Há três meses atrás, fiz uma visita de estudo aquando da formação que realizei em Empreendedorismo no Turismo. Fomos a Tomar visitar alguns dos locais mais emblemáticos desta localidade: Convento de Cristo (onde tivemos a oportunidade de sermos acompanhados por uma senhora ligada àquele monumento, já faz muitos anos, e que nos deu uma óptima visão de todo o historial daquele edifício tão belo e imponente), a Sinagoga, onde pudemos entrar em contacto, de uma forma mais directa, com a realidade daquela religião tão irmã como é a judaica, a Igreja de S. João Baptista (que se encontrava encerrada) e a Mata dos Sete Montes que me pareceu um pouco votada ao abandono. Ainda na visita realizada ao convento de Cristo, a senhora que nos recebeu e acompanhou, respondeu a algumas questões colocadas pelo formador, sobre os recentes achados arqueológicos, mesmo ao lado do cemitério actual. Depois de termos cumprido integralmente o roteiro escalonado, ainda tínhamos algum tempo livre que aproveitámos cada um à sua maneira. Eu, o formador e dois colegas resolvemos aproximar-nos daqueles achados que tanto apelavam à nossa curiosidade e ao nosso coração. Fomos a pé, debaixo de um sol impiedoso e sufocante, combinando a desculpa a dar, caso fôssemos abordados por alguém. Visitámos a igreja do local, que eu sempre encontrara fechada e que, havia muitos anos, e após várias tentativas falhadas, desistira já de conhecer. Junto dessa igreja, estavam a realizar-se escavações que punham em estado de sítio as imediações da mesma. Deslocámo-nos com cuidado e aproveitámos para interrogar as pessoas directamente ligadas àquele achado. Trata-se de um cemitério medieval e vários túmulos estavam a ser escavados, na tentativa de se conhecer mais sobre aquela época. É, tanto quanto pude constatar, um achado importante que se estendia para lá das imediações daquela igreja. As estradas que se construíam à volta, limitavam aquele local outrora sagrado, ameaçando tapá-lo para sempre. Foi com emoção que vimos aquelas ossadas de antepassados nossos, descobertos. À frente do projecto, e nas imediações da igreja de Santa Maria, encontravam-se, salvo erro, dois arqueólogos, e o resto do pessoal, tanto quanto pude averiguar, era miúdos contratados, sem grande preparação, e o que era mais curioso, era a incessante pergunta sobre a hora de saída. Via-se que não estavam muito motivados, e a culpa não é deles. Vi, horrorizada, algumas ossadas serem inutilmente destruídas, embora tentasse avisar que, naquela altura, a ferramenta utilizada não era a adequada. Inútil ou demasiado tarde! Já faz tempo que deixei o curso de arqueologia, trocando-o por outro… mas, pelo que vi, quase nada mudou! Aqui o aspecto positivo a realçar, é o interesse suscitado que levou as autoridades locais a chamar os cientistas para que pudessem averiguar a importância dos achados. Até o acolhimento às pessoas de fora, não esqueçamos que o património é de todos e tem de se cultivar na população o amor por estes achados, não foi a melhor, por parte daqueles que lá trabalhavam, ligados ou não aos achados. Será que este país nunca mais acorda? Será que nunca mais se aprende a fazer as coisas correctamente? Medo? Não se vai a lugar nenhum sentindo medo por este ou aquele motivo…
Há uns tempos atrás, na conversa com um adolescente de 14 anos, ele contava-me que encontrara uma carteira no chão, junto de um canteiro, com cerca de cem euros em notas, quando passeava com quatro amigos. A carteira voltou para o sítio onde a encontraram, juntamente com os documentos, o dinheiro foi repartido por ele e os amigos. Contou a história com a fanfarronice que o caracteriza, gabando-se dela, como se de um acto heróico se tratasse. Fizeram-no sem qualquer problema de consciência: encontraram o dinheiro, era deles. Discordei do seu ponto de vista. Se eles haviam encontrado a carteira, era porque alguém a perdera e o dinheiro pertencia, por direito, ao dono da carteira. Vi a sua atrapalhação. Nunca ninguém o fizera ver o outro lado da questão. Estivera sempre à espera que concordasse com ele, de alguma forma, ou nunca me teria contado nada. Pensara ele na pessoa que perdera a carteira? Na aflição dela? Pensara, por acaso, que ela poderia ter, naquela carteira, o dinheiro para o resto do mês? Pertenceria a carteira a algum reformado, que necessitaria daquele dinheiro para os medicamentos? Porque não a entregaram, ele e os colegas, numa esquadra da polícia, uma vez que a identificação do dono estava nos documentos da carteira? Enfim, criei-lhe uma quantidade de situações, falando-lhe calmamente, que o deixaram algo incomodado. Multipliquei este adolescente por alguns milhares ou mesmo milhões, e tive a percepção do que espera a sociedade daqui a una anos, com filosofias de vida iguais a esta, já que os adolescentes de hoje são o nosso futuro próximo. Ele, e outros adolescentes como ele, consciente ou inconscientemente, estão a ajudar na construção de uma sociedade que alimenta as filosofias do “salve-se quem puder” e da “lei do mais forte” que, aliadas à firme convicção de que os seus procedimentos estão correctos, vão moldar estes adolescentes para sempre. Pede-se, urgentemente, a intervenção dos pais junto destes adolescentes. O pior, é quando os filhos são o retrato vivo dos pais e vice-versa. Neste caso, pouco ou nada se pode fazer. O pouco fiz eu… pelo menos tentei!
Fátima Nascimento
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