É muito conhecido pelo seu trabalho. Agora, é de novo notícia devido à sua suspensão do cargo que, até ali, ocupou. Depois da tristemente conhecida guerra civil que matou imensas pessoas, a Espanha mergulhou numa ditadura dirigida pelo general Franco. Durante a sua governação, e tal como em todas as ditaduras, perseguiu todas as pessoas que se lhe opunham de alguma forma. Muitos desapareceram. Presume-se que os tenham morto. É assim que agem as ditaduras: limpa-se o que não interessa, isto é, as pessoas incómodas. Depois desse tempo conturbado, embora aparentemente sereno, (só aparência!) os familiares pediram autorização para investigarem o desaparecimento de familiares. Compreendo perfeitamente a sua angústia. Se me tivessem desaparecido familiares, gostaria de saber o que lhes teria acontecido. Passado algum tempo, os movimentos de extrema-direita fizeram, e conseguiram fazer passar uma Lei da Amnistia, em 1977, no parlamento que pretendia enterrar o passado. Ora, essa lei parecia não estar de acordo com o Direito internacional, no qual se baseou o juiz para tomar tal decisão. Agora, basearam-se nesse argumento para o atacarem. Acusam-no de prevaricação. Ao encontrarem-se as valas cheias de corpos, o medo deve ter tomado conta dos herdeiros ideológicos da ditadura. Ora, ninguém quer vingança. Ninguém está a pedir nada que seja imoral. Toda a gente tem direito de saber onde repousam os restos mortais dos familiares. O que acontece é que se pretende apagar da memória das pessoas a outra face da ditadura franquista - o horror. Mas o que acontece realmente é que, nas suas investigações apanhou pessoas corruptas altamente posicionadas dentro do partido de direita (PP) e não só. É natural que, ao mexer com tantas pessoas poderosas, ganhasse inimigos. Ganhou-os de certeza. Esta decisão jurídica, embora legalmente apoiada, nada mais é do que vingança. Para certos sectores, não interessa alguém como ele num cargo como aquele que ocupa. É demasiado incómodo! Assim, tratam de o afastar! Temos direito ao passado e queremos a verdade. Ele deu-nos isso! Vamos deixar que interesses obscuros tentem acabar com a carreira de Baltazar Garzón só porque querem esconder o que não lhes interessa que se saiba? Será este o destino de pessoas rectas como ele? Não é preciso o ditador, o legado dele aprendeu bem a lição e está a aplicá-la. As ditaduras, ao contrário do que se pensa, não são só os ditadores mas todos aqueles desconhecidos que os rodeiam e seguem. Nem acredito que isto se passe actualmente em Espanha ou mesmo noutra parte do mundo! Esta posição é inconcebível em democracia!
Sempre tenho ouvido pessoas dizer “Nem parece que tem um curso superior!” como se ele desse uma formação moral às pessoas! De facto, as pessoas confundem a formação profissional com a pessoal. E nada tem a ver uma coisa com a outra. Isso já se vai percebendo… Percebe-se que há criminosos em todas as faixas profissionais, distribuindo-se pelas várias hierarquias e também na mesma hierarquia. Cada vez mais, e a partir de um certo nível, é mais difícil agir sozinho. Digo sozinho, porque não se age, às escondidas, sem que alguém minimamente interessado pelo trabalho que executa, não dê por isso. Um buraco de 700 milhões de euros, não é algo que passe despercebido, nem mesmo a uma investigação do Banco de Portugal. Segundo parece, existe mesmo prática criminal, uma vez que tudo indica ter havido duplicidade em todas as práticas administrativas levadas a cabo por administrações anteriores, que conseguiram, dessa maneira, iludir a vigilância do Banco de Portugal. Resta saber como vai tudo terminar… se é feita justiça ou se se resolve o problema unicamente com a injecção de dinheiro no banco, esquecendo tudo o resto. Há um velho ditado português que diz que “quem rouba um tostão é ladrão, mas quem rouba um milhão é barão.” Ao contrário do que aconteceu na vizinha Espanha, onde tudo parece ter solução, aqui, tudo fica por resolver! Se não vejamos o caso do banqueiro Mário Conde ou os casos policiais que se resolvem satisfatoriamente, tendo mesmo a polícia espanhola recebido um prémio pelo seu desempenho satisfatório numa recente investigação. Isto vem levantar a questão da importância da formação pessoal dos profissionais. Tenho um amigo meu que sempre ouviu o pai dizer que “quem parte ou reparte e não fica com a melhor parte, ou é tolo ou não tem arte”. É claro que ele, quando teve a sua oportunidade, prejudicou alguém que havia concordado em lhe emprestar algum dinheiro. A pessoa confiou, os pais eram amigos dela, e ele apoderou-se do dinheiro todo. Passado algum tempo, a senhora morreu. Possivelmente com o desgosto. Isto mostra como a educação tem peso no desempenho da pessoa durante a sua vida. Há muitos que não ligam a este tipo de educação, encontrando eles próprios o seu caminho. Mas são raros. Tenho uma boa amiga minha que trabalhou durante muitos anos para uma firma francesa. Segundo ela, tudo correu bem enquanto a firma esteve sob administração gaulesa, o pior foi quando ela foi entregue aos portugueses: foi o descalabro. Ela demitiu-se, recusando-se a pactuar, segundo ela, com práticas com as quais ela não concordava. Ainda um dia destes, um secretário do estado afirmava, em relação à concessão das matas nacionais à iniciativa privada, que não devemos ter medo dela. Pois eu acho que devemos ter muito medo dela, e embora o Dr. Constâncio discorde, deve-se andar sempre atento a ela… é que nunca se sabe de onde e quando vem o mal… Depois, se ainda por cima não se apurarem responsabilidades e se estas não forem punidas… está tudo dito sobre este país. Eu não acredito num país assim!
Fátima Nascimento
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