opiniões sobre tudo e sobre nada...

Sábado, 22 de Novembro de 2008
O que semeamos, colhemos…

Um dia destes fiquei sem carro. Teve de ir à oficina preparar-se para mais uma inspecção. Levei-o perto da hora do almoço e, como aquela estivesse cheia de carros, tive de o deixar lá, durante toda a tarde. O dono da oficina, que vinha almoçar a casa, deu-nos boleia, a mim e a outra senhora, cujo carro também teve de lá ficar. Pedi que me deixasse perto da escola, onde anda a minha filha mais nova. Um vento frio e violento corria pelas ruas desprotegidas. Fiz o resto do percurso a pé, aconchegando-me no casaco fino. Como ainda faltavam alguns minutos, refugiei-me no café que abrira recentemente e cuja dona é mãe de uma das pequenitas da sala da minha filha. Estivemos à conversa até à hora do toque. Dirigimo-nos ao portão, temendo pela falta de agasalho que muitas vezes os caracteriza, até nos dias frios. A minha filha vinha de mochila às costas e casaco na mão. Insisti para que vestisse o casaco. Deu-me a mão, naquele gesto infantil, à qual já me havia desabituado com os irmãos. Tomámos o caminho de casa da avó. Íamos lá almoçar. Durante o trajecto, fez-me queixas. Já há algum tempo que me vinha fazendo queixas de um menino que bate a todos menos a um. Estava a pedir-me conselhos indirectamente. Fui-lhe dando alguns, à medida que caminhávamos. E se ela conversasse com ele? Se lhe dissesse que queria ser amiga dele, mas que não podia porque ele teimava em bater-lhe sempre que estava junto dela e lhe mostrasse que o mesmo acontecia aos outros meninos? “Não!”-respondeu, horrorizada. “Assim, ele bate-me!” Perguntei-lhe se já se interrogara porque é que ele não batia no outro menino. Ela acenou negativamente. Não seria porque ele era o único que não mostrava medo dele? Ficou pensativa. Percorremos o resto do caminho em silêncio. O cansaço dominara-a. Mesmo assim, investia no longo trajecto com algumas corridas, distraindo-se com tudo o que lhe aparecia. Não falámos mais no assunto. No dia seguinte, quando fui buscá-la, às 17h, hora do regresso da natação, ela confiou-me, já dentro do carro, que arranjara coragem para falar com o J., o autor de tanta violência. Fiquei admirada e curiosa. O que lhe dissera? Não tinha nada a ver com o assunto? Para a próxima não a ajudaria mais… Ela lá concordou em contar. Repetira exactamente aquilo que eu lhe dissera no dia anterior. Agora eram amigos e ele já não batia em ninguém. Realmente, por vezes, o que semeamos, colhemos de certeza…



publicado por fatimanascimento às 09:21
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