opiniões sobre tudo e sobre nada...
Liberdade, para mim, é como respirar. Não consigo conceber existência sem liberdade. É como imaginar o mundo sem água ou ar. E, tal como estes elementos, é também bastante frágil. Chego mesmo a interrogar-me se ele não existirá só, na sua pura essência, em conceito. Quando falamos dela utilizamos este conceito mais no contexto político. É normal. Afinal, vivemos bastantes anos debaixo de uma ditadura férrea onde liberdade era uma simples miragem para os entendidos e os menos entendidos em questões filosóficas, sociais e políticas. Vivia-se sob um terror de se ser denunciado por uma palavra mal medida e que poderia ser mal interpretada. As conversas não ultrapassavam os temas banais. Com o vinte e cinco de Abril, a situação modificou. Todos puderam falar abertamente e transmitir o que sentiam e pensavam. A partir dessa data, tudo foi diferente. Agora vivemos em liberdade. Pelo menos, numa suposta liberdade. Isto é, ela está defendida na Constituição como um direito adquirido, uma vez que liberdade é sinónimo de democracia e vice-versa. O que se passa no dia-a-dia prova que nem sempre o que está escrito está vivo. Se por um lado há meios de comunicação da chamada imprensa cor de rosa que muitas vezes força alguns títulos só para vender, e nada de mal lhes acontece, a não ser a saturação das vítimas que, muitas vezes, não vêem outra saída senão processar as revistas em causa. Outros há que, ao realizarem um trabalho de investigação, são impedidos de os divulgar, mesmo estando conscientes das possíveis retaliações. Estou a falar do último caso passado na TVI. Refiro-me, em particular, àquela reportagem da autoria da Manuela Moura Guedes e de dois companheiros seus que foi proibida de passar no telejornal daquela empresa e que comprometia o primeiro-ministro. Este acontecimento não abona nada em favor deste último. Era ele quem mais tinha a perder com a divulgação deste vídeo que agora se encontra limitado à consulta na internet, conservando-se assim longe da maioria dos portugueses (dos votos). O nosso povo acredita que “quem não deve, não teme”. Se o nosso primeiro-ministro não teme, como já teve ocasião de dar a conhecer, por que é que alguém se julgaria no dever ou no direito de impedir a divulgação daquela reportagem? Em que critérios se terá baseado? Mas não é só isso que mais me intriga é o silêncio da própria classe política que nada diz a esse respeito. Será que fariam o mesmo se estivessem numa situação parecida? Não será esta atitude grave? Não é a liberdade um direito? Será que o mesmo se passa numa outra estação de televisão? Então, onde está a liberdade? Ou será a classe política intocável? Ou, pior ainda, ocupará a liberdade um lugar de segundo plano nos debates ideológicos entre partidos em relação à economia e outros assuntos? Será a liberdade um dado tão adquirido que não valha a pena pensar nela de vez em quando? Todos nós cometemos erros e a consequência natural é pagarmos por eles. Acredito mais numa pessoa que, apesar do possível erro, assume e deixa os acontecimentos correrem apesar dos riscos, do que aqueles que tentam evitar a todo o custo manchar a sua imagem, mesmo que para tal tenham de invadir a liberdade do próximo.