opiniões sobre tudo e sobre nada...
Quarta-feira, 9 de Setembro de 2009
Amizades
Fiz sempre facilmente amizades ao longo da minha vida. Raramente antipatizava com alguém. Aconteceu com esta amizade. Encontrámo-nos no comboio faz este ano bastantes anos. Uma antipatia natural cresceu em mim. Chumbou ao primeiro contacto. Era a minha intuição a falar. Não desisti e procurei não chumbar a jovem no primeiro exame. Reparei que da parte dela havia também uma antipatia que lhe distorceu por momentos o rosto para logo de seguida o distender sempre atenta com medo que eu tivesse dado por isso. E dei. Continuámos a falar, sempre com a insistência a jogar do meu lado, enquanto ela parecia fechar-se. Ainda assim, trocámos números de telemóvel. Mais tarde, ela foi-me visitar a casa. Iniciou-se aquilo que seria uma amizade unilateral que se prolongaria por muitos anos. Sempre vira nela algumas atitudes que não me agradavam, mas habituada como estava a não agradar também, não fiz muito caso disso. Passámos por muitos revezes na vida e sempre a ajudei e ela, aparentemente, sempre me ajudou. Até que as suas atitudes se revelaram inaceitáveis. Certa como estava da minha amizade, que ela tomava como cegueira, ela desmascarou-se a pouco e pouco revelando-se, para o fim, uma pessoa inaceitável. Não fui só eu a dar por isso, foram também os meus filhos que já não a suportavam. Muitas vezes, eu vi-a ser humilhada por amizades que ela desejava e os rejeitantes não queriam. Uma amiga casou-se e não lhe disse nada. Mas ela sempre rastejou atrás dessa amizade, sem nunca desistir. Eu não correria nunca atrás de quem mostrasse tão pouca consideração por mim, a ponto de me dar um sinal tão claro que não queria ter nada a ver comigo. Ela não. Insistiu. Aparentemente, ganhou. Comigo não perdoava nada. Havia alguma coisa a perdoar? O esquecimento do aniversário… pequenos detalhes aos quais ela se mostrava inflexível. Com os outros não. O seu comportamento veio a piorar cada vez que eu omitia os sinais, por respeito à sua pessoa, de saturação. Até que, as últimas visitas foram as gotas que fizeram transbordar a água do copo. Desde conversas absurdas com a minha filha de catorze anos, às acusações absurdas, às imposições despropositadas… tudo levou a que nos saturássemos dela. Até que, pensando no assunto percebi, que já não dava para aturar mais aquela amizade unilateral que já nos fazia mais mal do que bem. A sua inveja vomitada nas últimas visitas traduziu-se em acusações no último contacto telefónico. A melhor defesa é o ataque. Fui incapaz de ser fria e brusca como a situação exigia, mas em nome da amizade que lhe professei durante anos, fui incapaz de utilizar um momento frágil para a magoar. Mas a minha decisão está tomada – não quero mais contactos com ela, nem que ela tenha contactos com os meus ou venha cá a casa. A amizade deteriorou-se e morreu. A minha culpa? Tê-la sempre desculpado em nome da amizade, evitando ver o que era tão evidente. Eu nada perdi de valor, ela perdeu a verdadeira amizade. Amizade unilateral? Sim, mas só da minha parte.
Fátima Nascimento
Segunda-feira, 23 de Junho de 2008
Ainda aquele gesto...
Há poucos dias atrás, tive um problema com a minha impressora, pelo que tive de pedir a um amigo do meu filho que me imprimisse um documento. Trata-se de um rapaz de que gosto particularmente, pela sua maneira de ser. Sempre que pronto a ajudar, sempre que pode, para além de ser boa pessoa e um bom amigo. Tinha o documento na disquete e, como ele não tinha já dispositivo onde colocar a disquete, e tive de lhe emprestar a minha pen. (É o resultado de toda a evolução, e a informática não é excepção à regra.) Copiei o documento da disquete para a pen, com todo o cuidado, retirei-a e entreguei-a ao moço. Nesse exacto momento, lembrei-me imediatamente do problema que envolveu o meu filho. Olhei a minha mão, com tristeza. De certeza que todas as minhas palavras devem ter sido mal interpretadas! Devem ter ficado com a ideia que eu não quis pagar a pen. E não foi nada disso. Se o meu filho tivesse sido irresponsável, eu teria pago o objecto, mas não foi o caso. Mas não foi só disto que me lembrei… Eu dissera ao dono do utensílio informático que nunca a deveria ter emprestado a ninguém… e é verdade! Lembrei-me de tudo no exacto momento em que a estendia a este moço. Depois, pensei… como reagiria eu, se, por azar, acontecesse algo à minha? É a única que tenho e não tenho dinheiro para comprar outra, neste momento… Então, como reagiria eu, se o moço chegasse ao pé de mim e me dissesse que tinha estragado o pequeno utensílio de hardware? Não foi difícil para mim encontrar a resposta. Eu sentar-me-ia com ele e explicar-lhe-ia que lhe estava extremamente grata pelo favor que me tinha feito, e que o que acontecera com ele, poderia ter acontecido comigo. Era isto que eu faria e… aguardaria pacientemente a altura certa para comprar outra. Mas isto era o que EU faria, mas muitas pessoas não são iguais a mim. E há que respeitar a diferença. Só me custa compreender é o preço que as pessoas dão (e sempre deram!) aos objectos, que parecem estar acima de tudo o resto! Vejo pessoas por esse mundo fora a terminarem amizades por causa da importância que assumiu o aspecto material nas nossas vidas, como se este fosse o melhor da vida! Não se matam pessoas, na nossa sociedade, para outras apossarem dos bens materiais que lhe pertencem? É a isso que nós chamamos assaltos. Onde vamos parar, se continuarmos a seguir esta ordem de valores?
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