Não sabia o que esperar deste exame e, como todas as pessoas, fiz uma ideia que não se distanciaria muito dos conteúdos leccionados, quer no que diz respeito aos conteúdos gramaticais quer no que diz respeito aos autores estudados. E ao folheá-lo fiquei, a determinada altura, espantada, ao dar de caras com o texto dramático nele apresentado. Agora que já se realizou, já posso falar dele. Após a conclusão do mesmo, e passados alguns dias, tive oportunidade de o folhear, em casa, na presença dos meus dois filhos mais velhos. Ela, sem qualquer problema, resolveu esse exame com facilidade e com a atenção que a caracteriza; ele, um aluno que não gosta de estudar, mas que se esforçou para a realização dele, teve mais dificuldades. Dedicou-se à epopeia Os Lusíadas de Camões e ao Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente. Um destes sairia no exame. Com a falta de atenção que o caracteriza, ele lá foi estudando o melhor que soube e pôde, com os muitos nervos que o dominam em situações de ansiedade. Para grande desânimo seu, o texto dramático, que deveria ser O Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente, foi substituído por um que eles nunca tiveram oportunidade de ler. Isto, de certa forma, deixou-me também desanimada: para os alunos mais fracos, isto representou uma armadilha. Conhecedores do texto vicentino, eles conseguiriam sair-se muito melhor, creio eu. O texto já havia sido lido e analisado nas aulas e eles estavam mais familiarizados com ele, a linguagem, as personagens… Era mais uma oportunidade para eles, que, deste modo, terão visto logrado o seu objectivo – ter nota que os ajude a passar o ano e a concluir aquele que, para eles, representa a saída do ensino e a oportunidade de conseguirem optar pela aprendizagem de uma profissão que os possa ajudar a entrar no mercado de trabalho. Seria exigir muito, se pedirmos que, para bem destes alunos, tratem de respeitar os conteúdos da disciplina, aquando da realização destes exames nacionais? Seria mais justo para todos os alunos e, sobretudo, para aqueles que não gostam de estudar. (Porque há alunos que não gostam de estudar!) Ainda não percebi qual o critério que levou os elaboradores do mesmo a trocar o texto vicentino pelo outro, nunca antes visto pelos alunos… que será que lhes passou pela cabeça? Desçam à realidade, meus senhores, e tratem de perceber o que se passa no campo.
Cada dia se torna mais difícil manter um emprego, pelo menos quando os problemas se avolumam, acabando na dicotomia - ou eu ou o emprego. Foi o que aconteceu comigo, após quase vinte anos de ensino. Ao longo destes anos todos, passei por muitas escolas, só repeti uma, e de todas guardo boas recordações e com todas tenho boas relações. Sempre encontrei pessoas dispostas a ajudar e a cumprirem bem com o seu trabalho, o que originava um bom trabalho de equipa e um ambiente óptimo. No ano passado, tive a triste ideia de pedir destacamento para uma escola mais próxima da minha residência e foi o que poderia ter feito de pior na minha vida, uma vez que, ali, fiz a descida aos infernos. Nunca me lembro de me sentir tão mal numa escola. Desde que para lá entrei, confrontei-me sempre com perseguições mais ou menos dissimuladas que acabaram, à falta de outros motivos, com uma falta injustificada. Sabendo que, depois desta falta, os problemas teriam tendência a agravar-se, se lá continuasse, resolvi pedir a rescisão do contrato que me ligava ao ME, no dia dois de Agosto de 2007. Em Setembro, a escola onde estava efectiva contactou-me dizendo que o ME tinha devolvido o meu pedido porque teria de ser dirigido ao Presidente do Conselho Executivo da escola a cujo quadro, eu pertenço, e que teria de pedir a exoneração do cargo. Reformulei o requerimento nos termos requeridos e enviei-o por correio. Acabou assim a minha relação de quase vinte anos com o ensino. Esta falta injustificada, que só me foi anunciada dezassete dias depois, faz-me muita confusão. Nunca tal me aconteceu… e nunca pensei que tal me fosse acontecer, logo a mim, que sempre fui tão cuidadosa.
No final do ano lectivo, já muito cansada, eu tentava passar a informação que estava no placcard dos exames do secundário, e não só, para a minha agenda. Primeiro a informação parecia que não entrava na minha cabeça e a que entrou, foi para emendar o que estava bem. No dia seguinte, cheguei atrasada ao exame. Muito aflita, expliquei o que se tinha passado ao Conselho Executivo daquela escola, a dificuldade que tivera em passar a informação e a confusão que fizera. Fui ao médico, nessa mesma manhã, e expliquei-lhe o que se passava. Exaustão, foi o diagnóstico. Para evitar arranjar complicações para a minha vida e a dos alunos, resolvi faltar aos exames e pedi um atestado que pensava que cobrisse o período até às férias que começariam a 16 de Julho. Outra confusão minha. Começavam a dezoito. De modo que o atestado ia só até 13 de Julho que era sexta-feira. Estava em casa descansada. Comecei as férias e, no dia dois de Agosto, o empregado da secretaria que trata das faltas dos professores comunicou-me que lhe chegara, naquele dia, uma falta minha injustificada do dia 16 de Julho. Depois de algumas trocas de telefonemas, para eu tentar descobrir o que sucedera, fiquei a saber que fizera mais uma confusão, e que as férias começavam só a dezoito. Fiquei arrasada! O senhor sugeriu-me que tentasse encontrar um médico que me passasse um atestado. Após dezassete dias da falta? Fiquei admirada com a sugestão. Seria gozo? Comuniquei-lhe que nesse mesmo dia iria pedir a rescisão do contrato (que não era rescisão!) como já expliquei anteriormente. Sempre me fez confusão esta falta… como é que dão pela falta só dezassete dias depois? Quem é que não fez bem o seu trabalho? O secretariado de exames, o conselho executivo ou o senhor que trata das faltas? Gostava de saber quem é ou são os responsáveis por esta falta comunicada tanto tempo depois. Nas outras escolas, os serviços comunicavam com os professores informando-os das faltas, poucos dias depois da data das mesmas, e lembro-me dos colegas agradecidos responderem que iam enviar atestado… como as pessoas fazem toda a diferença!
Hoje, dia 2 de Agosto de 2007, é um dia decisivo na minha carreira como professora – acabo de pedir a minha demissão. Entreguei, esta manhã, o requerimento que vai acabar com o que seriam quase vinte anos (faria 20 anos em Setembro de 2008) de carreira como professora do Ensino Básico e Secundário (é claro, que se forem a descontar os dias de baixa por doença, como o fazem para efeitos de concurso, são menos!). Mas, foi nos finais de Setembro de 1988, que me apresentei, pela primeira vez, numa escola. A experiência, no seu geral, salvas algumas excepções, foi positiva. O que me levou a tomar tal iniciativa? A desilusão. Eu conto. Este ano lectivo foi particularmente difícil para mim, muitos problemas pessoais, uma turma mais difícil que exigiu maior atenção, o cansaço acumulado de outros anos, a mudança de escola, constituíram um stress que me levou ao limite das minhas forças anímicas, isto é, cheguei ao final arrasada, e com todos os sintomas aliados: confusões, perda de memória, dores de cabeça, etc.. Dado o meu estado fisico, tinha intenções de marcar as minhas férias a partir de 16 de Julho. Ao que parece, só o poderia fazer a partir de 18 (lembro-me, agora que falei com o responsável) porque tinha exames até 16, inclusivé. Continuei a trabalhar, sabendo que não me sentia bem, mas tentando resistir. Até que um dia, ao retirar notas do placard onde se encontrava o serviço de exames, parecia que a mensagem não me entrava na cabeça, era como se um bloqueio invisível impedisse que a mensagem entrasse. Risquei algumas notas já rabiscadas e emendei-as. Tinha serviço de exames tal dia (já não me lembro qual!). Fui para casa descansada. Tudo parecia estar
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