nesse dia, e até noutras datas festivas. Porque não?) Nessa altura, eu fiquei contente ao perceber como nós, católicos, mantemos as nossas igrejas abertas a todas as pessoas, sem excepção. É esta abertura de espírito que eu admiro nas religiões, sejam elas quais forem.
Uma das pessoas que eu mais admiro e gosto, para além do nosso Papa João Paulo II, é o nosso Dalai Lama, há tantos anos exilado na Índia, e cuja atitude perante o que se passa no seu país, o Tibete, e perante o mundo inteiro que teima em ignorar essa situação é exemplar. Não me repugnaria entrar num templo budista e rezar com eles. Porque não? A linguagem religiosa é una e todos nós, os que rezamos, fazemo-lo pelo bem, seja em que idioma for, seja em que ponto do mundo for. Ou não será assim?
O que mais me assusta e me deprime, são as leis religiosas, a forma como se interpretam e se cristalizam nela. Ora, o mundo está em contínua mudança, para melhor e para pior, como toda a mudança, como poderemos olhar para uma sociedade através de uma lei que já nada tem a ver com ela?
Ao falar com um conhecido meu, um padre e pessoa que eu estimo e estimarei sempre, quanto mais não seja pelos velhos tempos, ele dizia-me que o movimento adepto das leis está a tomar um novo vigor, e deu-me como exemplo as outras religiões, nomeadamente o fundamentalismo muçulmano. Ele não foi muito feliz na escolha e fiz-lhe notar o que se passava com os fundamentalistas. Lembrei-lhe o ódio e o medo que espalhavam por todo o mundo, até nos seus próprios países. Se seguir a lei religiosa é sinónimo de intransigência, medo, exclusão, incompreensão, intolerância, etc., então, os séculos que se aproximam não auguram nada de bom para nós, os fiéis.
A leiga,
Maria de Fátima Dias
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