A diferença entre patrões e operários é óbvia, à partida: uns têm uma posição de liderança enquanto os outros ocupam a de liderados, isto é, limitam-se a executar as suas tarefas o melhor que sabem e podem, vestindo a camisola da empresa e sabendo que o bem daquela é o bem deles. Mas não é suficiente para aqueles. Embora a diferença esteja definida, a verdade é que, se esquecermos esta, vemos uma equipa inteira a trabalhar como um corpo só, para o sucesso do projecto. E tudo corre bem até ao momento em que começam a surgir, mesmo que aparentemente, problemas. Aqui as posições divergem claramente tornando-se, muitas vezes, opostas e irreconciliáveis. E se observarmos o mercado de trabalho, não podemos deixar de perceber as diferentes posições de ambos. É lógico que, para tudo, há excepções e temos sempre de contar com elas, para não cairmos no erro de sermos injustos para com quem não merece.
Enquanto por parte de alguns patrões vemos que a sua única preocupação é o ganho que poderão ter com as empresas, fechando-as, muitas vezes, porque não são tão rentáveis como esperavam para, depois, abrirem noutro local do mundo, vemos trabalhadores que, mesmo não sendo pagos, regressam fielmente todos os dias aos seus locais de emprego para desempenharem a sua função dentro da empresa.
E são estes que, quando a empresa declara falência, se mantêm defronte do edifício, ao estilo de velório, esperando aquilo que lhes é devido e que nunca chegam a receber; e não falo só da perda do emprego mas, e muitas vezes, do dinheiro que lhes é devido e que nunca mais vêem.
Depois, ainda vêm estes tempos de crise, oportunamente explorados por alguns governos (que nos meteram nesta crise com más administrações) para retirarem os poucos benefícios conquistados pelos trabalhadores, em anos anteriores. Entre governos assim e patrões inumanos estão os trabalhadores espartilhados. O futuro, que bem poderia ser mais brilhante, porque há outras maneiras de resolver esta crise (assim houvesse vontade) vai ser bem negro, para os trabalhadores que o mesmo é dizer – o povo!
Para quem viveu aqueles tempos, percebe que todos os direitos justamente conseguidos com a revolução se perderam com o tempo. Após aquela lufada de ar fresco, a marcha-atrás começou sub-repticiamente a delinear-se. Agora, evocam-se todos e quaisquer motivos que para retirarem esses direitos e todos tão obviamente reaccionários que não dá para perceber como é que os políticos que os utilizam conseguem acreditar ou pensar que alguém consegue acreditar em tais disparates. O povo cala-se, revolta-se em silêncio, desabafa-se nas conversas de café e é tudo, regressando depois a casa com a mesma sensação de impotência e descrédito perante um país no qual já não acreditam. Não é o país. São as pessoas que estão à frente dele. Não falo só de políticos. Trata-se de toda uma classe dominante, política e economicamente, que só olha para os seus interesses, esquecendo tudo o mais. E recorrem a tudo para manterem e consolidarem a sua posição. Mais nada interessa, mais ninguém interessa. Em cada proposta de mudança, se percebe isso. Tudo obedece a vectores económicos que justificam os meios. Percebe-se toda uma movimentação ascendente e descendente capaz de tudo para conseguir levar avante os seus propósitos que, mais ou mais cedo, são descobertos e denunciados (quando são). E é sempre tudo mentira! Mesmo perante as provas, as mentiras insinuam-se e transpiram pelas malhas da esperteza, tentando manter uma reputação mortalmente ferida. Perdeu-se a credibilidade, mas pedem-nos que acreditemos. Ninguém já tem ilusões quanto ao futuro. A vida não muda para quem depende do seu trabalho para sobreviver. Paga a crise enquanto outros se servem dela. Trabalha bastante em troca de salários que apenas cobrem as suas necessidades essenciais. Pediram-nos para fazer férias cá dentro para evitar a saída de divisas para o estrangeiro. Não estão a falar para a maioria dos portugueses, está claro, estão a falar para uma minoria. A maioria não consegue deslocar-se seja para onde for, sem pagar o preço elevado por ela. Ou seja, não o faz. Pelo menos, as famílias! Vou-me deixar de rodeios e falar de assuntos concretos. Vamos a uma famosa cadeia de restaurantes. Os jovens que lá trabalham, estão sujeitos a uma pressão e a uma ansiedade tremendas em troca de um salário miserável. Mas aceitam, ainda assim. É melhor do que nada. A sofreguidão pela necessidade do dinheiro leva à cegueira e esta conduz invariavelmente a vários tipos de exploração do homem pelo homem! Há mais pessoas a trabalharem nestas condições, nas mais diferentes actividades. Nada mudou, após estes anos todos e o que mudou está, lentamente, a voltar atrás. As revoluções são boas para abanar o sistema de vez em quando e para nos interrogarmos sobre o que está mal. Nada mais. Se não houver vontade de mudar, é tudo inútil. O que acontece a todos os homens de poder é a inevitável corrupção. Quando estreitam o cerco à fuga ao fisco, quando se consegue, questiono-me sobre se o fazem justamente a todas as empresas. Questiono-me também se esta exigência não deveria ser acompanhada de uma fiscalização adequada e eficaz que fizesse frente ao despesismo do estado. Não ouvimos permanentemente de derrapagens financeiras? Num mundo movido por interesses, não podemos esperar modificações significativas, com que todos intimamente sonhamos, desde que não haja vontade para tal. E não há! Mesmo com as revoluções, as mudanças são só momentâneas, as forças ocultas esperam só o momento necessário para se tornarem visíveis quando o momento adequado chegar. E os momentos de crise parecem ser os ideais para tal! É o momento onde vale tudo! Por isso, talvez, elas existam. E com mais frequência do que desejamos!
Por muito que se faça, fica ainda sempre muito por fazer… Sempre que passamos por uma obra, vemos muitas regras de segurança, que mesmo não sendo peritos, percebemos que há falhas. Muitas vezes, começa pelo próprio patrão, que, tendo começado como trabalhador, já não observava quaisquer regras de trabalho. Depois, vem a adaptação ao material de protecção, e aos objectos usados na segurança dos trabalhadores… que, aliados à pressa de começar a trabalhar, ao cansaço, etc., acabam por ser descurados. Como alguém me dizia, há algum tempo atrás “Temos de começar uma hora mais cedo a trabalhar, só fazermos aquilo que eles querem!” Não é bem assim. Há objectos de sinalização que não é preciso tocar mais, quanto ao material com que se protegem, é só uma questão de hábito. E o problema reside aqui – no hábito! Falando com outra pessoa, cujo trabalho não implica os riscos do outro, sobre o aspecto da protecção e da segurança, ela conhecia toda a informação, mas, com a pressa, reconhecia que não as aplicava. Era tudo à pressa. Quando lhe falei no esforço do cumprimento dessas regras aprendidas, desde os primeiros tempos, que lhe facilitaria depois a vida, evitando possíveis futuros problemas de saúde, ela reconheceu que teria de fazer um grande esforço para não se esquecer de as cumprir. Isto lembra-me uma ideia defendida pela OIT, que defendia que esta sensibilização deve começar desde tenra idade. Os dois exemplos, acima ilustrados, vêm sublinhar essa mesma filosofia. Entendo que, mais do que regras, elas devem ser encaradas com a sensatez com que lavamos as mãos antes de comermos – uma necessidade. E esta sensatez deve guiar todos aqueles que trabalham, desde patrões a empregados. Todos ganham com essa preocupação. Os mais interessados serão os próprios trabalhadores cuja saúde pode ser afectada de forma que pode ficar incapacitado de trabalhar para o resto das suas vidas, e se olharmos às pensões recebidas do estado… Quanto aos patrões, é certo que também eles têm a ganhar, porque um trabalhador bem protegido, trabalha com mais desembaraço (facto observado pela OIT). Aqui há uns anos atrás, ainda não se ouvia falar tanto de segurança e já eu ouvia, ainda pequena, nas conversas dos adultos, as preocupações dos trabalhadores, cujo trabalho exigia o contacto com substâncias químicas, às quais se encontravam expostos, e dos medos que eles tinham dos acidentes. Como eu me lembro deste senhor, de meia-idade, que me mostrava a estreita arrecadação onde os frágeis recipientes de plástico, se encontravam arrumados e os apontava com o dedo, temendo tocar-lhes. O pior, dizia ele, era durante a mistura…
A segurança é um aspecto que toca a saúde de todas as pessoas, desde o emprego aparentemente mais inócuo, ao que envolve mais riscos e esforços físicos, e o bolso de todos os contribuintes, pelo que deve ser respeitada. Todos temos a ganhar com isso.
Bravo, senhor Presidente. Já desesperava por encontrar alguém que visse os problemas da nossa sociedade e os ajudasse a denunciar. Não se trata de denunciar só por denunciar, mas no sentido de tratar de arranjar soluções, o mais justas possíveis, para construirmos uma sociedade mais justa para todos. Hoje, o senhor Presidente da República deu uma ajuda nesse sentido e não é a primeira vez que o faz. Sempre achei que a figura do Presidente da República deve ser tudo menos meramente decorativa, ou de ser um mero mediador de conflitos… ele deve ter um papel mais interveniente a nível social, não só com vista a eleições mas preocupações verdadeiras, afinal, ele é o presidente de todos, os que votaram e dos que não votaram nele. Eu não votei nele, (ainda me lembrava dos tempos em que ele, enquanto primeiro-ministro, não se importou tanto com o aspecto social!) mas devo dizer que ele me está a surpreender neste sentido. Estou de acordo com ele. Num país onde o ordenado mínimo é muito baixo e onde há muita pobreza, acho que a riqueza está muito mal distribuída: há aqueles que ganham muito e aqueles que ganham muito pouco. Não é que não saiba bem ganhar muito, o que não está certo é haver uns que ganham mais do que o suficiente para fazer frente ao alto custo da vida, enquanto outros há que mal conseguem sobreviver. Numa democracia a igualdade deveria ser uma prioridade, mas não é. Mesmo dentro dos empregados do estado há uma discriminação muito grande, como toda a gente sabe. Agora, estamos enfrentar uma crise hedionda que nos está a afectar a todos, mas todos gostaríamos de lhe fazer face com mais uns quantos cêntimos no bolso. Só que a única coisa que temos em comum é essa mesma crise. Não acredito em pessoas, sejam elas de que quadrante político forem, que não olham para o lado e se interessam pelo que se passa ali, vivendo única e exclusivamente para a sua vida estando-se a borrifar completamente para a vida dos outros. Eu, neste momento, estou desempregada, mas quando trabalhava, e sabendo que não tinha um ordenado por aí além, quando comparado com outros, não me importava de receber menos se isso fosse beneficiar alguém mais carenciado. Embora eu saiba que nunca se deve procurar a solução por baixo mas sempre por cima, e enquanto tal não for possível, teremos de nos contentar com uma solução menos feliz para todos. Mas mais justa…
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