Um dia, entrei na biblioteca escolar, onde me encontro a leccionar e dei com alguns quadros pendurados na parede. Senti-me imediatamente atraída por eles. O traço, a atmosfera, a composição, o tema… alertaram os meus sentidos. Desloquei-me lentamente ao longo das paredes completamente fascinada com o que observava. À questão sobra a autoria dos mesmos, foi-me dito que eram de uma colega da escola. Não mais me esqueci daquelas pinturas que se haviam tornado tão familiares. Uns tempos depois, como não poderia deixar de ser, descobri a autora. Conversámos e estendemos a nossa amizade recente às ruas da cidade.
Um dia, quando menos esperava, ela lançou-me um desafio. Apresentou-me as pinturas scanizadas e pediu-me que, ao observá-las tentasse, construir uma estória para as mesmas. Estou habituada a desafios solitários, mas, apaixonada pelas imagens, respondi que iria tentar. Chegada a casa, observei atentamente as imagens que, segundo a autora não tinham relação alguma entre si. Não parecia conseguir arranjar um fio condutor entre elas. Fui tomada de um pânico súbito. Teria eu aceite um desafio que não venceria? Voltei a mergulhar nas imagens respirando a sua atmosfera… e tudo se tornou subitamente claro. Alinhei as imagens, deixando algumas de fora. Não, não era isso que pretendia e não era seguramente isso que a minha colega quereria. Depois, deste modo, nunca seria um verdadeiro desafio. O verdadeiro desafio passa por não deixar imagens de lado. Voltei a imergir na atmosfera das imagens… Desta vez, imagens adormecidas da minha própria infância soltaram-se no meu consciente. Voltei a colocar as imagens em ordem e… tinha o enredo acabado. Foi então que comecei a escrevê-la para não mais a deixar. Não demorou muito tempo. Mas, durante o tempo em que ela se gerava na minha cabeça, os mais diversos sentimentos tomaram conta de mim, numa viagem vertiginosa a todos os recantos do meu ser. Sim, as imagens tinham uma estória, a sua… foi só descobrir a sua mensagem ou melhor – a minha. Como todos enredos, ele pode ter o final que nós lhe quisermos dar. Este parece ainda não o ter. Embora já o tenha alinhavado na minha mente, algo em mim parece resistir ao acrescento. Mas tenho a certeza de que vou fazê-lo. Parece faltar qualquer coisa ao enredo. E os finais felizes são necessários para as crianças. Elas precisam de ter a esperança de que tudo tem uma solução, e que se não a encontramos não é porque não haja, só não a encontrámos.
Fátima Nascimento
Um Natal diferente não quer, necessariamente, dizer um Natal pior. Não houve a abundância de outros tempos, mas, em termos humanos, continuou a ser bom. Tivemo-nos uns aos outros, o que é o mais importante, o resto não interessa. Já há muito que percebi que, tal como aconteceu com Jesus, também, nós, os outros seres humanos, não pertencemos a este mundo. Vimos de Deus e vamos para Ele. A vida na terra não é mais do que uma passagem. É como um teatro que, em breve, terminará e o pano baixará, dando lugar a novas peças. A única coisa que nos resta é admirar e amar o planeta em que vivemos, admirando tudo quanto faz parte dele. É nele que está a nossa maior riqueza e não nos valores criados à sombra da vaidade e ganância humanas. Ver o mundo sob esta perspectiva, traz-nos de volta o espírito natalício, evitando que nos percamos por caminhos escuros e violentos. Não gosto da ideia da violência mesmo justificada com a necessidade de protecção, porque não acredito nela. Temos de nos defender, mas que seja do nosso semelhante, é que é triste. Esta ideia pressupõe um mundo escuro atrás de cada rosto sorridente. Eu optei por me afastar das pessoas que não interessam, continuando, contudo, a desejar-lhes o melhor. É uma forma de me proteger e manter a minha sanidade mental. Acredito, cada vez mais, que há pessoas boas, ou que lutam contra si próprias, para serem sempre melhores. Acredito naquelas que conseguem, através de tácticas diversificadas, livrar-se dos maus sentimentos que as levam a agir mal. Se uns conseguem outros também o conseguirão, é só quererem... mas nem todos querem. Enquanto a boa vontade for dominada pelos maus sentimentos que aprisionam as pessoas nas suas malhas, o mundo não consegue melhorar. O Natal talvez sirva para isso mesmo, para nos voltarmos para nós mesmos, (ainda que seja num só dia do ano!), e tentarmos ser melhores pessoas. Pelo menos que tentemos uma vez no ano... só assim será verdadeiramente Natal! Quando o Natal constituir um tal desafio, então, haverá verdadeiramente Natal e não só lindas decorações e prendas sonhadas que alimentam todo um comércio ávido de dinheiro. Assim, não será Natal só nesta época do ano, mas esse estado de alma alastrar-se-á ao resto do ano. Só assim se deixará de viver uma época, para se construir um mundo verdadeiramente melhor!
Neste sentido, o nosso foi um verdadeiro Natal.
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