O meu filho viu-se envolvido no meio de uma situação, da qual saiu prejudicado. Um vizinho nosso, e colega dele de escola, emprestou a sua pendrive a outra colega de turma. Esta, no fim de a ter utilizado, sabe-se lá porque razão, pediu ao meu filho para a guardar. Este, num gesto de boa vontade que o caracteriza, pegou nela e meteu-a na pasta. Quando chegou a altura de a entregar ao colega, ele estendeu a mão para a colega e disse-lhe para lha entregar. Ela negou-se. Resultado: a pen estava estragada. O dono da pen ficou zangado e pediu contas à rapariga e ao meu filho. Este, vendo-se envolvido, injustamente, na questiúncula, negou-se a pagar fosse o que fosse. Ficaram zangados. Resolvi procurar o rapaz para falar com ele, de forma a que entendesse a posição do meu filho, e salvar uma amizade. Estava lá o pai. O rapaz estava em casa de um colega. Mas fez-me logo saber que as coisas não eram assim na versão do filho e dos colegas. Pedi para telefonar ao filho. Este veio. Expliquei-lhe a atitude do meu rapaz, a amizade que estava por trás do gesto, que ele não tinha obrigação de ficar com a pen, uma vez que não fora a ele emprestada, mas que, ainda assim, concordara em ficar com ela, que era a moça, a quem ele a emprestara que deveria fazê-lo, que ele não deveria emprestar essas peças informáticas a ninguém, e que ele, tanto quanto o meu rapaz, eram vítimas daquela situação toda. Chamei o meu rapaz, para falar com o colega, na tentativa de levar ambos a entender a situação do outro. A irritação do vizinho que perdera um instrumento de trabalho, a do meu que lhe fizera um favor e saíra prejudicado por isso. O pai do rapaz saiu de casa para um encontro que combinara e, de passagem, perguntou-lhe se o caso estava resolvido. “Mais ou menos”, foi a resposta do filho. “Então já está resolvido.” foi a resposta do pai que acrescentou, “Eu também já emprestei uma pendrive que me estragaram e nunca vi o dinheiro.” Eu percebi a indirecta do pai e ignorei-a. Desde o início da conversa, o rapaz que se mostrara, aparentemente, sempre compreensivo, (eu percebia a resistência interior dele às minhas palavras) embora insistindo, sempre que podia, no dinheiro da pen, explicou que iria receber metade da quantia, no dia seguinte, da colega a quem emprestara a pen. Eu retorqui que era precisamente a ela que ele tinha de pedir contas, porque foi a ela que ele emprestou a pen, e a mais ninguém. Despedi-me do vento frio que varria a rua, e do rapaz, sem deixar de ouvir da boca dele que o assunto ainda não estava resolvido. Percebi que não valia a pena. Ele queria o dinheiro do utensílio e mais nada… Agora, só falta cá vir a mãe falar comigo e… defender a mesma ideia do filho. A única lição que o meu filho pode tirar daqui é nunca mais fazer favores a ninguém, seja a quem for.
Desde o último escândalo Casa Pia, e agora com estas últimas denúncias, a tutela do Estado sobre as crianças órfãs, é, novamente, questionável. Quem é o Estado? Para mim, o estado é uma cadeia difusa de rostos, um emaranhado de pessoas cuja responsabilidade no que se passa neste país é quase totalmente desconhecida. Digo quase, porque as pessoas são boas, mas não são estúpidas e têm uma ideia dos culpados, mas só
No caso da Casa Pia, a instituição é destinada a educar e a proteger as crianças que lhe são confiadas. E, de facto, não lhes falta nada, nada que o dinheiro possa comprar. Falta-lhes, talvez, o carinho e a protecção de alguém que os ame, os acompanhe individualmente no seu desenvolvimento pessoal até à idade, altura em que possam e saibam decidir por si próprios, e dar, então, um rumo às suas vidas. As crianças com falta de carinho e amor são as mais vulneráveis nesta selva humana, onde impera a lei do mais forte, física e psicologicamente. Com elas, trabalham pessoas que, findo o seu trabalho, regressam às suas casas e às suas famílias. Famílias de que carecem estas crianças. Um rosto que as acompanhe e que substitua o pai ou a mãe que tiveram mas não conheceram, em muitos casos. O que eu quero dizer, é que a instituição tem de repensar a sua estrutura e os seus meios para atingir os seus objectivos. Depois, há imensos exemplos, vindas de instituições privadas que podem servir de exemplo a essa mesma reestrutura. Refiro-me ao caso particular das aldeias SOS, onde as crianças são confiadas a um adulto que é, para todos os efeitos, o pai ou a mãe, dessa ou dessas crianças, e que as acompanha e lhes dá o amor, o carinho e a protecção de que elas tanto necessitam, para crescerem de forma equilibrada e sã. Pergunto-me se não é disto que as crianças da Casa Pia, pelo menos aquelas afectivamente mais carentes e desamparadas psicologicamente, precisam para se evitar mais casos de pedofilia. Não vamos ter a veleidade de pensar que, com estas medidas, vamos acabar com os pedófilos, que certamente terão de buscar ajuda, seja ela de que natureza for, provavelmente médica, (uma vez que a prisão não cura), ou com os gananciosos que, à custa da integridade física e psicológica de crianças, ganham dinheiro com tal negócio. Mas, pelo menos, ficamos com a consciência tranquila, sabendo que, onde se detectou o problema, resolveu-se. O que temos de fazer, e todos nós somos o Estado, uma vez que contribuímos para ele com os nossos impostos, na medida das nossas possibilidades, é exigir a prevenção de casos como estes tristemente conhecidos da Casa Pia, com medidas adequadas.
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