Há muito que se ouve dizer que a agricultura, em Portugal, não dá lucro. Todos sabemos que a agricultura é essencial ao desenvolvimento de um país. Então, de quem será a culpa?
Todas as pessoas parecem ser unânimes: são os intermediários (sempre salvas as devidas excepções, se as há) que estrangulam a economia portuguesa. Os exemplos apontados são múltiplos, mais do que seria desejável. As histórias contadas e as notícias lidas apontam para isso mesmo. Vou pegar em duas e contá-las resumidamente. Um agricultor foi contactado por uma grande superfície para a produção de cenouras aliciando-o com a oferta das sementes. Nada mais parecer ter sido discutido. No momento da apanha da mesma, voltou a ser contactado pela mesma entidade. Desta vez, as negociações não foram tão produtivas. Afinal, esta avançou com o problema da certificação do produto que se esquecera de abordar no primeiro contacto com o agricultor. A questão centrava-se unicamente no valor do produto prestes a ser recolhido da terra. A grande superfície exigia a descida do preço dos catorze cêntimos antes acordados para os nove cêntimos. A indignação do agricultor, sentindo-se enganado, não se fez esperar e não teve outra consequência que a destruição do produto tão carinhosamente cuidado, preferindo a sua destruição.
Outra história, esta lida nas notícias, dava conta de uma grande superfície que, depois da sensacional promoção organizada, e para evitar perder a margem de lucro sacrificada nessa promoção, foi ter com os produtores agrícolas negociando preços de forma a prejudicá-los. Foi a organização em que estes agricultores estão filiados que denunciou o caso aos órgãos de comunicação social.
Se juntarmos a esta área muitas outras mais que vendem os produtos ao preço da chuva para chegarem aos consumidores a preços exorbitantes, não será difícil de concluir que os únicos satisfeitos com os negócios neste país são os intermediários. Mas são estes os principais responsáveis pelo fraco desempenho do país no que respeita ao seu desenvolvimento. Agora, a questão a colocar-se é esta: acontece com todos os produtores ou só com os mais desprotegidos social e economicamente? A resposta parece evidente! E sendo a agricultura, nos outros países, um área de grande lucro, não se percebe porque é que o mesmo não acontece neste país. Ou deverei dizer, não se percebia?
A actividade agrícola, ensinam-nos na escola, é francamente de deficitária. Não produzimos o suficiente para preencher as necessidades do país, pelo que temos de importar largas quantidades de produtos o que desequilibra a nossa balança comercial.
Há pouco tempo dizia a um amigo que me admirava com a extensão de terreno agrícola ocupado com a monocultura de produtos agrícolas que são já velhos conhecidos da história portuguesa. Falo de terreno arável ocupado com infindáveis vinhas, oliveiras e pinheiros inseridos numa paisagem nada habitual. Estranhei. Conversei com alguém que, para além da sua formação em História, está, de alguma forma, relacionado com a actividade primária. A resposta, ao que parece, tem a ver com a procura externa. Como há muita procura, investe-se na produção de determinado produto agrícola à procura do melhor lucro. Assim, como parece haver muita procura de azeite, por parte de certos países, começou-se a plantar oliveiras em todo espaço livre. A conversa fez-me pensar. Todo a produção tem de ter o seu escoamento certo, de forma a tornar rentável a actividade, agrícola ou não. Sempre defendi que um país deve ser auto-suficiente neste campo, isto é, deve produzir de forma a colmatar todas as necessidades existentes no país. Se for excedentário nalgum tipo de produção poderá escoá-lo para o estrangeiro. Agora, não entendo este tipo de agricultura que anda ao sabor da procura externa. Se há muita procura de um determinado produto investe-se incondicionalmente no mesmo?! E se esses países, que agora têm tanta necessidade desse produto, resolverem apostar na sua produção? O que acontece aos agricultores que tanto investiram em determinada especialidade agrícola? Não seria melhor fazer um planeamento, a nível nacional, de forma a perceber quem é que produz o quê de forma a ter-se de tudo e com tudo direccionado para determinado comprador, de forma a tornar a actividade agrícola um sector rentável e, desta forma, atractivo? Não se deveria apostar antes no comércio interno vendendo só os produtos excedentários ao estrangeiro? Com uma política destas não se acabaria, ao mesmo tempo, com os problemas da falta ou a pouca quantidade de certos produtos, a rentabilidade do sector e o equilíbrio da balança? Não seria melhor para o país? Então, o que impede que tal se faça? Mesmo com a velha mentalidade do emparcelamento e do minifúndio pode-se conseguir isso. Se as pessoas souberem onde e quando devem entregar os seus produtos e que recebem dinheiro em troca da quantidade apresentada dos mesmos, não se conseguiria esse número desejável de produção capaz de acabar com a dependência do exterior? No fundo, o pouco faz o muito…
Há pouco tempo, li uma notícia sobre a recuperação de casas, de traço e construção antigos, que estavam votadas ao completo abandono numa localidade onde só existiam dois habitantes, já idosos, que haviam resistido ao destino da partida. Uma empresa portuguesa, antecipando-se a outra inglesa, adquiriu aquela aldeia e reconstruiu as casas com fins turísticos. Aqui poderão adquirir-se casas de férias para portugueses e estrangeiros. As outras que não serão vendidas irão, ao que parece, ser exploradas como unidades turísticas. Até aqui conseguiu-se algo bom para aquela pequena localidade, esquecida no tempo e no espaço, a recuperação do património habitacional, e a sua repovoação, ainda que periódica, que dará vida àquelas paragens.
Este património que estava votado, até há pouco, a um desaparecimento total, uma vez que o ninguém ligava àquelas casas ou pensava sequer
No que à recuperação do património diz respeito, pode dizer-se que o objectivo foi atingido, agora, temos é de pensar, ao mesmo tempo, na repovoação e fixação das populações às localidades. Para isso, os projectos têm de ir mais além do património habitacional. Têm de ser acompanhados por um projecto de desenvolvimento da própria localidade. Não falo só da parte mais lógica que será o desenvolvimento agrícola, que tanta falta nos faz, mas de outros projectos que, a partir daquele, virão atrás. É só pôr a imaginação a funcionar. Há muito a fazer neste país, para além da parte económica, a que se dá tanta importância hoje em dia, há muito a fazer no que respeita ao conhecimento da flora e fauna locais, a preservação do património arqueológico… e muito mais. O resto virá, estou desconfiada, por si.
Fátima Nascimento
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