Não saímos ainda de uma crise e já está anunciada outra, mais negra, uma vez que tem a ver com a subida dos preços dos bens essenciais. Como continuamos ainda dependentes dos cereais importados, pois ainda não somos auto-suficientes na sua produção, isto é, não produzimos o suficiente para o que consumimos, estamos, mais uma vez, encurralados - vamos ter de pagar mais caros os alimentos. Se juntarmos a este problema mais alguns como o desemprego, aumento do petróleo e seus derivados, o excesso de endividamento das famílias de classe média, as altas taxas de juro, a electricidade caríssima, impostos altos, vemos que o panorama é negro. O que me faz impressão, é que ninguém parece ter previsto esta situação com antecedência, ou se alguém a previu, nada fez ou já não foi a tempo, ou deixou acontecer. Se voltarmos a uns anos atrás, quando tínhamos ainda excesso de um pouco de tudo, por exemplo da produção e leite, o que levou produtoras a ir para a rua dar paletes de leite que não tinha escoamento, devido à quotas impostas da comunidade europeia, agora, não temos para as necessidades e o que temos é caro. Não se entende. Ora, com o encarecimento dos bens essenciais, e olhando aos ordenados que temos e aos problemas já atrás mencionados, depreende-se que a vida, daqui para a frente vai ser ainda mais dura. Se o dinheiro tem de dar para tudo, para as obrigações financeiras, para o gás que cozinha os alimentos, a gasolina para o carro que nos leva ao emprego, (para quem ainda tem!) na falta de transportes públicos e que nos levam a maior fatia dos ordenados, os infantários que são pagos a peso de ouro, para os pequenos, porque os estatais não têm horários compatíveis com os empregos dos pais, etc., está a ver-se onde se vai tentar poupar, ou melhor, está-se a ver que, com os ordenados que existem, não sobra nada ou quase nada para a alimentação. Como os cereais são a base de uma boa alimentação, não sei como vai ser… Sendo a alimentação a base de um corpo saudável…com a fome que já se faz sentir e as doenças que julgávamos, não erradicadas mas, pelo menos, controladas, e que parecem estar novamente a espalhar-se, como parece ser o caso da tuberculose, não sei onde vamos parar…
A reforma agrária não chegou a este país, mas, quando olho para as grandes superfícies cultivadas com girassóis, penso, com ironia, que se salvam aqueles que têm pedaços de terra cultivados com cereais, que os devem guardar para consumo próprio.
Fátima Nascimento
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