Falando há um dia atrás com uma pessoa conhecida, de há muito tempo, e que insinuava que a minha saída do ensino poderia ter tido outros motivos que não os verdadeiros, resolvi, de uma vez por todas, esclarecer totalmente a situação.
Não vou contar tudo, porque seria impossível, mas algumas situações bastante elucidativas de situações impensáveis, pelas quais eu passei. Ao princípio, os colegas da nova escola, onde fui colocada, por destacamento, mostraram-se simpáticas. Pareciam uma família. Depois, à medida que o tempo foi passando, o cerco foi-se apertando à minha volta, buscando incessantemente um mínimo deslize para me prejudicarem. Nessa escola, eu tive uma turma de CEF, onde havia miúdos referenciados por vários problemas: roubos, droga, etc.. Como desde que entrei para o ensino tive sempre as piores turmas, expliquei que teríamos de agarrar a turma para bem deles e nossa. Não seria possível. As turmas de CEF eram olhos do Ministério da Educação, pelo que não se tocaria nos meninos. Quando diziam alguma coisa no sentido de os intimidar, logo desdiziam porque afinal, as coisas até não se passavam assim. Vi o Director da turma atrapalhado, dizendo que daria o dito por não dito, e que seria comunicado aos miúdos que tudo não tinha passado de uma brincadeira. Isto durou até ao meio do ano lectivo, quando começaram a chegar notícias de suspensões e até de expulsões de outras escolas, relacionadas com as turmas de CEF. Foi aí que começaram, então, a ser severos com os alunos. Numa actividade organizada por mim e por outra colega, eu levei essa turma de CEF, ocupando lá a nossa hora e meia lectiva. Um cesteiro dava-lhes uma ideia de como se fazia as mais diversas peças
Fazia 20 anos de profissão ao serviço do ensino público, no passado dia 28 de Setembro. Nunca fiz planos mas sempre soube que os iria festejar de alguma forma. Esperava por esse momento calmamente como quem espera por um momento muito bom na sua vida. Mais para o fim, pensava em reunir num almoço ou num jantar todos os colegas que, de alguma forma, me haviam marcado mais e com os quais trabalhara bem. Não seriam poucos! Dentro desta profissão, há muita gente má, mas também há gente boa. E há os maus mascarados de bons… há de tudo como em todas as profissões. Durante estes vinte anos, passei por muitas escolas diferentes, umas com melhor ambiente e outras com pior. Mas por todas onde passei, posso regressar porque sei que deixei saudades. Não é de admirar. Sempre fiz o meu trabalho e nunca interferi no trabalho de ninguém, a não ser quando me pediam e para ajudar unicamente. Sempre gostei do ensino e sempre mostrei aos miúdos que eu estava do lado deles para os ajudar a tingir a sua meta. E estava. E eles sabiam que não se tratava só de conversa. E tiveram a prova disso. O meu único erro foi ter pedido, há dois anos atrás, um fatídico destacamento que, por decisão ministerial, seria por três anos. As colegas da escola onde estava efectiva, sempre me aconselharam a não o fazer, porque tínhamos um bom ambiente e, se eu saísse, poderia vir alguém que não fosse boa pessoa e o estragasse. Por meu lado, defendiam elas, eu não sabia se a escola para onde eu iria, na tentativa de poupar dinheiro em combustível, teria um bom ambiente ou se me iriam receber ou tratar bem. Elas pareciam adivinhar! Caí numa escola onde muitos outros, antes de mim, haviam só passado por um ano e não haviam gostado. Tinham, todos aqueles com quem falei, uma péssima ideia das pessoas com quem haviam trabalhado. Uma ex-colega minha do 12º ano, que por lá passou, contara-me que vira nos colegas uma “ignorância que roçava o obscurantismo”. Eu olhei para ela estupefacta! Outra dizia-me que aquelas pessoas não batiam bem. Sendo ou não assim, o facto é que me dei lá muito mal. O problema, tal como eu o interpreto, é quando as pessoas põem na cabeça que determinado colega é melhor do que ele, pode até não ser, mas é a mesma coisa para eles. A partir dali, gerou-se uma perseguição que culminaria com uma falta injustificada, que me foi comunicada dezassete dias depois. Percebi que era o início de muitos problemas que se adivinhavam. Eu conhecia o inimigo que tinha pela frente. Digo o inimigo, porque todos eles jogavam na mesma equipa, e cuidado aos que não fizessem parte dela! Tive uma equipa inteira a jogar contra mim! Muito corajosos! Para evitar então tudo quanto de mau se adivinhava, eu pedi a demissão, percebendo que o dinheiro não é tudo na vida. Mais do que uma pessoa me disse isso mesmo. E não me arrependo! O que não quero mesmo é lá voltar mais, ou cruzar-me com tais pessoas!
Não, nunca fiz planos… mas nunca imaginei uns vinte anos comemorados no desemprego! E com memórias recentes tão más!
Desde que começamos a trabalhar, começamos a contribuir para os organismos do estado. O mesmo aconteceu comigo. O problema é que o estado tem vários organismos para os quais descontamos e não só um, como seria de esperar. E, depois, vêm as inesperadas consequências.
Quando comecei a trabalhar, falaram-me dos descontos e perguntaram-me se queria ser sempre professora ou teria em mente uma futura mudança de emprego. Eu respondi, e bem, que o ensino era o meu caminho. Então, ficou resolvido que não seria necessário descontar para a segurança social. Eu fiquei indecisa… sabia, por experiência própria, que a vida dava muitas voltas. Mas, não havia necessidade… Aceitei, embora não muito convencida. Parecia eu que estava a adivinhar. Mas o que eu nunca poderia adivinhar, era que, um dia, muitos anos depois dessa conversa, e depois de uma luta enorme para conseguir a efectivação, e sobretudo uma perto de casa, eu escolheria, num malfadado destacamento, a escola errada, com as pessoas erradas (exceptuam-se aqui os alunos) que, à falta de maior interesse, resolveram embirrar comigo, desde o início, desenvolvendo uma perseguição implacável. Como não faço mal a ninguém, não me meto na vida de ninguém, não prejudico ninguém… nunca compreendi a sede de perseguição daquela gente. As pessoas com quem trabalhei, (e foram muitas, em quase vinte anos de carreira, uma vez que só repeti duas escolas), sabem perfeitamente como eu sou, e falo de colegas, empregados, alunos, pais… nunca prejudiquei ninguém. A minha posição foi sempre a de ajudar os outros. Este ano lectivo que findou, as situações tomaram tais proporções que eu sentia-me mal, desde que entrava naquela escola até que saía. Por fim, quando me confrontaram com uma falta injustificada, comunicada dezassete dias depois, entendi que já tinham ultrapassado todos os limites possíveis e as situações alcançado proporções nunca por mim imaginadas. Tudo isto aconteceu num ano, o que não aconteceria nos outros dois que se seguiriam… Sim, porque, logo neste ano lectivo passado, a senhora ministra lembrou-se de que os destacamentos teriam a duração de três anos. Ora, depois de um ano infernal, o que não aconteceria nos outros? Foi com muita mágoa que decidi pôr fim à minha carreira, recusando, desta forma, trabalhar com pessoas que não me deixaram saudades nenhumas: nem a nível profissional, nem a nível pessoal. Agora, corro o risco de não conseguir rendimento mínimo nacional, até conseguir um outro emprego. Porque os descontos todos que fiz, e pesaram no vencimento mensal, não incluíram a segurança social. Daí a minha questão anterior – porque não descontamos todos para mesmo organismo? Assim, este problema não se colocaria… Pensem nisto antes que mais alguém se veja na mesma situação!
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