opiniões sobre tudo e sobre nada...
Segunda-feira, 2 de Janeiro de 2017
Monarquia versus república

 

   A república e a monarquia parecem ser as únicas alternativas políticas existentes. Por que será assim?

   Vamos recuar no tempo. Vamos até à época em que o planeta começou a ser dividido em parcelas. Como poderá ter ocorrido isso? Podemos imaginar que a humanidade então já desfrutava, dentro da sua semelhança, de algumas diferenças. Seriam diferenças de força física (ou outra qualquer espécie) que levaram alguns seres humanos, a determinado ponto da história, a decidir que aquela parcela seria “sua”. Por qualquer motivo, os demais nunca se lembraram de questionar essa legitimidade e outros, muito provavelmente, manifestaram indiferença e outros ainda gostaram da ideia e resolveram procuram outro pedaço de terra para si (e até hoje nunca ninguém se lembrou de se interrogar sobre essa legitimidade. Adotou-se a ideia como um dado adquirido. Como acontece ainda hoje quando formulamos uma questão e nos respondem “porque é assim” ou “porque sempre assim foi”.

Como seria a vida da humanidade antes do emparcelamento? Eu imagino (não tenho recordações dessa vida passada tão longínqua) que deveriam fazer parte de uma tribo que cultivaria o terreno que se estendia à volta do mesmo e o produto desse trabalho seria repartido igualmente por todos sem questiúnculas inoportunas e mesquinhas como por exemplo quem se teria esforçado mais ou algo assim. Todos faziam o que podiam e todos desfrutavam do resultado do trabalho em conjunto.

Terá sido a partir daqui que tudo começou e evoluiu até ao presente com todas as vicissitudes vividas até hoje (guerras entre famílias reais, que levaram países a grandes sacrifícios humanos sem nunca se pôr em causa a legitimidade das mesmas).

No caso da monarquia, esta tem um defeito enorme. Não é dado o cargo a uma pessoa porque merece, pois tem as qualidades necessárias para tal mas, bem pelo contrário, é dado por direito dinástico ao primeiro(a) filho(a) ou ao herdeiro masculino. O pior de tudo, é que é um emprego vital. E se um dia, como dizia um colega meu de escola, esse sucessor é maluco? Como seria viver debaixo de um reinado destes durante quase um século? Poderão dizer-me que agora as monarquias são democráticas, pois apoiam-se numa assembleia legislativa e que o rei/rainha pouco ou nada mais podem fazer que representar esse mesmo país. Mas se observarmos cuidadosamente, há, por exemplo, no país vizinho uma cláusula que prevê situações que ponham em risco a imagem da monarquia (que nem sequer foi escolhida pelo povo. Foi-lhes imposta pelo ditador Francisco Franco). Refiro-me por exemplo à cláusula em que o rei é imputável, isto é, não responde perante a justiça. Outra lei que acaba de sair, impede que (e refiro-me à família real, não sei se a mesma é extensível a outros) se diga mal da família real nas redes sociais, como se esta não fosse constituída por seres humanos e estes não cometessem erros. Não será este facto um indício de censura? Todos nós estamos expostos aos erros e temos de acarretar com as possíveis consequências. Por que tem de haver exceções? Todos somos seres humanos e como tal, sem exceção todos temos de ser encarados dessa forma. Não há seres humanos superiores a outros. Nem mesmo o rei/rainha só por ter nascido numa classe socialmente privilegiada. Este facto não o torna um ser humano sem defeitos.

Depois, é muito caro manter uma família real. São ainda alguns milhões. Se assim é, se temos que os aguentar, então que seja escrutinado cada quatro/seis anos a avaliação do seu desempenho. Há outros herdeiros dinásticos, outras famílias que mais não são que a ramificação da própria família real. Caso o representante em funções não esteja a fazer um bom trabalho que fosse substituído por outro membro, não necessariamente um irmão. Assim teríamos de facto uma monarquia democrática (com salário dum presidente da república).

Há que repensar também as remunerações dos mesmos. Como pode um país em crise pagar tais remunerações? Além de que têm um património pessoal com que podem contar.

No caso da república, só temos de encontrar (aqui o mesmo se aplica à monarquia) o representante que, em todos os aspetos, seria o candidato ideal (o aspeto moral incluído) e deixar que tudo aconteça. O salário não é exagerado e se não gostarmos do desempenho dos representantes políticos da nação, sempre se podem trocar ao fim de quatro anos.

Mas, se raciocinarmos bem, tudo depende da qualidade humana dos envolvidos. Tanto monarquias como repúblicas dependem da qualidade humana dos envolvidos. “Tudo começa e acaba no ser humano”, não me lembro já quem disse isto, mas é a realidade.

Agora, o grande problema, é não se conseguir imaginar outra possibilidade política para além destas duas.

Há imenso tempo que navegamos nestes mares sem outras alternativas e seria muito bom que surgissem de forma a evitar tanta e tão profunda desigualdade que estas duas formas políticas não conseguem esbater. Uma forma direta de participação dos cidadãos nas decisões do país que acarretariam a responsabilidade dessas mesmas decisões evidentemente. Não pensam muitas cabeças melhor uma ou duas ou até duzentas ou trezentas? Responder-me-ão que isso demoraria uma eternidade… e para onde vamos com tanta pressa? Não se cometem mais erros na pressa de responder às questões que surgem do que pensá-las com calma?

Isto traz à baila um outro problema. Geralmente, estes seres humanos, uma vez eleitos, e salvas as raras exceções (refiro-me aqui a deputados) que nada podem fazer contra a maioria ditatorial, têm tendência a salvar os seus próprios interesses. Lembram-se das decisões parlamentares da subida dos salários dos deputados em montantes bastante generosos para um país que cada dia parece sempre mais endividado ao exterior? E são precisamente estas e outras despesas públicas de que todos já ouvimos falar que representam um fator de desequilíbrio nas contas estatais.

Há que pensar nisto…



publicado por fatimanascimento às 21:22
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Sábado, 17 de Dezembro de 2016
Meninas mulheres

São meninas e são mulheres. São meninas com responsabilidades de mulher. São meninas de corpo e/ou cabeça de mulher. São meninas na escola e mulheres em casa. A vida passou-lhes uma rasteira. Talvez não seja culpa da vida, mas da sociedade em que vivemos.

A nossa sociedade admira pessoas trabalhadoras. Daquelas que têm trabalhos com horários incríveis (só com uma folga por semana) ou até dois trabalhos que asseguram a comida e as despesas mensais da família. Ninguém consegue pensar mais além disso mesmo. O problema é que estas horas dedicadas ao trabalho (que a nossa sociedade tanto admira) rouba horas à família. Não é culpa destas, por mais que muitos teimem em arranjar-lhes defeitos. Elas apenas respondem às exigências da sociedade em que se inserem. E por esse mundo fora, este problema multiplica-se. Quando acontecem tragédias, culpam as famílias. Como se o problema apenas se resumisse a esse universo.

Estas meninas, para além dos deveres escolares, acumulam deveres domésticos. Substituem os pais ausentes.

Encontrei as duas na mesma semana, apenas separadas por dias. Uma delas saía do supermercado, carregada de compras e rodeada de crianças mais novas que pareciam os irmãos mais novos. Além da carga, que era pesada, tomava conta de gaiatos que gravitavam à sua volta. A sua voz tentava sobrepor-se aos gritos dos mais novos, tentando assumir um tom de comando no sentido de impor algum respeito e fazer-se obedecer.

A outra, já com corpo de mulher, mas com uma idade muito abaixo da projetada pela sua imagem, seguia rumo a casa com três sacos enormes de compras que tentava equilibrar, sem êxito, no seu corpo.  Mais compras. Mais uma tentando preencher as lacunas deixadas pelos pais ausentes.

Exigem delas na escola. Exigem delas em casa. Vivem uma vida ensanduichada entre deveres e com pouco tempo para dedicar a si mesmas e aos interesses de crianças que ainda são. A notas, na escola, refletem essa vida. O cansaço assume um peso enorme naqueles ombros tão tenros.

Tudo isto se reveste de um perigo que a sociedade teima em ignorar. Os salários baixos levam os pais a ausentar-se para compensar as despesas mensais e não têm em conta aspetos humanos, só económicos. Se tudo corre bem, esta fase da vida daquelas meninas mulheres com todos os contratempos nela incluídos, apenas são do conhecimento da família e alguns vizinhos de confiança. Se, pelo contrário, esses contratempos saem, pelas piores razões, desse âmbito, apenas a família fica debaixo da mira das responsabilidades. As atenuantes passam ao lado, apenas se fala de negligência familiar. Mas, a responsabilidade é mais lata. E é uma responsabilidade vertical que começa com o valor do salário mínimo estabelecido pelos políticos e defendidos por patrões. Todos estes são responsáveis indiretos deste problema de que não se fala. Quando se pagar o trabalho com o devido valor, já não será necessária essa ausência parental e talvez desta forma talvez se consiga o equilíbrio que as famílias necessitam, para se conseguir, com a solução, uma sociedade mais equilibrada, em todos os aspetos.

Quando as crianças tiverem mais tempo para ser crianças, talvez as avaliações sejam aquilo que o ME deseja mas sem a necessidade de exigir dos professores.



publicado por fatimanascimento às 21:25
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Quarta-feira, 17 de Agosto de 2016
sociedade e desigualdade

Deus criou o planeta. E um dia criou o homem sem distinção porque os ama a todos de igual forma. Deu-lhes um planeta para que todos usufruam igualmente dele. Logo o mundo é de todos e não só de alguns. Assim tudo o que está no mundo é de todos e não só de alguns. Alguns homens, não satisfeitos com o que tinham, viram uma forma de se distinguirem dos demais: criaram a propriedade privada. Ao fazê-lo, privaram os demais da terra que, desde o começo, nunca lhes pertenceu. É de todos, mas eles não querem saber. Nasceu o egoísmo acompanhado de uma ganância desmesurada. Estes foram criando desigualdades cada vez maiores. Alguns tornaram-se reis de uma terra que não lhes pertence. É de todos. E os outros, por diversas razões, aceitaram a imposição. Como essas famílias eram numerosas, tinham de criar a mesma diferença para a descendência. Nasceu a divisão de classes. Outros, à falta de outro exemplo, seguiram-lhes o exemplo. Criaram a riqueza que não tinham à custa do trabalho quase escravo. Aprenderam, com os demais, e criaram ainda mais diferença. Num mundo de tanta injustiça social, onde os que têm tudo de vez em quando se lembram de lançar alguma caridade sobre os que têm pouco ou nada, achando isso normal, para mascarar a divisão social por eles criada, desta sociedade pouco ou nada temos a esperar a não ser mais do mesmo. Porquê? Porque quem está a ganhar com esta situação não quer mudar. Não quer perder a distinção criada por eles. Aferram-se à tradição e jogam todos os dados para que tal não aconteça. Numa sociedade tão injusta podemos esperar justiça? A justiça parece funcionar a favor de que mais tem senão vejamos o que te vindo a acontecer. Na sociedade onde a diferença é grande, e ameaça ser cada vez maior, a justiça parece ser igual no custo para todos os cidadãos. O que deriva daqui? Só podem recorrer à justiça quem tem dinheiro para tal ou quem pode pedir ajuda mostrando os escassos recursos que têm. Os outros, a classe média, ou consegue fazer o esforço ou a justiça sai-lhe mais cara que o desejo de obtê-la. Depois, se estivermos atentos às notícias, vemos claramente que nem sempre a justiça é imparcial já que sempre existem os chamados “tráficos de influência” (caso Noos em Espanha, por exemplo, onde alguns meios de comunicação falam de pressões exercidas sobre a fiscalía da parte da casa real e do próprio governo, para evitar a condenação da infanta Cristina) que fazem a mesma pender para um lado dos pratos da balança. E sabemos o que a pressão pode fazer a um indivíduo… que muitas vezes se podem traduzir em ameaças veladas ou frontais que também se podem traduzir em subornos. E a moral nestas ocasiões muitas vezes não é suficientemente forte. Há muito a perder… às vezes até a própria imagem. Ora, se a justiça não funciona, a democracia também não. Chamem o que quiserem a esse sistema político, mas não o mascarem de “democracia”. E quando os próprios governos exercem pressão sobre um órgão que deve ser por natureza independente e imparcial, chegamos mais longe na injustiça do que alguma vez sonhámos. Estamos perante uma espécie de ditadura que pode ser monárquica, republicana, capitalista… Quando vemos os meios de comunicação a ser comprados por interesses privados, poderemos esperar uma informação isenta? Quando os estados dominam os mesmos meios de informação, podemos esperar uma informação isenta? E poderíamos continuar… Quando vemos membros de famílias reais a escolherem um país monárquico despótico e medieval sob o pretexto de que é um país seguro para se viver… quando membros da igreja defendem ideias fascistas e injustas criando mais diferença anda… quando num país se criam limitações à liberdade de expressão na internet, regulando que não se pode falar mal da família real para que a sua imagem jamais seja sujeita a possíveis manchas… não sei o que nos espera, mas tudo parece indicar que, ou estamos atentos, lemos os sinais e os interpretamos correctamente e a tempo, ou sofreremos um retrocesso histórico que muitos não desejam…



publicado por fatimanascimento às 16:48
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Segunda-feira, 7 de Dezembro de 2015
“Vai abrir a porta, filha da mãe!”

Há violência de toda a espécie. Entre alunos na escola (o mais conhecido), entre casais, entre vizinhos, entre pais e filhos, entre avós e netos… O mito criado que defende que o elo mais forte é o que existe entre pais e filhos não é regra ou é uma com muitas excepções…

Vou falar daquela que é menos conhecida. A existente entre pais e filhos. Há muitos anos tinha lido “Um rapaz chamado coisa” que me chocou imenso. O que nunca me passou pela cabeça foi rever-me naquela vítima! Depois disso, lá percebi a causa: o meu pai que sempre balançou, na medida do possível, as situações (embora nem sempre tenha conseguido!). Também outras histórias me chegaram aos ouvidos e contadas pelas próprias vítimas.

Não é fácil falar deste assunto. Mas é importante que as pessoas se reconheçam nalguns destes papéis ou que conheçam casos destes saibam que devem intervir de alguma forma para melhorar ou terminar com a violência. A solução que me ocorre é a do acompanhamento psicológico. Poderá haver outras e decerto que as haverá…

A frase que serve de título a este artigo, foi retirada do meu dia-a-dia em casa da minha mãe e não há muito tempo que foi proferida com um tom de ódio infernal. Não há outra forma de a explicar. O problema é que não foi dirigida a mim mas à minha filha mais nova. Sim, já vai na segunda geração. O que mais me dói é que não se ficam por mim os insultos mas alargam-se às minhas filhas.

Vamos passar em revista um pouco a vida da agressora. O pai, a quem estava muito ligada, morreu novo. Mãe agressora que a vincou para a vida, chegou a uma bonita idade avançada. Esta foi uma madrasta para a minha mãe na infância (daquelas bruxas da Disney) e uma mãe para os outros. “Foi a primeira, logo levou com tudo em cima” explica uma senhora amiga que assistiu. Foi a melhor explicação encontrada por ela perante o choque das imagens. Na altura, embora fosse difícil de assistir ninguém se atrevia a dizer fosse o que fosse.

Resultado: a vítima passou a agressora mas com uma particularidade – só se veicula para a sua própria família e o ódio agudiza-se mais quando dirigido a mulheres. Eu explico: tenho três filhos, um rapaz e duas raparigas. Ela tem um fraco pelo neto o que torna a vida do rapaz mais fácil e horrenda a das miúdas. A frase com que abro este artigo, foi dirigida à minha filha mais nova enquanto esta brincava com o irmão que sempre foi muito arreliador.

O meu pai teve uma família emocionalmente equilibrada e sempre foi respeitado e sempre se sentiu amado pelos pais assim como o irmão. Foi um pai protector que sempre me apoiou apesar do veneno da minha mãe.

E eu? Eu tive a sorte de ser diferente e de quebrar o padrão. Tive um pai que sempre foi o meu maior amigo longe da vista da minha mãe, claro. Tive vizinhos que não eram as melhores pessoas (lembro-me de duas famílias) mas eram uns pais incríveis. Serviram-me de exemplo. Também odos os filmes americanos vistos desde os tempos mais recuados do cinema até aos mais recentes. Ainda assim não sou perfeita. Estou muito longe disso. Mas posso dizer que tenho uns filhos extraordinários e não é só graças à minha educação mas às pessoas que são. Estão rodeados de violência tanto pela parte da família do pai (este sobretudo e a mãe deste) mas ainda assim conservam-se adolescentes estáveis e felizes, (apesar da minha mãe envenenar o meu filho mais velho. Não é a primeira vez que a apanho!) Tenho de agir de forma a superar toda esta negatividade, o que se torna cansativo embora indispensável!

Mas é a mais nova que se tornou o alvo preferencial do ódio da avó. Eu sinto-me a reviver a minha infância e adolescência. A ideia de educação da minha mãe é a de querer “dobrar” as pessoas àquilo que ela julga ser o “ideal” esquecendo-se de que isso não existe. E é uma péssima educadora porque não sabe falar sem o seu indispensável ódio e os insultos que, invariavelmente, o acompanham. Não se educa retirando o amor-próprio às pessoas. É a forma mais fácil mas também a mais errada. Aos filhos há que amá-los pois são os nossos melhores amigos. E mesmo que não sejam… Há que dar-lhes o melhor de nós para que sejam ainda melhores do que nós enquanto indivíduos. Acho mesmo que pouco ou nada lhes temos para ensinar, pois é como se tivessem dentro deles “algo” que misteriosamente os guia…

Mas nem sempre foi fácil para mim, a educação que nos retira o amor-próprio leva-nos a cair no erro de encontrar nas nossas vidas pessoas que são tão abusadoras como as pessoas que nos criaram. Maridos, amantes, namorados… É necessário quebrar este elo de violência para que as gerações futuras possam ser mais felizes e para que se acabe este paradigma estúpido de agressor-agredido mas, sobretudo, que as vítimas tenham a noção que o mundo, embora não pareça, é mais do que a violência: é amor, é carinho, é felicidade!

Eu encontrei a minha depois do meu divórcio embora esteja sujeita a recordar todos os maus momentos já vividos na convivência com a minha mãe. Porque estou em casa dela? O desemprego assim o ditou…

Isto lembrou-me uma situação passada há muitos anos. Ela repetia com alguma frequência e com alguma altivez que eu ainda iria precisar muito dela. Ao que respondia que tinha pena que assim fosse porque o meu mal era também o seu”. Veja-se o resultado…



publicado por fatimanascimento às 18:26
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Sábado, 5 de Dezembro de 2015
Verdade, jornalismo e… consequências

Quase todos os dias entram na minha caixa do correio notícias de jornalistas mortos e bloguistas presos. Esta é a triste realidade vivida em várias partes do mundo. Estes são conhecidos mas devem ser mais só que muitos não são notícia.

Há muita espécie de jornalismo. Há aquele que se limita a reportar aquilo que lhe é dito sem a preocupação de descobrir a verdade (é também a mais segura!) e há aquela que não se contenta com o que lhe é apresentado e, caso hajam indícios, não cessa de procurar a verdade até a encontrar. Só que este tipo de jornalismo, também chamado de investigação, é o mais difícil e aquele que envolve riscos: o desaparecimento, a prisão e até a própria morte. E quem está disposto a correr riscos?

Há jornalistas que exigem a verdade e se há algo que não bate certo, não cessam de procurar a verdade até a encontrarem. Muitos deles desaparecem ainda antes da conclusão das investigações o que sempre é um prenúncio de que estavam perto da verdade. Mas a verdade, para quem tem muito que esconder, é o pior dos pesadelos e despem-se de escrúpulos para a evitarem (ou nunca os tiveram!) E geralmente estas mortes nunca são investigadas, são só notícia. As investigações policiais nem sempre dão fruto e fica a memória do crime horrendo e da coragem demonstrada pelos jornalistas assassinados. E todos ficam com a ideia de que estavam a fazer um bom trabalho por que, se assim não fosse, não teriam sido mortos. A morte parece ser a solução encontrada por pessoas que teriam muito a perder aos olhos do mundo se a investigação fosse terminada e descoberta a verdade (seja ela qual for!).

Sendo este mundo movido por interesses particulares, não é de estanhar as mentiras e as aparências. Ora tudo quanto é aparente tende a desaparecer e é necessário manter essa aparência. Mas, e quando essa máscara é posta em causa por alguém que só quer saber a verdade? E se esta for tão feia que o seu autor ou cérebro só a quer abafar a todo o custo? E quando as ameaças à vida dos repórteres não é tida em conta pela coragem dos mesmos? A morte parece ser a solução… parece ser também a mais barata. Afinal, a cotação da vida humana na bolsa dos interesses nunca valeu nada para as pessoas que vivem da mentira. São estas quem mais odeiam a verdade e aqueles que a procuram!

Mas estamos a passar por momentos em que não é precisa a busca da verdade (nada disto é recente!) para se ser castigado brutalmente: basta ter opiniões diferentes das que são impostas pelas autoridades sejam estas quais forem. E o resultado não é melhor: prisões, processos jurídicos que arriscam anos de prisão, castigos corporais… enfim! Nada parece ter mudado e nada parece ter sido aprendido nestes longos anos de história humana!

E não pensem que isto só acontece e países remotos quer pela sua geografia quer pela mentalidade dos seus governantes. Há bem pouco tempo, li uma denúncia que contava a história de dois jornalistas italianos acusados de divulgar documentos secretos da “santa” sé e arriscam uma pena de prisão. O novo Papa parece ter aprovado recentemente uma lei nesse sentido, o que muito me admira. (Documentos que são só do conhecimento de uns e não de todos? Se assim é, a quem favorece esse secretismo?) Não nos esqueçamos que é baseada nas notícias que formamos a nossa opinião pessoal, embora eu acredite que haja pessoas capazes de ter filtro crítico e percebem algo mais por trás do que é simplesmente divulgado. Estas são pessoas incomodativas porque pensam à margem do que é habitualmente aceite como verdade. São as que saem do rebanho e as que poderão realizar esse despertar tão indesejado.

Mas o que queremos nós, os leitores, espectadores ou ouvintes das notícias jornalísticas? O que procuramos saber do mundo onde estamos inseridos? Queremos a verdade ou a ocultação desta, a meia verdade ou a mentira que nos tapa os olhos? Cabe a nós decidir…



publicado por fatimanascimento às 21:12
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