Estamos a atravessar um túnel do qual levaremos algum tempo a ver a luz do sol e, quando finalmente o virmos, vai ser sempre uma breve aberta no farto céu cinzento, para, logo de seguida, mergulhar noutra. O que pode variar é o grau de gravidade da mesma. Se olharmos para trás, para a nossa história económica, o país viveu, salvas as devidas excepções, imerso
Desde nova que sou uma apaixonada pelas artes na sua mais variada forma: música, cinema, literatura, etc.. Quando era mais nova, deixava de comer, nos intervalos, para poder comprar os discos e os livros (na altura não havia cassetes de vídeo!) que mais gostava. Nunca recorri à pirataria. Também não era fácil, mas acontecia. Lembro-me de ter copiado para cassete os discos de uma amiga minha de infância, que chegara há pouco de França, com um manancial variado de músicas dos anos 70, uma vez que não tinha possibilidades de encontrar essas músicas no nosso país, nem poderia nunca comprar aquela quantidade de discos! Assim, limitava-me a seleccionar os que mais me agradavam. E era difícil a escolha! Levava, por vezes, imenso tempo a decidir-me pela escolha certa!
Se olharmos para o presente, percebemos que os tempos mudaram, mas a realidade social não se alterou muito. Ainda existem muitas famílias para quem é difícil arranjar dinheiro, dentro do magro salário, para investirem em cds e dvds cujos preços, na sua maioria e salvas raras excepções, são altos para os ordenados médios. Eu, que neste momento passo por uns tempos de maior dificuldade, não me posso dar ao luxo de investir na compra de produtos que não sejam os estritamente necessários. Quando podia, limitava-me a comprar algum, de tempos a tempos, quando o mês era menos apertado em termos de despesas. Eram caros. Continuam caros!
O que acontece é que as pessoas gostam de investir na cultura que apreciam e até investiriam muito mais se tivessem mais dinheiro, para o fazer. Depois, se olharmos ao dinheiro que fazem os vendedores do mercado negro, podemos avaliar isso mesmo. E, quando os produtos estão mais baratos, há sempre a tendência a comprar mais do que um. Mas até estes são lesados, quando as pessoas vêem uma outra forma de obter estes produtos mais baratos: os cds e dvds graváveis, muito mais baratos onde se colocam músicas ou filmes sacados da net. Provavelmente é o que esses vendedores fazem também, embora tenham ainda a despesa da capa e o trabalho de os carregar até aos mercados. Não condeno ninguém, para isso existem a polícia e os tribunais. Eu limito-me a compreender a situação que, ainda assim, tem muito de incompreensível. Por exemplo, muitas vezes, verifiquei que os gaiatos mais ricos eram os que recorriam mais à pirataria. Mas eu tenho uma certeza: se estes produtos culturais fossem mais baratos, isto é, mais compatíveis com o poder de compra médio dos portugueses, a indústria não estaria em crise e as lojas não se queixariam tanto da queda das vendas. Eu aproveito para comprar nas alturas em que estes bens culturais estão a um preço razoável e em que posso comprar vários pelo preço de um. Nessa altura, todos ganhamos!
Todos nós tivemos os nossos heróis na infância que, na adolescência, foram substituídos pelos ídolos. (Julgo que muitos adultos ainda esperam um herói.) O que os diferencia uns dos outros é a sua natureza. Enquanto uns emergiram das páginas dos livros, dos desenhos-animados, sendo, sobretudo, fictícios, outros surgiram da obscuridade dos tempos, devido aos actos de valentia que os tornaram imortais. Eles foram muito além das normas que regulavam a vida dos povos, e que nem sempre eram justas, não perdendo eles, nunca, os ideais defensores da dignidade dos seres humanos, sobretudo dos mais desprotegidos. Depois, só surgiram os heróis porque havia vilões que eles combateram. Sempre foi assim e sempre assim será.
O que preocupa é que, quando há heróis, e estes destacam-se por ter a coragem de assumir atitudes que os outros, pelas mais diversas razões, não tomam, isso, geralmente, quer dizer que temos uma maioria, pelo menos aparentemente, amorfa. É sempre difícil ver alguém insurgir-se ou manifestar a sua opinião seja contra ou sobre o que for ou quem for individualmente… e, quando o fazem, as consequências são sempre as mesmas (ou raramente variam) – a perseguição pessoal, que pode ter as mais diversas facetas. Chegados a este ponto, poucos são aqueles que resistem, porque é sempre fácil esmagar uma só pessoa. E é o que acontece aos mais audaciosos que, individualmente, de alguma forma, tiveram a audácia de ir contra o sistema implantado. Se tivermos em mente o que aconteceu em países ditatoriais, onde pessoas desapareceram para sempre, sem deixar rasto… percebemos porque muitos deixam de lado os seus ideais. Nos países, ditos democráticos, o caso é mais complicado. As formas de perseguição ganham contornos nunca vistos, mas são, na sua maioria, mais discretos. Só as pessoas visadas sentem essa perseguição que, aparentemente, nada tem de mais e que, muitas vezes, implica mais do que uma pessoa a perseguir a mesma - sabemos (ou imaginamos) como os tentáculos do poder chegam a todo o lado. Por isso, nestes tempos, tudo parece desenrolar-se ao contrário, e é o herói que é perseguido e perde a batalha. Talvez lhe faltem os aliados com os mesmos ideais e a mesma coragem que o caracteriza, talvez seja o final desse herói que faz com que os outros escolham manifestar-se em grandes grupos, de modo a não serem identificados e a não terem a mesma sorte. Para isso, não é precisa muita coragem… só boa vontade e disponibilidade para defender os seus interesses, porque são, sobretudo, estes que levam as pessoas à rua. O resto, preferem fingir que não vêem… ou talvez pactuem com eles, mesmo silenciosamente.
Fátima Nascimento
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