opiniões sobre tudo e sobre nada...
Quarta-feira, 3 de Setembro de 2014
Avaliação de desempenho por colegas
Não são todos. Mas existem. E o que acontece a quem se depara com pessoas desta natureza?
Aconteceu este ano. Tinha acabado uma reunião. Durante a mesma, ficara combinado que as duas responsáveis do departamento – a Coordenadora e a Delegada de grupo – dividiriam os quatro relatórios dos professores contratados pelas duas. O critério? Quem tinha mais aulas na Secundária seria avaliada pela delegada, as outras seriam avaliadas pela coordenadora do departamento e docente da outra escola. Decidiram que eu tinha mais aulas no primeiro estabelecimento de ensino – a Secundária. Não me perguntaram nada. Também não disse que tinha mais turmas na outra escola. Aceitei a decisão de terceiros. Os membros dispersaram-se e eu fiquei para trás. Não sei o dia exacto. Não interessa. Enquanto me preparava para abandonar a sala, ouvi a Delegada falar em voz baixa com uma colega. Sem querer, ouvi tudo o que diziam. Se percebesse que não falavam sobre mim, teria ignorado a mesma, mas era. E o conteúdo era preocupante. Uma dizia que “ não sabia como iria dar “suficiente” a um relatório daqueles – o meu! Ao que a outra respondeu que “alguma coisa haveriam de arranjar.” Fiquei chocada. Se eu já me tinha apercebido da má vontade em relação a mim, ali tive a certeza. Ora, o meu desempenho não foi melhor nem pior do que o dos anos anteriores. Além de ter dado a matéria toda, ainda tive oportunidade para realizar actividades com os alunos. E não foram poucas. Envolvi-me noutras realizadas por colegas. Não sei o que poderia fazer mais. Mesmo que fizesse, talvez não fosse suficiente. O que sei é que, com pessoas assim, estamos sempre tramados. Não há nada a fazer. Depois, a má vontade torna-se generalizada. É como uma doença altamente contagiosa. Percebi isso na maneira como as pessoas me olhavam e falavam para mim. Ignorei sempre, fingindo não perceber. Não foi fácil. Até uma turma de alunos mais velhos fazia tudo para me prejudicar adiando apresentações de trabalhos orais. Numa reunião com a Direcção contei isso mesmo e até a Subdirectora do agrupamento não conseguiu deixar de proferir que “pessoas dessas têm de ser prejudicadas para perceberem a importância da responsabilidade”. Ela compreendera. Eu deveria ter retirado às notas alguns valores. Não o fiz. Com paciência e determinação, levei a turma a bom porto. Eu deparei-me com esta situação este ano. Mas não vou ter a pretensão de ser a única. Talvez, por isso mesmo, e para evitar injustiças na avaliação, esta devesse de ser externa e realizada por pessoas isentas que não conheçam a(s) pessoa(s) avaliada(s). Também não vou ter a pretensão de que esta é uma situação generalizada. Quero acreditar que não. Conheci, na reunião de professores correctores de exames nacionais, uma colega que não queria sair da escola onde estava e onde todos os colegas eram boas pessoas. Percebi. Tinha medo de ir parar a uma outra cuja realidade fosse diferente. Muitos docentes têm.
Terça-feira, 17 de Setembro de 2013
O desemprego docente e o défice orçamental
Os professores são funcionários públicos. Fala-se do excesso de funcionalismo público. Os professores, depois do conhecimento do número elevado de desempregados, são considerados excedentários. Se não o fossem, não haveria necessidade de os deixar de fora. Há, portanto, professores a mais. Segundo a lógica governamental. É aqui que o governo, mais concretamente o Ministério da Educação, julga poder cortar despesa. Vamos a ver se são realmente excedentários. Depois de esperar a colocação, e sempre com uma menor atrás, fui pedir a transferência da pequena. Deparei-me com um panorama desolador. As turmas são enormes. Lista intermináveis de nomes. Mesmo as turmas com alunos NEE ultrapassam os vinte alunos. A escola assegura a colocação numa dessas turmas enormes. Mas não dá certezas. Se isso não acontecer, poderá ter de se deslocar para a escola da localidade mais próxima, caso haja vaga para ela. E assim por diante. É claro que não contei nada à pequena para não lhe criar qualquer tipo de ansiedade ou de insegurança. Mas estou preocupada enquanto Encarregada de Educação. Como irá ser o aproveitamento nestas turmas enormes? Principalmente, quando a indisciplina de alguns alunos é deveras preocupante. Como contornarão os docentes esta questão? Quantos mais são, mais força sentem. A possibilidade de distracção aumenta.
Depois disto, pergunto-me se há relação entre o cumprimento do défice orçamental e este desemprego alargado quase forçado. O dinheiro poupado à custa de um serviço sobrecarregado e desafiador do ponto de vista do professor (um tom de voz mais forte, um ruído de fundo desafiador…) e o problema de uma turma sobrecarregada de alunos (a desatenção, a falta de uma boa audição pode levar à distracção e ao desinteresse pelas actividades lectivas e possível abandono escolar).
O primeiro-ministro e os seus secretários de estado, e sabe-se que são muitos, que deveriam trabalhar numa solução para o défice continuam a fazê-lo à velha maneira: cortando no que deveria ser uma prioridade e nas classes mais desfavorecidas e desprotegidas: uma educação forte como aposta no futuro. Isto dá que pensar. Talvez o primeiro-ministro devesse abrir mão desses secretários de estado que parecem não ter utilidade. Para soluções destas não é preciso pôr tanta gente a pensar… ou serão simplesmente tachos para amigos?
Quinta-feira, 5 de Março de 2009
Trabalhar até morrer!
Parece ser a sina dos professores! Não sei o que se passa nas outras profissões, mas nesta, o governo parece ter encontrado uma forma de diminuir a despesa pública, poupando na reforma destes. Depois de tudo o que já foi veiculado pelos diversos meios de comunicação social, a política seguida pelo governo parece não ter sofrido qualquer alteração, pelo que nada mais resta aos professores a não ser esperar que a morte os apanhe em pleno exercício das suas funções. Tenho uma colega que, depois de ter sido operada a um aneurisma, nunca mais ficou em condições de trabalhar. O ruído incomoda-a, sofre de fobia a multidões, demora imenso tempo a realizar um simples trabalho intelectual, que antes fazia com imensa facilidade, para já não falar no problema com a reacção adversa a certos medicamentos… Tem sido sempre seguida pela Junta Médica de Lisboa, que sempre atestou a sua incapacidade para o trabalho. Ora, vendo que o problema se mantém, e não havendo solução para o mesmo, ela solicitou a reforma por invalidez. Num contacto recente, havido com o M. E., foi informada de que a Caixa Nacional de Pensões está a dificultar a vida a quem pretende sair do ensino, por problemas de saúde. Foi também informada que terá de trabalhar, pelo menos 31 dias, (uma vez que está já há um ano com baixa médica), após a próxima avaliação médica, e independentemente da posição desta, ou entrará forçosamente em licença sem vencimento. A docente fez questão em explicar minuciosamente a gravidade da sua situação mas de lá foram categóricos quando afirmaram que não haveria volta a dar à sua situação. Não sei o que estarão a pensar os que assim decidiram a vida das pessoas, mas de certeza que não estão a tentar resolver o problema delas, estando antes a complicá-lo. Quando chegamos a este ponto, onde a sensibilidade falta e é substituída por um outro sentimento que nada tem a ver com a pessoa mas com interesses alheios a ela, percebemos que nada mais resta esperar de um organismo que, ao contrário do que haveria de fazer - proteger as pessoas – atira-as antes para um labirinto laboral do qual não sabem se sairão vivas. Uma das soluções que me ocorre, e que já defendi antes, é fazer-lhes o mesmo que eles nos fazem – dividi-los e perceber quem são os responsáveis pela tomada de tal decisão e mover-lhes um processo por ela. Não é o estado, são as pessoas que ignoram relatórios médicos sérios, em nome de políticas ditadas por mentes mesquinhas. Enviar pessoas doentes para o trabalho? Onde já se viu isto? Que espécie de governantes temos nós? Eu não me revejo neles… em nenhum deles!
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