São meninas e são mulheres. São meninas com responsabilidades de mulher. São meninas de corpo e/ou cabeça de mulher. São meninas na escola e mulheres em casa. A vida passou-lhes uma rasteira. Talvez não seja culpa da vida, mas da sociedade em que vivemos.
A nossa sociedade admira pessoas trabalhadoras. Daquelas que têm trabalhos com horários incríveis (só com uma folga por semana) ou até dois trabalhos que asseguram a comida e as despesas mensais da família. Ninguém consegue pensar mais além disso mesmo. O problema é que estas horas dedicadas ao trabalho (que a nossa sociedade tanto admira) rouba horas à família. Não é culpa destas, por mais que muitos teimem em arranjar-lhes defeitos. Elas apenas respondem às exigências da sociedade em que se inserem. E por esse mundo fora, este problema multiplica-se. Quando acontecem tragédias, culpam as famílias. Como se o problema apenas se resumisse a esse universo.
Estas meninas, para além dos deveres escolares, acumulam deveres domésticos. Substituem os pais ausentes.
Encontrei as duas na mesma semana, apenas separadas por dias. Uma delas saía do supermercado, carregada de compras e rodeada de crianças mais novas que pareciam os irmãos mais novos. Além da carga, que era pesada, tomava conta de gaiatos que gravitavam à sua volta. A sua voz tentava sobrepor-se aos gritos dos mais novos, tentando assumir um tom de comando no sentido de impor algum respeito e fazer-se obedecer.
A outra, já com corpo de mulher, mas com uma idade muito abaixo da projetada pela sua imagem, seguia rumo a casa com três sacos enormes de compras que tentava equilibrar, sem êxito, no seu corpo. Mais compras. Mais uma tentando preencher as lacunas deixadas pelos pais ausentes.
Exigem delas na escola. Exigem delas em casa. Vivem uma vida ensanduichada entre deveres e com pouco tempo para dedicar a si mesmas e aos interesses de crianças que ainda são. A notas, na escola, refletem essa vida. O cansaço assume um peso enorme naqueles ombros tão tenros.
Tudo isto se reveste de um perigo que a sociedade teima em ignorar. Os salários baixos levam os pais a ausentar-se para compensar as despesas mensais e não têm em conta aspetos humanos, só económicos. Se tudo corre bem, esta fase da vida daquelas meninas mulheres com todos os contratempos nela incluídos, apenas são do conhecimento da família e alguns vizinhos de confiança. Se, pelo contrário, esses contratempos saem, pelas piores razões, desse âmbito, apenas a família fica debaixo da mira das responsabilidades. As atenuantes passam ao lado, apenas se fala de negligência familiar. Mas, a responsabilidade é mais lata. E é uma responsabilidade vertical que começa com o valor do salário mínimo estabelecido pelos políticos e defendidos por patrões. Todos estes são responsáveis indiretos deste problema de que não se fala. Quando se pagar o trabalho com o devido valor, já não será necessária essa ausência parental e talvez desta forma talvez se consiga o equilíbrio que as famílias necessitam, para se conseguir, com a solução, uma sociedade mais equilibrada, em todos os aspetos.
Quando as crianças tiverem mais tempo para ser crianças, talvez as avaliações sejam aquilo que o ME deseja mas sem a necessidade de exigir dos professores.
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