opiniões sobre tudo e sobre nada...

Terça-feira, 1 de Junho de 2010
Baltazar Garzón: o direito à verdade

É muito conhecido pelo seu trabalho. Agora, é de novo notícia devido à sua suspensão do cargo que, até ali, ocupou. Depois da tristemente conhecida guerra civil que matou imensas pessoas, a Espanha mergulhou numa ditadura dirigida pelo general Franco. Durante a sua governação, e tal como em todas as ditaduras, perseguiu todas as pessoas que se lhe opunham de alguma forma. Muitos desapareceram. Presume-se que os tenham morto. É assim que agem as ditaduras: limpa-se o que não interessa, isto é, as pessoas incómodas. Depois desse tempo conturbado, embora aparentemente sereno, (só aparência!) os familiares pediram autorização para investigarem o desaparecimento de familiares. Compreendo perfeitamente a sua angústia. Se me tivessem desaparecido familiares, gostaria de saber o que lhes teria acontecido. Passado algum tempo, os movimentos de extrema-direita fizeram, e conseguiram fazer passar uma Lei da Amnistia, em 1977, no parlamento que pretendia enterrar o passado. Ora, essa lei parecia não estar de acordo com o Direito internacional, no qual se baseou o juiz para tomar tal decisão. Agora, basearam-se nesse argumento para o atacarem. Acusam-no de prevaricação. Ao encontrarem-se as valas cheias de corpos, o medo deve ter tomado conta dos herdeiros ideológicos da ditadura. Ora, ninguém quer vingança. Ninguém está a pedir nada que seja imoral. Toda a gente tem direito de saber onde repousam os restos mortais dos familiares. O que acontece é que se pretende apagar da memória das pessoas a outra face da ditadura franquista - o horror. Mas o que acontece realmente é que, nas suas investigações apanhou pessoas corruptas altamente posicionadas dentro do partido de direita (PP) e não só. É natural que, ao mexer com tantas pessoas poderosas, ganhasse inimigos. Ganhou-os de certeza. Esta decisão jurídica, embora legalmente apoiada, nada mais é do que vingança. Para certos sectores, não interessa alguém como ele num cargo como aquele que ocupa. É demasiado incómodo! Assim, tratam de o afastar! Temos direito ao passado e queremos a verdade. Ele deu-nos isso! Vamos deixar que interesses obscuros tentem acabar com a carreira de Baltazar Garzón só porque querem esconder o que não lhes interessa que se saiba? Será este o destino de pessoas rectas como ele? Não é preciso o ditador, o legado dele aprendeu bem a lição e está a aplicá-la. As ditaduras, ao contrário do que se pensa, não são só os ditadores mas todos aqueles desconhecidos que os rodeiam e seguem. Nem acredito que isto se passe actualmente em Espanha ou mesmo noutra parte do mundo! Esta posição é inconcebível em democracia!

 

 



publicado por fatimanascimento às 21:45
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Quinta-feira, 8 de Outubro de 2009
Liberdade

Liberdade, para mim, é como respirar. Não consigo conceber existência sem liberdade. É como imaginar o mundo sem água ou ar. E, tal como estes elementos, é também bastante frágil. Chego mesmo a interrogar-me se ele não existirá só, na sua pura essência, em conceito. Quando falamos dela utilizamos este conceito mais no contexto político. É normal. Afinal, vivemos bastantes anos debaixo de uma ditadura férrea onde liberdade era uma simples miragem para os entendidos e os menos entendidos em questões filosóficas, sociais e políticas. Vivia-se sob um terror de se ser denunciado por uma palavra mal medida e que poderia ser mal interpretada. As conversas não ultrapassavam os temas banais. Com o vinte e cinco de Abril, a situação modificou. Todos puderam falar abertamente e transmitir o que sentiam e pensavam. A partir dessa data, tudo foi diferente. Agora vivemos em liberdade. Pelo menos, numa suposta liberdade. Isto é, ela está defendida na Constituição como um direito adquirido, uma vez que liberdade é sinónimo de democracia e vice-versa. O que se passa no dia-a-dia prova que nem sempre o que está escrito está vivo. Se por um lado há meios de comunicação da chamada imprensa cor de rosa que muitas vezes força alguns títulos só para vender, e nada de mal lhes acontece, a não ser a saturação das vítimas que, muitas vezes, não vêem outra saída senão processar as revistas em causa. Outros há que, ao realizarem um trabalho de investigação, são impedidos de os divulgar, mesmo estando conscientes das possíveis retaliações. Estou a falar do último caso passado na TVI. Refiro-me, em particular, àquela reportagem da autoria da Manuela Moura Guedes e de dois companheiros seus que foi proibida de passar no telejornal daquela empresa e que comprometia o primeiro-ministro. Este acontecimento não abona nada em favor deste último. Era ele quem mais tinha a perder com a divulgação deste vídeo que agora se encontra limitado à consulta na internet, conservando-se assim longe da maioria dos portugueses (dos votos). O nosso povo acredita que “quem não deve, não teme”. Se o nosso primeiro-ministro não teme, como já teve ocasião de dar a conhecer, por que é que alguém se julgaria no dever ou no direito de impedir a divulgação daquela reportagem? Em que critérios se terá baseado? Mas não é só isso que mais me intriga é o silêncio da própria classe política que nada diz a esse respeito. Será que fariam o mesmo se estivessem numa situação parecida? Não será esta atitude grave? Não é a liberdade um direito? Será que o mesmo se passa numa outra estação de televisão? Então, onde está a liberdade? Ou será a classe política intocável? Ou, pior ainda, ocupará a liberdade um lugar de segundo plano nos debates ideológicos entre partidos em relação à economia e outros assuntos? Será a liberdade um dado tão adquirido que não valha a pena pensar nela de vez em quando? Todos nós cometemos erros e a consequência natural é pagarmos por eles. Acredito mais numa pessoa que, apesar do possível erro, assume e deixa os acontecimentos correrem apesar dos riscos, do que aqueles que tentam evitar a todo o custo manchar a sua imagem, mesmo que para tal tenham de invadir a liberdade do próximo.



publicado por fatimanascimento às 14:40
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Segunda-feira, 24 de Novembro de 2008
O direito a estar doente

Para os adultos é complicado, sempre foi. Estar doente implica faltar ao trabalho e isso, pelo menos nos tempos que vão correndo, tornou-se quase um crime. Tudo quanto envolva a criação de riqueza é encarada como prioridade na sociedade actual. Se calhar, e se pensarmos bem, sempre foi assim. Só que agora, e depois de se terem conquistado alguns direitos, parece que forças contrárias tendem a escolher paradigmas ultrapassados. O trabalho cria riqueza, é verdade, mas esta não é tudo. Não é sobrecarregando as pessoas com horas de trabalho, ou evitando que faltem ao trabalho, que se vai conseguir uma sociedade feliz. Uma sociedade que não é feliz é uma sociedade instável, ainda que, aparentemente, mostre o contrário. As democracias precisam de pessoas responsáveis, inteligentes e sérias à frente de um país, sob pena de que tudo descarrile. Estamos a chegar a um limite, e todos já sentiram isso. É que as realidades, mais do que pensadas, são sentidas. A inteligência não é algo que se espartilhe numa pessoa. Nada mata a inteligência, nem ninguém fica indiferente ao que se passa num país. Portanto, não é aumentando a carga horária de um trabalhador que este fica mais estúpido, quando nunca o foi. Os próprios empresários reconhecem que o aumento da carga horária não beneficia ninguém. O equilíbrio beneficia todos. Enquanto os pais trabalham, os filhos, quando não têm ninguém para tomar conta deles, ficam ao cuidado das escolas que aumentaram as cargas horárias. Os alunos não têm tempo para dedicarem a si próprios, o que não os beneficia também. Chegam a casa cansados e lançam as pastas para o chão, sem vontade de lhes tocar. Não os culpo. Eu não sei dar o valor, porque tive sempre tempo para tudo. Tinha uma carga horária que me permitia estudar e brincar. Agora, os alunos, para além da escola, pouco mais tempo têm. Ultimamente, até o direito a estarem doentes lhes parece ter sido retirado. A minha filha mais velha está no nono ano. Esteve doente da garganta, tomou antibiótico e voltou para a escola. Não podem dar mais do que x faltas, sob pena de terem de fazer um exame no final do ano. Eu fiz-lhe ver que a saúde vinha sempre primeiro. Não quis saber, o espectro do exame falou mais alto. O resultado foi péssimo. O tempo veio dar-me razão. Passados dias, ela piorou. Agora, vê-se obrigada a ficar mais tempo em casa, aquele tempo que não teve antes. Os estudantes estão revoltados e têm as suas razões. Acho que não é atirando ovos à ministra que se resolvem problemas, mas o acto em si revela algum desespero. Sentem-se espartilhados, sem espaço de manobra. E ainda não experimentaram no mundo do trabalho… Mas pode ser que, até lá, alguém com imaginação, para além da formação, e com algum bom senso, já tenha encontrado uma solução para o problema das faltas por motivos de saúde. Eu sempre enfrentei essas faltas com a coragem necessária: faltava quando tinha de faltar. Não estava a enganar ninguém. O direito à doença é algo que não pode ser contornado.



publicado por fatimanascimento às 11:02
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