Eram duas horas da tarde. Descia a vagarosa e estreita estrada que apanha a movimentada avenida da cidade onde moro, quando deparei com uma cena inusual. Diante do carro, atravessava a ligeira descida, uma ave que estamos acostumados a ver em campos abertos, a fazer companhia a animais domésticos de grande porte, que pastam mansamente nos verdes prados. Chamei a atenção da minha filha mais nova, que viajava no banco traseiro, com o cinto de segurança devidamente colocado. A gaiata olhou na direcção indicada, afastando o cinto e soerguendo-se vivamente no banco. Uma elegante ave de pernas altas e esguias, vestida de um imaculado e macio fato branco, de onde partia um longo e fino pescoço, que terminava numa pequena cabeça redonda, de onde sobressaía um longo bico amarelo, atravessava orgulhosamente a pequena estrada. Parei o carro para deixar passar o excepcional peão, que se balançava elegantemente no seu passo dançante. Admirei a forma como se deslocava. A cada passo, a ave parecia atirar o pescoço para frente, parecendo ganhar, daquela forma, balanço para a sua caminhada. Era admirável! A calma e a nobreza com que atravessava aquela estrada, cativou a nossa admiração - parecia uma modelo em cima da sua passerelle! De corações enternecidos, observávamos aquela ave, nunca antes vista de tão perto. Passada a admiração, algumas questões saltaram-me ao espírito. De onde vinha? O que fazia ali? Porque se mostrava tão indiferente, embora cautelosa, ao ruído e ao movimento geral que se sentia àquela hora da tarde? A ave continuou o seu passeio, sempre com os nossos olhos colados à sua bela imagem. Depois do passeio calcetado, seguiu pelo pedaço de natureza, que a voracidade da construção de prédios, ainda não engoliu, irradiando charme e altivez. Seguimo-la durante muito tempo, cativadas com tal aparição. Um carro apressado apitou irritadamente atrás de nós. O nosso começou a deslizar mansamente, ainda preso a tão original criatura. Sentimo-nos abençoadas com tal presença! E pensar que há pessoas que passam a vida atrás de fama e de fortuna sem perceberem que o verdadeiro tesouro está na natureza!
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