opiniões sobre tudo e sobre nada...

Domingo, 8 de Março de 2009
O saber e a pedagogia

De um lado o M. E. a defender a pedagogia, do outro lado, o líder sindical a defender a ciência e o saber. Foi esta a ideia com que fiquei depois de uma das várias rondas negociais entre as duas partes… Não percebo estas posições, uma vez que os dois têm razão. O ensino precisa do saber e é este o objectivo último que se pretende atingir sempre que um aluno entra no ensino até que sai. Porém, a pedagogia é também importante, uma vez que esta é um veículo de transmissão do conhecimento. E é muitas vezes nesta, que o ensino falha. Ninguém põe em causa o conhecimento de um licenciado, e muito menos o M. E., mas a atitude deste dentro da sala de aula, pedagogicamente falando. O ensino não é só a mera transmissão e avaliação de conhecimentos, pelo menos não deveria ser. Assim, todas as pessoas podem ser professores. O único desafio, no ensino, é a pedagogia. É encontrar o melhor caminho para chegar até ao aluno. É aqui que reside o verdadeiro desafio. É esta que dá verdadeiramente trabalho, uma vez que cada dia exige um esforço diferente, e que é, muitas vezes, a responsável pelo clima de harmonia dentro da sala de aula. Se hoje uma turma trabalha bem de uma maneira, amanhã, por qualquer motivo, já se terá de encontrar outra estratégia… é preciso saber auscultar o comportamento da turma, para se poder escolher o método adequado, que resultará, numa prática benéfica para ambas as partes. Mas, primeiro, é necessário duas condições básicas, para se ter sucesso no ensino: gostar e aprender a gostar do potencial humano que está diante deles e dominar cientificamente os conteúdos a leccionar. A partir daqui, é só dar livre curso à imaginação… a pedagogia adequada acaba por surgir. Nuns, de uma forma mais natural, noutros, de uma forma mais trabalhosa… mas surge. Depois, a partilha de ideias, entre professores, é algo muito profícuo. Estou a lembrar-me de alguns exemplos, veiculados pelos meios de comunicação, bem sucedidos, de professores que trabalham em escolas problemáticas, e que conseguem desenvolver projectos interessantes com os alunos, levando-os ao objectivo último do ensino que é o conhecimento. Enquanto outros se limitam a culpar os alunos ou os professores pelo insucesso. E há tantas maneiras de o fazer… é só dar livre curso à imaginação. O problema é quando os professores pagam caro pela diferença pedagógica, isto é, quando a sua estratégia ultrapassa as paredes da sala de aula e não é compreendida pelo próximo que questiona a viabilidade da sua prática. Aqui, toda a gente tem medo… e limita-se a seguir as práticas até aqui seguidas ou arrisca-se a pagar pela sua audácia. Mas é a pedagogia que dá mais trabalho, uma vez que nos acompanha no quotidiano, não é a ciência…



publicado por fatimanascimento às 11:29
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Sexta-feira, 20 de Fevereiro de 2009
A grande lição do pequeno

Aconteceu há muitos anos, mas ainda é actual. Ele entrou na sala, fixámo-nos. Foi instintivo. Uma antipatia natural surgiu no meu coração. No dele também. Ele pensou que iria ter problemas até ao final do ano. Eu ignorei esse sentimento, para continuar o meu trabalho. Como sempre, a massa de cabeças alinhada à minha frente, das quais sobressaíam inúmeros pares de olhos avaliativos, não tinha qualquer diferença. Eu tinha uma missão, e nessa missão não havia diferenças a realçar. Havia, sim, que respeitar as diferenças de cada um, nada mais. Recordo-me que foi um ano em que percorri inúmeras vezes aqueles corredores ladeados de carteiras. Sempre que um aluno, na resolução de um exercício, me pedia ajuda, lá ia eu, sempre pronta a ajudar. Esse aluno era um deles. Ele exigia a minha presença para que o pudesse ajudar a ultrapassar as suas dificuldades. Aproveitava também para colocar algumas questões que não estava à vontade para fazer diante dos colegas. Correu tudo bem. No final do ano lectivo, ele deixou a corrente dos colegas escoar-se pela porta da sala e aproximou-se de mim, para me agradecer. Eu fiquei admirada. Não havia nada a agradecer. Pagavam-me para estar ao serviço deles. Foi então que ele confessou, recordando aquele primeiro dia de aulas: sentiu que eu não simpatizara com ele. Pensara que teria de travar uma penosa guerra comigo até ao final do ano. Ficara admirado com o meu desempenho. Eu ultrapassara aquele sentimento que, pensara ele, iria dificultar a nossa convivência. Mas, percebera, com agrado, que aquele sentimento desaparecera logo a seguir ao momento em que nos havíamos descoberto pela primeira vez. Ele testara-me de todas as maneiras e eu havia ultrapassado com êxito todas as provas. Ele não percebera como é que eu conseguira. Naquele momento, e conhecendo-me melhor, ele compreendera tudo. Isso era natural em mim. Eu obrigava-me a gostar de todos os alunos por igual. Foi então que ele me deu um surpreendente conselho: deveria continuar a fazê-lo na escola, mas só com os alunos, mas que não fizesse o mesmo na vida, fora daquelas paredes. Aconselhou-me a estar atenta ao meu instinto, para evitar que os sofrimentos passados se repetissem no futuro. Ainda me lembro da forma como ele me fitava, como se os seus olhos pudessem ler as linhas do sofrimento que se enleavam na minha alma. Confessou que gostara de mim e de trabalhar comigo. Fiquei profundamente agradecida e emocionada àquele adolescente a quem a vida já ensinara tanto. Aqui está uma boa velha lição que não devo esquecer mais…



publicado por fatimanascimento às 20:38
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Quarta-feira, 9 de Maio de 2007
A ironia de certas decisões!

Todos os docentes sabem, e não só, também os psiquiatras que os tratam, que esta profissão é não só desgastante como esgotante. Não é por acaso que muitos docentes chegam ao final do ano lectivo de tal maneira cansados que nem um mês de férias dá para se recomporem. Não é por acaso também que, há já alguns anos, existe um artigo 75º que concede aos docentes com bastantes anos de trabalho uma redução horária lectiva. De facto, esta profissão, se vivida a fundo, exige um envolvimento afectivo, emocional e intelectual, ano após ano, de tal maneira grande que vai desgastando as pessoas que se envolvem inteiramente nesta profissão. Com certeza que ninguém fica indiferente a um aluno que se droga, a uma aluna jovem que engravidou, a outro que tem graves problemas familiares, etc., e todos tentamos, na medida do possível, ajudar, embora nem sempre consigamos os resultados que esperamos. Se juntarmos a isto, o problema da indisciplina e violência nas escolas, que afecta não só os professores como também os alunos da própria escola, e os outros funcionários, dá já para ter uma ideia do inseguro ambiente escolar em que vivemos. Escusado será dizer que os momentos de insegurança e stress vividos nas escolas aumentaram muito, o que veio também aumentar o desgaste físico, psicológico e emocional dos docentes. Ora, todo o docente, ao longo dos anos, vai perdendo a força e a energia exigidas nesta profissão, e a força que tem no meio ou no final da carreira, não se compara, em nada, com aquela que se tem no início, apesar da inexperiência. Foi esta situação que se teve em conta, (entre outras que possivelmente me possam escapar), quando se criou o artigo 75º. Por ironia ou não, foi através deste mesmo artigo, que o ministério pegou para aumentar novamente a carga dos professores. Eu explico. Tiraram-lhes as horas lectivas e substituíram-nas por aulas de substituição. Assim, quantos mais artigos 75º, mais aulas de substituição! O que quer dizer que o ministério teve o condão de tornar o artigo 75º obsoleto. Ou então, as aulas de substituição não são, para ele, aulas. Se pensa assim, não percebe muito de escola, ou então o que sabe é só de teoria ou está ultrapassado. Agora já há professores que dizem abertamente que preferem ter aulas normais a aulas de substituição! Não seria por isto que o ministério esperava? Os professores voltam, mais cedo ou mais tarde, às cargas horárias de antigamente, com claro prejuízo da sua saúde e com claro prejuízo da tão afamada pedagogia. Porque debitar conhecimentos não é difícil, criar actividades é que é… e todo o trabalho criativo necessita de tempo! Ou limitar-nos-emos a copiar o que já foi feito nos outros anos até ao final dos nossos dias e a debitar conhecimentos? É claro que há as super-mulheres e os super-homens em qualquer profissão que dizem ser capazes de tudo… não discuto, limitar-me-ei só a dizer que se encararmos esta profissão como se de um trabalho de escriturário se tratasse, então, é fácil ser-se professor!



publicado por fatimanascimento às 18:19
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