Há pessoas que ajudam e outras que não. Cada um tem o direito de optar por uma ou outra. Mas a questão não fica só por aqui. É mais profunda. Muito mais profunda do que aparentemente se possa pensar. Depende também do tipo de ajuda. Se se resumir a uma ajuda monetária não implica mais do que isso. Há aqui dois actos: o de dar e o de receber. É simples. Não há mais relação alguma entre a mão que se estende para receber e a que desce para dar. É tão simples. Fica toda a gente contente. A pessoa que deu, sente-se feliz por ser útil e a que recebeu, ainda que pouco, agradece, sabendo de antemão que o pouco repetido pode fazer o muito. É assim que pensa quem dá e é também assim que deve pensar quem recebe. E se toda a ajuda fosse assim tão simples? Mas não é. Aprendi algo na vida que gostaria de partilhar convosco: ajudar nem sempre é simples. Independentemente de envolver ou não terceiras pessoas, é preciso conhecer muito bem a pessoa que se quer auxiliar. E nem sempre é simples mais uma vez. Muitas vezes as pessoas não se deixam conhecer e outras vezes escapam-nos certas características carácter da pessoa que se quer ajudar. E isto é fundamental na resposta à oferta de ajuda. Se a pessoa que se quer favorecer está muito aflita, e não temos meios de ajudar, procuramos, na nossa boa fé, alguém honesto que o possa fazer por si. Daí por diante é só esperar. Mas, e se a resposta à pretendida ajuda não é aquela que esperamos? Vamos partir do princípio que não o fazemos por vaidade ou qualquer outro sentimento que muitas vezes leva as pessoas a terem as atitudes certas pelos motivos errados. Partamos de um princípio de se faz só com o objectivo de ajudar alguém que está a passar por dificuldades, momentâneas ou definitivas. Esperamos, no mínimo, que tudo corra tudo bem. E se assim não é? Algo na pessoa nos escapou. E a resposta a essa ajuda é o orgulho que coloca ponto final numa amizade? Que faz com que a pessoa a ser auxiliada se revolte e se descontrole ao ponto de começar aos gritos pela casa logo de manhã? E, para não terminar por aqui, o que o faz bater à porta da filha, logo de madrugada, tornando-a cúmplice de tal ajuda? O que faz com que a pessoa que tem realmente necessidade no presente a leve a negar violentamente a ajuda a ponto de deixar a pessoa pendurada na conversa? A resposta é simples: até para ajudarmos uma pessoa é preciso conhecê-la bem primeiro senão em vez de vermos a felicidade estampada no seu rosto vemos o rosto da ira desenhado na sua face. A vida é complicada! Não sei como se irá desenvolver esta situação, mas não espero nada de bom. Bem, fica a intenção que era boa e que poderia realmente ajudar. Paciência, há que respeitar a vontade da pessoa ainda que não concordemos com ela. Mas isso já está. O que mais me preocupa é a reacção da pessoa a partir daqui que não augura nada de bom em relação à pessoa que tentou ajudar.
Não são muitos, por isso são preciosos. E há-os um pouco por toda a parte. E fazem toda a diferença na vida das pessoas. Mesmo na das pessoas desconhecidas. Nunca lhes aconteceu ter o gesto certo, ainda que breve, no momento exacto e fazer a felicidade de uma pessoa? E não é preciso muito. Aliás, está provado que não são precisos grandes gestos para podermos ajudar as pessoas, mesmo as desconhecidas. É preciso boa vontade. E, com esta, podemos construir um pedacinho de céu na terra. Aconteceu isso mesmo, esta manhã, quando fui ao Centro de Saúde da minha área de residência, com a minha filha mais velha. A sala de espera estava repleta. Havia algumas pessoas de pé. Encontrámos lá, entre os pacientes, uma senhora idosa que não sabia ler nem escrever. Para além deste problema que a impedia de resolver convenientemente e com a pressa necessária os problemas, tinha a doença do marido (Alzheimer). Os filhos estavam longe. Contava com a ajuda de uma única sobrinha. Precisava de preencher um papel e não sabia como fazê-lo. Contou-me que uma senhora, empregada daquele centro, se dispusera a ajudá-la e, como prova disso, e passados alguns momentos, aproximou-se uma senhora alta, transpirando simpatia com o tal papel, pedindo à senhora que tirasse cópias dos documentos exigidos e o número de telefone que a idosa não sabia de cor. Repetiu pausadamente o recado até ter a certeza que a senhora tinha memorizado tudo. No fim, deu meia volta regressando ao seu posto para continuar o seu trabalho. Fizera tudo nos momentos de pausa. A idosa, com as lágrimas a afluírem aos olhos gratos e a voz trémula, agradeceu-lhe profundamente. Aquele gesto tinha evitado o desespero da pobre senhora. Era visível o seu alívio. Seguiu-se o comentário das pessoas presentes que notaram a nobreza do gesto manifestando-se agradadas. No final, todos estavam de acordo: as pessoas boas fazem a diferença onde quer que estejam. Na vida de todos, já houve experiências destas, experiências essas que não foram esquecidas e que são relembradas com gratidão. Mesmo nos momentos mais ingratos da vida e, como Sartre já dizia “l’enfer c’est les autres”, quando o mundo parece querer engolir-nos mesmo quando não fizemos mal nenhum, há sempre alguém mais distante ou mais próximo que faz toda a diferença, e sem se pronunciar sobre o assunto. Pessoas discretas mas equilibradas que, percebendo a desumanidade da situação (situações) ajudam, ainda que de forma despercebida, as pessoas acossadas. São estas que fazem toda a diferença. Os heróis existem no anonimato. E não são precisos grandes gestos. Para aquela idosa, a empregada foi uma heroína – a sua!
Há dois tipos de escravidão – a física e a espiritual. A escravidão física não ficou enterrada na História. Ainda hoje existe. Assume só outros contornos. O fim é o mesmo – exploração do homem pelo homem perspectivando o mesmo objectivo – dinheiro. Procura-se o menor investimento para se obter o máximo lucro. Para já não falar na maldade, projectada na crueldade, que lhe está subjacente. Não sei se em tempos de crise será pior. Apesar das dificuldades alguns patrões não querem baixar o nível de vida? É possível… Mas quem o faz, fá-lo independentemente da época que atravessemos. Tem a ver com a natureza das pessoas. Isto mostra que o mundo avança no tempo mas muitos dos seres humanos ficam atracados no cais da mentalidade retrógrada, avançando com valores desajustados à felicidade do ser humano, só porque isso lhe justifica os meios para atingir os ambicionados fins. Por isso, ouvimos nas notícias casos de trabalhadores apanhados nos mais diversos esquemas macabros por esse mundo fora. Alguns já foram descobertos mas ainda deve haver muitos mais ainda encobertos. Depois, como se isto não fosse suficiente, há ainda outra vertente que pode reduzir igualmente à escravidão – voluntária ou involuntariamente. Um exemplo da primeira terá a ver com esquemas religiosos que passam o tempo a extorquir dinheiro às pessoas que neles acreditam com toda a alma, entregando-lhes grandes somas de dinheiro, em busca de do milagre que tarda e não virá. A escravidão involuntária terá a ver com aquilo a que chamamos magia negra. Terá a ver com algumas pessoas que percorrem voluntariamente quilómetros até conseguirem alguém que aceda a fazer mal a uma certa pessoa ou pessoas. Alguns não vão tão longe, têm a possibilidade de o fazerem eles próprios. São aquelas “coisas” que todos sabemos intimamente que existem mas que teimamos em insistir, em alta voz, que não acreditamos. Mas há histórias que testemunham a sua existência. Qual delas mais dolorosa que a outra. Lembro-me de uma que me marcou particularmente. Tratava-se de um rapaz, bom aluno, que entrou para a faculdade. Alguém na família não teve a mesma sorte. De um momento para o outro, o rapaz ficou fisicamente paralizado e reduzido ao espaço de uma cama. Era a mãe que o tratava. Deixou mesmo de falar. Nenhum médico pode ou se atreveu a ajudá-lo. Depois de desistirem da ajuda física, os pais voltaram-se para a espiritual. E não foi fácil. Depois de muitos falhanços, lá encontraram uma pessoa que a ajudou. Agora, e depois de muito trabalho, o rapaz já tem uma vida normal. O que não se compreende é a hipocrisia das pessoas, teimando em não reconhecer algo que é tão velho quanto o próprio mundo. Eu acho que é cobardia. Mas enquanto isso continuar a persistir, nada se resolve. Só faz com que as pessoas presas a esquemas destes, se sintam mais à vontade para levar a cabo os seus macabros planos. Não são estas que me preocupam, mas a boas pessoas que se calam. É nelas que reside o verdadeiro perigo. Esta ideia não é minha mas Martin Luther King servindo também para aqui. Entretanto, há que ter um pouco de fé. Deus é o Princípio e o Fim e o Durante, apesar dos percalços que a vida nos possa trazer, seja pela mão seja de quem for. É Nele que temos de nos focar. E que Ele nos ajude…
Há quem opte por uma e há quem faça as duas. Tudo depende da pessoa. Se as pessoas sabem ensinar e não sabem bem como educar, é bom que optem por não o fazer; se há pessoas que sabem fazer bem as duas, então deverá fazê-lo. Há quem defenda que um bom professor deve fazer as duas. Um dia destes, falei com uma senhora que defendia isto mesmo. Ela própria, durante a sua experiência como professora, desenvolvera as duas áreas. Eu também faço isso, mas sei que tudo depende das pessoas, primeiro que tudo e volto a reiterar que se a pessoa não sabe como educar (entenda-se educar no sentido de ajudar), então deverá restringir-se à área do ensino. E passo a explicar a razão que me leva a defender esta posição.
Um dia, um aluno de CEF veio ter comigo, pedindo a minha atenção para um assunto sério que o afligia e com o qual nitidamente não sabia lidar. Eu ouvi-o serenamente, até à parte em que ele me contou que já falara com outro colega e o que ele lhe aconselhara. Fiquei gelada e revoltada! Se tivesse sido o meu filho? Como é que um professor, ainda por cima de meia-idade, dá um conselho daqueles a um adolescente? Só se for para o prejudicar! Eu, muito pacientemente, fiz umas perguntas ao aluno, no sentido de o fazer entender que ele já sabia a resposta. De facto, sabia. Ele próprio percebeu que o conselho que o professor não lhe tinha dado o melhor conselho. De facto, tinha sido até o pior! Desculpei o professor em causa, evitando colocá-lo numa posição difícil em relação ao aluno, com aquelas desculpas esfarrapadas que encontramos, no sentido de evitar que um novo problema surgisse. Graças a Deus, o rapaz percebera que algo não estava bem naquele conselho e viera ter comigo. Percebi que para dar conselhos, educar, ajudar uma pessoa é preciso amá-la, antes de mais. Este professor, se não sabia ajudar, (e há pessoas que não sabem), deveria ter admitido isso mesmo e ajudá-lo a encontrar alguém que o soubesse fazer. Outros há, porém, que sabem educar/ajudar e fazem-no sem contudo ser entendido pelos progenitores. Há uns dias atrás, uma colega educou/ajudou um aluno a entender que fizera um disparate. Resultado: o pai foi à escola dizer à professora que se limitasse a ensinar que ele estava lá para educar. Pela atitude deste, percebeu-se que o aluno continuou a fazer o que quis e que não foi mais incomodado. Há alturas que, mesmo sabendo educar/ajudar, não vale a pena fazê-lo, porque há alguém que estraga tudo. E logo um pai, que deveria ficar agradecido com a atenção dispensada ao filho…
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