A carrinha precisa de uma bateria nova. Há já algum tempo que esta dá sinal de enfraquecimento e talvez seja aquela altura em que não se pode adiar mais. Foi à oficina. Na oficina, o diagnóstico foi peremptório – bateria nova. Aborrecimento. Não calhava nada agora. É uma daquelas situações que uma pessoa prescinde de boa vontade. Ainda por cima, os pneus dianteiros estão carecas e precisam também de ser mudados. Estes vão ter de esperar, pelo menos até ao mês que vem. Com um pouco de sorte não se encontrará a B.T. no caminho, a inspeccionar os pneus. Como tem que ser, e a carrinha é imprescindível para quem trabalha longe de casa, há que investir. Não há outro remédio. Como os tempos não estão famosos, no que respeita a dinheiros, e, quando há hipótese de se escolher o material mais barato, ainda que isso possa incluir algum hipotético risco, faz-se. Depois, material mecânico mais barato, não é, necessariamente, de fraca qualidade. Com tudo é preciso sorte. Está decidido – compra-se o mais barato. Já na oficina, vêem-se os preços. Ficou acordado que a bateria a colocar nela seria aquela que era vinte euros mais barata. Agora é só esperar que a mão-de-obra realize o seu trabalho. Depois de uns momentos de espera, e quando chegou a hora de pagar, as contas não batiam certo, a bateria escolhida tinha sido trocada pela outra, mais cara. É uma sensação estranha. Deve-se ou não reclamar, uma vez que a razão está do lado de quem compra? E se ficamos mal vistos e para a próxima fazem pior? Tem de se fazer algo. Tenta-se a simpatia. Volta-se atrás e vai-se falar com o mecânico com quem previamente se havia combinado tudo. Ele assumiu a troca dizendo que a bateria que escolhera era melhor do que a outra. Porquê? Esta tinha uma garantia de três anos, e que, por isso estaria melhor servido. A estupefacção é enorme. Quem lhe garante que a outra não teria maior longevidade? Escolhe-se uma bateria à revelia do comprador baseando-se no período de garantia? Mau, mas quem é que manda, quem compra ou quem vende? Não deveria ser o comprador, uma vez que ele é quem paga? Quem lhe dera a autorização para fazer o que bem queria em vez de respeitar o desejo do cliente? Estas e outras questões ficaram sem resposta…
Como a pressa era muita, não houve tempo para resolver convenientemente a situação. Mais uma que passou e, mais uma vez, quem saiu a perder foi o cliente. E enquanto estas situações forem passando, e as empresas forem ganhando com elas, continua-se a fazer o mesmo.
Fátima Nascimento
Nunca percebi a razão dos juros de mora, e continuo sem perceber a razão da sua existência e a única explicação que encontro é a ganância de ganhar mesmo com a desgraça dos outros. Quando uma pessoa faz um crédito com vista à compra de um determinado carro, etc… a pessoa fá-lo com a intenção de cumprir mensalmente com a prestação de que é previamente informada. Até porque ninguém gosta de ver o seu nome manchado. Agora imaginemos que, por uma razão qualquer, essa pessoa perde o emprego e, dessa forma, não pode cumprir mais com essa obrigação. Acontece que essa pessoa é confrontada não só com o problema do incumprimento como também com o dos juros de mora, que são altos, e que estão lá para agravar ainda mais o problema do cidadão comum. Ora, se o cidadão não consegue cumprir com a prestação como irá fazer para pagar a quantia agora agravada com juros de mora? Partindo do princípio que as financeiras nunca perdem dinheiro, onde vão elas buscá-lo? Ao cidadão que perdeu o rendimento? Onde? Obrigando-o a vender a casa, se a tiver, para pagar o que deve, que, com os juros de mora altos como estão, deve, com alguma sorte, dar para cumprir metade do pagamento e, o resto da sua vida, irá pagar o que falta? Irá para a cadeia? É isto que espera o cidadão comum que tem a pouca sorte de perder o emprego? Se a perspectiva é esta, então, para mim, acabaram-se os créditos. Só quando tiver dinheiro junto é que volto a comprar seja o que for. Porque, e não nos podemos esquecer, que estas entidades vivem dos juros que cobram e estes são o negócio delas. Elas não olham a pessoas, na altura das dificuldades, mas sim ao dinheiro que poderão ou não ganhar com tal situação. E os juros de mora são, para mim, uma maneira de fazer estas entidades ganharem ainda mais dinheiro. E não me venham com o velho e esfarrapado argumento que a falta dos juros de mora facilita o incumprimento. Mesmo que assim fosse, há outras maneiras de combater o incumprimento. Eu imagino como seria a nossa sociedade sem estes juros de mora… seria, no mínimo, mais justa? E já viram como esta situação se arrasta por séculos? É assim desde os remotos tempos. Será por isso que aceitamos tão pacificamente esta situação? Será esta a razão pela qual nós aceitamos tão pacificamente esta situação? O passado? Parece que estou a ouvir alguém dizer “Sempre foi assim!” E isso quer dizer que este género de situação não pode ser mudada? Não querem mudar, porque enquanto alguém ganhar com a desgraça dos outros, esse alguém não vai, com certeza, querer mudar esta situação! Afinal, não tem sido sempre assim ao longo dos séculos?
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