opiniões sobre tudo e sobre nada...
Na nossa sociedade, e embora sejamos conhecidos como um povo de brandos costumes, existem ainda muitos preconceitos que estão cristalizados e profundamente enraizados. Um dos que permanece bastante aceso, é o sentimento de pavor que nos provocam as pessoas de etnia cigana. Eu sei que há imensas histórias que nos levam a manter-nos em estado de alerta contra as pessoas desta etnia. Eu própria assisti, pessoalmente, em Lisboa, junto do Fórum Picoas, a uma cena bastante desagradável, e outras se passaram, aqui há muitos anos, comigo. Eu e a minha colega e amiga de faculdade, a Elsa, assistimos a tudo. Uma senhora comprou uma camisola de manga curta a uma cigana que vendia ilegalmente na rua, e deu-lhe os mil escudos que a vendedora lhe pedia pela camisola. Não sabemos ao certo o que esta fez ao dinheiro, mas o que é certo, é que depois de mais conversas, acabou por lho pedir novamente. A senhora que só tinha aqueles mil escudos na carteira, que até mostrou a mesma à vendedora, não sabia que volta havia de dar ao assunto, sendo já acusada de ter enganado a cigana. Não sei ao certo como tudo terminou, mas julgo que a senhora foi levantar o dinheiro para pagar à vendedora, uma vez que outros cidadãos da mesma etnia se iam juntando, aparentemente curiosos acerca do que se passava. Não me vou alongar mais em exemplos. Acho basicamente que todos nós já vivemos ou já ouvimos histórias que os prejudica aos nossos olhos. Mas por uns pagam os outros, é sempre assim. Para mim, que já sofri, na pele, alguns incidentes com eles, não me levou, contudo, a marginalizá-los, mas tenho algum receio que tento a todo o custo ultrapassar. Como? Avaliando, na medida do possível, as pessoas que tenho à frente. E, isto, porque se sofri alguns contratempos com ciganos, sofri muito mais com pessoas que não pertenciam a esta etnia ou a outra cultura ou raça. E ainda não me dei mal, com esta posição. Há dois anos atrás, uma família cigana comprou a casa ao lado da minha. No início, houve um certo receio, uma vez que ninguém conhecia a família. Depressa começaram a correr notícias de que eram boas pessoas. E são. São o tipo de vizinhos que todas as pessoas gostariam de ter – educados, discretos, solidários. Quando tive um problema com o portão grande de acesso à garagem, que ficara encravado no cimento, foram eles que me ajudaram. Agora, que tenho a casa à venda, e já esteve quase vendida, uma vez que o preço é acessível e a casa óptima, as pessoas, ao descobrirem que os vizinhos são ciganos, desistem imediatamente da compra. E tudo devido ao preconceito. Não interessa se são boas pessoas ou não, são de etnia cigana e para eles basta. Nem sequer têm a inteligência de pedir informações sobre eles aos vizinhos, ou à polícia, para saberem de possíveis desacatos nesta zona da cidade, nada. Assim que chegam aqui para ver a casa e se deparam com eles ou com as carrinhas de trabalho, desistem do negócio! Tanto pior para eles. Ainda estou à espera das pessoas inteligentes, capazes de ver para além dos rótulos que colocam nas pessoas e de olharem somente àquilo que as pessoas são. Porque é de pessoas que se trata, não de raças, credos ou religiões. Pessoas más existem em todo o lado independentemente daquelas três variantes. Quando será que as pessoas vão entender isso?