Tive ocasião de apreciar alguns comentários produzidos numa reportagem sobre o último primeiro-ministro inglês. Amigos e conhecidos davam conta do seu carácter para sublinharem a sua personalidade no sentido positivo. O que me admirou, foi saber que ele não tinha uma política delineada que pudesse seguir. Pensava que todos os indivíduos, candidatos a lugares públicos de grande responsabilidade, tivessem uma ideia do que iriam e deveriam fazer quando ocupassem tais posições. Fiquei ainda mais impressionada quando o tal amigo dizia que isso não era relevante uma vez que ele estava rodeado de pessoas bem credenciadas para o assistir. Não quer dizer que não ouvisse as opiniões dessas pessoas abalizadas, mas depender deles para agir… é complicado! Por muito bom senso que a pessoa tenha, estar dependente dos outros, é sempre uma atitude limitadora. Pergunto-me se, para ocupar um cargo desses, um candidato não deverá ter mais do que o simples carisma. Às vezes, julgo perceber que, por trás do nosso primeiro-ministro, há uma ou mais pessoas poderosas com muita influência sobre as suas decisões. Talvez seja isso que o faz tomar uma decisão, para logo mudar de opinião. Mas é só uma impressão. E se se rodeiam das pessoas erradas? A influência destas é sempre decisiva! Ninguém tem a coragem de ignorar a opinião de alguém reconhecido como perito numa certa área. A tendência não será seguir os conselhos deles? Como nunca se conhece verdadeiramente a pessoa por trás dos conhecimentos, é difícil aceitar que estamos nas mãos de certas pessoas de quem nem a cara conhecemos! E se essas pessoas usam negativamente esses conhecimentos? Se houver algum problema saem sempre tranquilos dele! Talvez seja por isso que não avaliam o desempenho dos primeiros-ministros: o trabalho não é só deles!
Não é a primeira vez que oiço falar de um caso assim, num bairro com as mesmas características deste, edificado numa cidade do interior, e cuja construção se baseou na mesma filosofia… errada.
Há já muitos anos atrás, ainda andava eu a esquadrinhar o país, naquela vida ambulante que todos os professores têm, antes de se conseguirem efectivar, numa escola perto de casa, quando tomei conhecimento dos conflitos existentes entre habitantes de culturas diferentes, também eles engavetados num bairro com as característicasda Quinta da Fonte. Os habitantes, desconfiados, não conseguiam viver pacificamente uns com os outros, pelos mais diversos motivos e, por vezes, os problemas tornavam-se graves. Já lá vão… 18 anos! Os meus colegas, que se deslocavam para uma vila dos arredores, davam-nos conta dos conflitos graves que ali sucediam periodicamente, revelando todo o culminar de uma tensão que se adivinhava longa. Eles moravam lá perto e tinham de passar pelo foco de insegurança, sempre que se dirigiam para o emprego, e faziam-no debaixo de um medo constante de serem apanhados no meio das questiúnculas, às quais eram alheios. A insegurança era uma realidade dentro e fora do espaço do bairro.
Uma realidade saltava à vista: a mistura de culturas, raças, etc., no mesmo espaço, não funcionava. A desconfiança e o medo, aliados aos outros problemas sociais prementes, que afectam estas classes mais desfavorecidas, corroíam os corações dos moradores. Depois, não posso deixar de pensar que, embora na teoria, a ideia pudesse ter boas intenções, como afirmavam, ela não passou de uma decisão ingénua, própria de uma política de gabinete que sempre se fez, e ainda se faz, neste país. Para se tomar decisões destas ou outras quaisquer, tem se conhecer bem a realidade social e, para tal, há que efectuar um estudo de campo sério, para se poder tomar as decisões acertadas. Ou talvez a ideia não tivesse tão boas intenções assim, procurando só e rapidamente uma solução para um problema, esquecendo todas as implicações ligadas a tal decisão, e está explicada a existência destes bairros que mais se assemelham à nova versão dos antigos ghettos, onde se colocam os menos afortunados da nossa sociedade, deixando-os abandonados à sua sorte. (Haveria que conhecê-los, para criar condições necessárias ao bem-estar de todos, em vez de os engavetarem daquela maneira, o que não deixa de ser uma forma dos excluir…)
Agora, das duas uma, ou eles se dão conta disso mesmo e fazem um esforço para se entenderem e viverem o melhor possível juntos, ou então, terão eles mesmos de encontrar a solução ideal para eles, procurando novas paragens. Mas têm de se capacitar que nenhuma destas soluções é fácil…
Todos os docentes sabem, e não só, também os psiquiatras que os tratam, que esta profissão é não só desgastante como esgotante. Não é por acaso que muitos docentes chegam ao final do ano lectivo de tal maneira cansados que nem um mês de férias dá para se recomporem. Não é por acaso também que, há já alguns anos, existe um artigo 75º que concede aos docentes com bastantes anos de trabalho uma redução horária lectiva. De facto, esta profissão, se vivida a fundo, exige um envolvimento afectivo, emocional e intelectual, ano após ano, de tal maneira grande que vai desgastando as pessoas que se envolvem inteiramente nesta profissão. Com certeza que ninguém fica indiferente a um aluno que se droga, a uma aluna jovem que engravidou, a outro que tem graves problemas familiares, etc., e todos tentamos, na medida do possível, ajudar, embora nem sempre consigamos os resultados que esperamos. Se juntarmos a isto, o problema da indisciplina e violência nas escolas, que afecta não só os professores como também os alunos da própria escola, e os outros funcionários, dá já para ter uma ideia do inseguro ambiente escolar em que vivemos. Escusado será dizer que os momentos de insegurança e stress vividos nas escolas aumentaram muito, o que veio também aumentar o desgaste físico, psicológico e emocional dos docentes. Ora, todo o docente, ao longo dos anos, vai perdendo a força e a energia exigidas nesta profissão, e a força que tem no meio ou no final da carreira, não se compara, em nada, com aquela que se tem no início, apesar da inexperiência. Foi esta situação que se teve em conta, (entre outras que possivelmente me possam escapar), quando se criou o artigo 75º. Por ironia ou não, foi através deste mesmo artigo, que o ministério pegou para aumentar novamente a carga dos professores. Eu explico. Tiraram-lhes as horas lectivas e substituíram-nas por aulas de substituição. Assim, quantos mais artigos 75º, mais aulas de substituição! O que quer dizer que o ministério teve o condão de tornar o artigo 75º obsoleto. Ou então, as aulas de substituição não são, para ele, aulas. Se pensa assim, não percebe muito de escola, ou então o que sabe é só de teoria ou está ultrapassado. Agora já há professores que dizem abertamente que preferem ter aulas normais a aulas de substituição! Não seria por isto que o ministério esperava? Os professores voltam, mais cedo ou mais tarde, às cargas horárias de antigamente, com claro prejuízo da sua saúde e com claro prejuízo da tão afamada pedagogia. Porque debitar conhecimentos não é difícil, criar actividades é que é… e todo o trabalho criativo necessita de tempo! Ou limitar-nos-emos a copiar o que já foi feito nos outros anos até ao final dos nossos dias e a debitar conhecimentos? É claro que há as super-mulheres e os super-homens em qualquer profissão que dizem ser capazes de tudo… não discuto, limitar-me-ei só a dizer que se encararmos esta profissão como se de um trabalho de escriturário se tratasse, então, é fácil ser-se professor!
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