A tragédia de Myanmar
Mesmo vivendo em democracia, e escolhendo os políticos que, julgamos nós, nos representarão melhor nas nossas necessidades e aspirações, a nível do desempenho político, muitas vezes, nos decepcionam, imagino o que será viver debaixo de uma ditadura, seja ela de que natureza for, e com a qual não nos identificamos. Penso que será mais ou menos isto que se passará com o povo da Birmânia. Será que eles conhecem os rostos dos seus governantes?
Olho as imagens daquele povo que, adivinha-se vivia já com pouco e que, agora, vive sem nada, após aquele devastador ciclone que arrebatou vidas e os poucos bens que deveriam possuir.
Olho as imagens e vejo os mesmos olhos vazios, próprios das pessoas ainda abaladas por um grande choque, e adivinho o medo e a incerteza, para além do desespero quando se tem de enfrentar o desconhecido. Estes dias de grande sofrimento poderia ser amenizado pela ajuda internacional que já se disponibilizou a ajudá-los. Não sei se eles sabem da existência dessa ajuda internacional que os pode e quer ajudar, e o que pensariam se soubessem que, apesar da urgência nessa ajuda, a junta militar que os governa e que deveria defendê-los está, ela própria a dificultar e a impedir a entrada dessa mesma ajuda no seu país. Não falo só da ajuda para enterrar os mortos, (que os militares poderão fazer), mas do fornecimento de bens essenciais à sobrevivência deles, e que vem sobretudo do estrangeiro, porque eu não acredito que, depois da catástrofe que se abateu sobre o país, eles tenham os meios suficientes para chegar até ao povo birmanês com a quantidade e a variedade de bens essenciais que eles necessitam. Como todas as ditaduras, uma das características é a de fechar o país a influências tidas como negativas para o país e a política de desconfiança serve de filtro a tudo quanto venha do exterior. Não será altura de esquecer as desconfianças, as divergências para se unirem em volta de um povo sofredor? E caso tarde a autorização de entrada no país a essa ajuda internacional, não haverá forma de sensibilizar os governantes para os seus deveres primordiais, enquanto governantes? E, em último caso, não haverá forma de os responsabilizar pelas consequências desse entrave? Seria, de certeza, uma lição para todos os governantes de má vontade que só olham para os seus interesses, esquecendo o mais importante – a ameaçada sobrevivência do seu povo.
Fátima Nascimento
Um dia destes, regressava de Lisboa, quando encontrei uma senhora de idade, com uma vida extraordinária, que entabulava conversa com todos os que se sentaram à sua volta. O que é extraordinário, é a quantidade de conhecimentos que mostrava possuir. “Tem este problema?”, perguntava, “Beba chá de folha de…”. Parecia possuir um conhecimento extraordinário sobre as plantas e as suas propriedades medicinais, que ia tão longe quanto a sua memória lho permitia. Isso fez-me pensar na cultura popular e da importância na nossa identidade, enquanto povo, para além de todo um conhecimento que sobreviveu séculos e que, ainda hoje, ainda nos é útil. Antes, muita da nossa cultura popular, para não dizer quase toda, chegou até nós graças às conversas de lareira entre pais e filhos, netos e avós que, nas noites frias e chuvosas de Inverno ou ao luar, nas noites claras e mornas de verão, sentados à porta nas pequenas cadeiras de madeira, que se arrastavam para todo o lado. (Hoje em dia, os locais, consoante a movimentação e a confiança das pessoas, podem ser os mais variados, até o comboio!) Estes momentos eram fundamentais na transmissão desses conhecimentos e a principal razão pela sua resistência à natural corrosão do tempo e é só olharmos para os contos populares, lendas, cantigas, provérbios, anedotas, etc., que ainda hoje encantam a imaginação das nossas crianças, arrancadas a esses momentos e, de certa forma, desenraizadas da cultura popular, uma vez que a velocidade da vida actual não o permite. De toda a tradição popular, a que menos aprecio são as crendices que, para mim, se prendem a laços de mentira e de medo e que, graças à ciência, foram desmistificadas, concedendo às pessoas maior liberdade e confiança. Lembro-me, por exemplo, de algumas crendices referentes, por exemplo, ao período e à higiene pessoal da mulher ou as referentes às superstições e os consequentes e possíveis azares daí provenientes, que em nada contribuem para a felicidade do ser humano. Finalmente, gostaria de acrescentar que tradição não entra em choque com a inovação. Acredito mesmo que, e estou a pensar no caso concreto do artesanato, se ao que tradicionalmente se faz, se alguém se lembrar de juntar o desenho de uma flor típica do local a um bordado, na minha opinião, isso só iria valorizar o próprio artesanato local. Para mim, a tradição, na passagem dos séculos, tem sempre algo de inovador, mesmo que tal nos passe despercebido. Só assim a tradição tem razão de ser. Ela não pode ser um entrave à imaginação das pessoas, mas servir de base a algo um pouco mais arrojado do que se fez até ali. Depois, o próprio povo é de opinião que, quem conta um conto, acrescenta sempre um ponto… que tem a ver com a contribuição que cada um dá de si próprio, dentro daquilo que aprenderam.
Fátima Nascimento
Há já um certo tempo que me interessei por esta mulher doente, um magro espectro daquela mulher que eu adivinho ter sido idealista, recta e determinada nas suas convicções políticas e sonhos. Ela sonhou com uma Colômbia diferente e, muito provavelmente, teria conseguido realizar o seu sonho, se lhe tivessem dado a oportunidade que merecia. Não conseguiu. Foi raptada, pelas FARC, em 23 de Fevereiro de 2002, exactamente numa região da Colômbia que nenhum candidato à presidência se lembraria de visitar, por medo. Ela foi. A coragem, até nesta decisão, é marcante na personalidade de Ingrid que, antes, já a mostrara, quando denunciou publicamente o mal que infestava o seu país, mesmo apesar das ameaças e da dor de se ver separada dos filhos, ela não desistiu da sua posição. Todo o seu comportamento mostra o bem que ela iria fazer por ele, se lhe tivesse sido dada uma hipótese. Passados seis anos de cativeiro, alguns reféns já foram libertados, ela não. Porquê? Olhando para o povo daquele país, facilmente se adivinha que ele só teria a ganhar com alguém como ela à frente do país. A quem é que ela não interessa então? As FARC, depois de tudo o que se sabe sobre elas, não estão propriamente nas boas graças da opinião pública, internacionalmente falando, pelo que a sua libertação só iria, forçosamente, melhorar a sua imagem. (De facto, as suspeitas de tráfico de droga, de roubo de gado, sequestro, a integração de adolescentes nas suas forças, entre outras acusações, não criará especial simpatia no povo colombiano, quanto fará na opinião pública internacional.) Incompreensivelmente, elas continuam ainda assim, a mantê-la em cativeiro… embora sabendo que ela está doente e que, a sua condição física pode, a qualquer momento, sofrer um fatal revés, perdendo elas, desta forma, a sua refém mais mediática. A partir desse momento, elas correrão o risco de ficarem entregues a elas mesmas, e a braços com a justiça internacional e com a má vontade ou indiferença dos outros povos, perante a sorte deles. Pelo que já ficou dito, as FARC nada ganham com a manutenção de Ingrid em cativeiro. . Então, volto a colocar a questão já antes formulada por mim – Quem é que poderá estar interessado na continuação do sequestro de Ingrid Betancourt? Para quem é que ela poderá ser ainda uma ameaça? Segundo um ex-refém das FARC, ela continua a sonhar com a presidência colombiana, apesar de tudo…
Este pequeno minúsculo pacífico país, escondido no alto dos cumes enevoados e frios das montanhas mais altas do mundo, nunca foi, pela sua cultura, um país ameaçador ou em vias de o ser, convivendo sempre pacificamente com os outros estados vizinhos numa atitude de profundo respeito e humildade, atitude que caracteriza o seu representante legal, o Dalai Lama, agora exilado na Índia. Por alturas da Segunda Guerra Mundial, a China comunista invade e toma posse daquele território perante a incredulidade e a impassibilidade mundiais. Era o fim de um pequeno e recôndito estado, há cerca de meio século, inexplicavelmente, debaixo do domínio de sucessivos governos chineses que tentaram sufocar culturalmente o pequeno estado, ao que parece, ingloriamente. Embora casos de violência tivessem sido denunciados, ao longo daquele já longo período de domínio chinês, o mundo inteiro nada fez para ajudar a resolver o problema deste minúsculo estado, limitando-se a uma política hipócrita de ambivalência do - não concordo, mas também não me meto! Resta àquele povo a incansável acção do seu representante máximo, que nas suas deslocações constantes, leva a causa do seu povo aos outros países, na tentativa de não deixar esquecer o que por lá se passa (e o que aconteceu!). Embora os todos os governos chineses se tenham esforçado por integrar aquele povo na sua cultura, e apesar das sucessivas camadas de população chinesa que imigraram para lá, as recentes manifestações provam que eles não o conseguiram e que aquele pacífico povo continua fiel às suas raízes. Como toda a potência dominadora, a administração chinesa procura abafar toda e qualquer manifestação que relembre os tempos anteriores à anexação do território tibetano, mesmo recorrendo à força contra uma população indefesa cuja única arma são a vontade de inverter uma situação que já dura há demasiado tempo. Se o actual governo chinês acha que consegue lidar com esta determinação (esta resistência), então, ele não entende que a fé move montanhas. E se não consegue compreender algo tão simples, num país profundamente religioso, então, e tal como aconteceu já em muitos episódios da história mundial, o país dominador tem os dias contados lá. Nada demove um povo determinado, pode demorar, mas eles expulsam sempre os opressores, sejam eles quem forem. Quanto aos outros países do mundo, talvez se devessem questionar sobre o persistente interesse de um grande país como a China num estado tão pequeno, e, aparentemente, sem os grandes e tão cobiçados recursos primários que movem nações a dominar outras. Qual será o verdadeiro interesse da China por aquele estado, que se dá a tanto trabalho para integrar uma região dentro das suas fronteiras, sem querer saber da vontade do seu povo? Que interesse será esse que o leva a ser implacável com pessoas desarmadas cujo único intuito é a recuperar a independência e a dignidade perdidas? Depois, o que é mais importante do que a vontade de um povo?
Faz agora dez anos que morreu a princesa Diana e muitos são aqueles que ainda a recordam com saudade. A imagem da princesa exerceu, e continua ainda a exercer, um fascínio enorme em todos aqueles que a acompanharam, através dos meios de comunicação, a sua vida enquanto princesa. Ela não foi só a princesa do Reino Unido, mas a princesa do coração dessa massa anónima mundial que é o povo. Ela foi a princesa que muitos povos ambicionariam para si. E se foi a princesa, por direito, dos ingleses, foi-o do coração do resto do mundo. O fascínio dela não se ficou pelo facto de ela ser uma mulher bonita, simpática, elegante… e pela maneira como ela se dava aos outros e se envolvia a fundo nas causas sociais. O seu exemplo, vai muito para além disso. Ela mostrou ao mundo, na sua maneira simples e directa, como devem agir os governantes, neste caso, as famílias reais – nisso, ela foi, e é, um paradigma. Foi aqui, sobretudo, e na minha perspectiva, que ela marcou pontos e incomodou mentalidades comodamente adormecidas durante séculos, ou talvez milénios. Foi talvez neste campo que ela se tornou incomodativa e foi, por vezes, perseguida por mentalidades retrógadas, que ainda não perceberam que o futuro das monarquias, e sobretudo da inglesa, passa, necessariamente, pelo exemplo dela. Não há volta a dar à questão, a monarquia divide-se em dois períodos – antes e após o exemplo de Diana de Gales. Ela mostrou ao mundo que os governantes existem para se colocarem ao serviço do povo, ir ao encontro dele e das suas necessidades. Eles não podem ser só os representantes de uma entidade nacional, a nação é o povo, e não o território. Que seria das famílias reais, e outros governantes, se não fosse o povo? Quem governariam eles? Espero que o exemplo dela continue nos filhos, sobretudo em Guilherme, e que ele tenha a percepção da importância que é, para ele, seguir o exemplo da mãe, porque, e é mais uma vez só a minha opinião, é isso que o povo espera dele e da futura mulher. O Reino Unido não é mais o mesmo, as mentalidades mudaram, o povo mudou a sua maneira de encarar a monarquia. Não é por acaso que surgiu a designação “Princesa do Povo”, e não interessa como surgiu, o que interessa é que ela está gravada no coração do povo inglês, e não só.
Projecto Alexandra Solnado
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