Já ouvira contar histórias de camiões e camionistas. Já escutara o medo de alguns condutores que haviam assistido a cenas complicadas de digerir. Lembram-se daquele antigo anúncio televisivo que pedia aos camionistas para ligarem o pisca da direita ou da esquerda dando assim uma possibilidade aos carros de perceberem se o caminho estaria impedido ou livre para possíveis ultrapassagens? Algumas destas ajudas correram mal. Passado pouco tempo, o anúncio pedia precisamente o contrário – que terminassem as ajudas porque o resultado era, muitas vezes, catastrófico. Isto só para lembrar uma das terríveis histórias trágicas que envolveram camiões. Alguns deles parecem ou outros semelhantes parecem ainda andar por aí. Numa versão mais ligeira.
No caminho de ida e volta do trabalho, cruzo-me com imensos camiões de todos os tamanhos e feitios. Olho aquelas imensas e pacíficas máquinas de quatro gigantes rodas companheiras das inúmeras horas de viagem em que arrastam a corpulência nas penosas subidas para logo ganharem algum alento nas consequentes descidas. É neste convívio sereno que envolve respeito mútuo que aprendi a compreender e a respeitar o seu espaço. Eles faziam o mesmo. Há pouco tempo, porém, a situação mudou. Mudei de auto-estrada e o panorama modificou completamente. Alguns camiões pareciam não conhecer aquele acordo tácito que envolve ambas as partes – carros e camiões. Estando a trabalhar mais perto, e saindo de casa com a devida antecedência, não tenho necessidade de me envolver em despiques desnecessários contra o tempo parecendo querer engolir o tapete alcatroado da auto-estrada. Por outro lado, tento poupar, ao máximo, gasolina. Assim, mantenho uma velocidade razoável que acompanha o ritmo de alguns dos meus pesados companheiros. E a situação mantém-se estável até que vem um que se lembra de querer andar ao seu ritmo constante mais acelerado e resolve apitar perturbando a condução do carro da frente. Sobressaltada e sem perceber o erro cometido, olho pelo retrovisor para inspeccionar o meu agressor. Novamente o mesmo som, desta vez acompanhado de luzes. Cada vez entendia menos e começava a aborrecer-me. Só depois de muito atroar os meus ouvidos e ofuscar a minha vista a gigantesca máquina se resolve a passar para faixa da esquerda dando início, finalmente, à ultrapassagem e lá desapareceu na íngreme subida. Olhei pelo retrovisor. O afluxo de trânsito, àquela hora da manhã era pouco ou quase nulo. Fiquei irritada. Custou-lhe muito a tarefa da mudança de faixa? Não compreendi. Já passara por outros que haviam tomado a faixa esquerda sem qualquer espécie de alarido, e, depois, aquele irritado espécime que parecia estar atrasado para uma hipotética entrega. Seguiram-se-lhe muitos. E sei que terei de aturar muitos mais. Mas constato que a grande maioria não se dá a estes espectáculos ridículos que em nada contribuem para a boa imagem dos camionistas. É sempre assim. Há sempre uma minoria que coloca em risco a reputação dos outros.
A auto-estrada é um meio rápido de chegar ao destino sem demoras, uma vez que evita todos os inconvenientes que aqueles que usam a estrada para se locomoverem conhecem bem. De tantos em tantos quilómetros, as gasolineiras proporcionam espaços onde as pessoas podem descansar um pouco, (alguns mesmo agradáveis!) antes de prosseguirem a viagem, o que contribui uma agradável viagem. Mas como em tudo há um aspecto que ensombra estes locais, aparentemente tão acolhedores – os preços dos produtos que se encontram lá à venda. Como todos conhecemos o valor médio dos produtos, que se encontram à venda nestes e noutros locais, podemos fazer uma comparação e perceber que há uma grande disparidade. Mesmo um simples pacote das bolachas mais baratas à venda no mercado, chegam a atingir, nas lojas das gasolineiras, preços que ultrapassam a nossa imaginação. Mesmo quando nos damos ao trabalho de dar uma volta por lá, procurando algum produto que tenha escapado àquela subida exorbitante de preços, fica desanimado. Ali, todos os produtos sofreram altas percentagens de aumento. Um simples chocolate que, noutras superfícies comerciais atingem preços abaixo do euro, ali, nas lojas de conveniência, chegam a ultrapassar largamente essa barreira do euro. É claro que há pessoas para quem aqueles preços não são significantes, mas para a maioria das pessoas, que são aquelas que trabalham por conta de outrem e cujos ordenados não ultrapassam, em muitas situações, o ordenado mínimo nacional, esses preços não estão ao alcance das suas bolsas. Assim as paragens não ultrapassam mais que o tempo suficiente para meter gasolina e pagar na caixa, aumentando a ansiedade de deixar a auto-estrada e de chegar o mais rapidamente possível, no sentido de as pessoas poderem fazer aquilo a que se vêem privadas nestes espaços, como tomar um simples café ou comer algo que evite a longa viagem feita com os estômago vazio. Eu, sinceramente, só de olhar para os preços dos produtos expostos, nem quero imaginar quanto custará uma ligeira refeição nesses locais. Assim, faço um sacrifico e espero a tão ansiada chegada ao destino, onde posso comer calmamente a preços mais justos. É assim que eu faço, agora que estou a trabalhar numa escola situada a imensos quilómetros de distância. Não me dão alternativa… ou descem os preços, (e daqui eu não vejo grandes inconvenientes, uma vez que preços mais baixos, serão sinónimo de maiores vendas) ou o estado poderia dar oportunidade a outras superfícies de se estabelecerem também ao longo das auto-estradas e, desde que pratiquem preços mais equilibrados, não vejo grandes inconvenientes, a não ser a quantidade de saídas e entradas que se abrem nas margens da auto-estradas, nada mais. A concorrência só iria fazer bem àqueles injustos preços elevados…
O carro, para mim, é uma necessidade, pois preciso dele para me deslocar para o trabalho. Se não o tivesse, a minha vida estaria mais desafogada, porque não pagaria gasolina, seguro, manutenção mecânica (mudanças de óleo, revisões, inspecções, imposto de circulação, etc…) o que, no final mês e do ano, representa um gasto considerável, para o cidadão anónimo que depende só de um ordenado fixo ao fim do mês. Mas ele é uma necessidade num país onde os transportes, entre as diferentes localidades, são poucos e os horários incompatíveis com a vida das pessoas. Claro que este aspecto tende a aumentar o número de viaturas próprias, pelo que as auto-estradas são necessárias para fazer face a esse aumento e a esse escoamento de tráfego. Até aqui não há nada a assinalar de grave se não olharmos aos acessos a essas auto-estradas.
Na A23, no sentido Torres Novas - Abrantes, há uma saída que tem menos do que 500m de comprimento. Se juntarmos a isto, a entrada que se faz no mesmo curto espaço, vemos quanto é perigoso esse breve percurso. Quando saímos, e depois de uma curva acentuadíssima à direita, deparamos com o mesmo cenário. No mesmo espaço exíguo faz-se a entrada e a saída de viaturas, o que requer muita atenção da parte dos condutores, sobretudo daqueles que não conhecem aquele espaço. Um dia de grande afluxo de viaturas, quando me preparava para sair da A23 por esse espaço, deparei-me com uma cena insólita – o trânsito estava bloqueado. As viaturas, camiões aí incluídos, que entravam na A23 estavam paradas, à cautela, esperando o momento oportuno para entrar na auto-estrada enquanto as que saíam, a conta gotas, o faziam com muito cuidado também, gerando ali uma grande confusão. Quando me vi parada
Ainda na A23, no mesmo sentido Torres Novas – Abrantes, mas ainda antes daquela, junto à saída da A1, há uma entrada - saída também peculiar. A saída faz-se mais à esquerda, enquanto a entrada é mais à direita, divididas por um canteiro de cimento e uma placa azul redonda indicando a entrada. Há uns anos atrás, quando vinha de Alcanena, numa noite já avançada na hora,
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