opiniões sobre tudo e sobre nada...
Falando há um dia atrás com uma pessoa conhecida, de há muito tempo, e que insinuava que a minha saída do ensino poderia ter tido outros motivos que não os verdadeiros, resolvi, de uma vez por todas, esclarecer totalmente a situação.
Não vou contar tudo, porque seria impossível, mas algumas situações bastante elucidativas de situações impensáveis, pelas quais eu passei. Ao princípio, os colegas da nova escola, onde fui colocada, por destacamento, mostraram-se simpáticas. Pareciam uma família. Depois, à medida que o tempo foi passando, o cerco foi-se apertando à minha volta, buscando incessantemente um mínimo deslize para me prejudicarem. Nessa escola, eu tive uma turma de CEF, onde havia miúdos referenciados por vários problemas: roubos, droga, etc.. Como desde que entrei para o ensino tive sempre as piores turmas, expliquei que teríamos de agarrar a turma para bem deles e nossa. Não seria possível. As turmas de CEF eram olhos do Ministério da Educação, pelo que não se tocaria nos meninos. Quando diziam alguma coisa no sentido de os intimidar, logo desdiziam porque afinal, as coisas até não se passavam assim. Vi o Director da turma atrapalhado, dizendo que daria o dito por não dito, e que seria comunicado aos miúdos que tudo não tinha passado de uma brincadeira. Isto durou até ao meio do ano lectivo, quando começaram a chegar notícias de suspensões e até de expulsões de outras escolas, relacionadas com as turmas de CEF. Foi aí que começaram, então, a ser severos com os alunos. Numa actividade organizada por mim e por outra colega, eu levei essa turma de CEF, ocupando lá a nossa hora e meia lectiva. Um cesteiro dava-lhes uma ideia de como se fazia as mais diversas peças em verga. Um deles brincava, de vez em quando, com uma verga, fazendo cócegas na cara ao senhor. Quando o chamava à atenção, ele parava, para continuar assim que me distraía. Perguntei ao cesteiro se ele o estava a incomodar. Respondeu-me que não, que eram miúdos… Passado pouco tempo, realizou-se um conselho disciplinar, e do relatório constava essa situação supracitada. Fiquei estupefacta. Perguntei ao conselho de turma, ali reunido, como era possível constar tal situação, se eu não havia feito participação disciplinar da ocorrência. Um membro do conselho executivo respondeu que alguém assistira e resolvera incluí-la no relatório. Haviam passado por cima de mim para atingirem o aluno! Em quase vinte anos de ensino, nunca experimentara nada assim. Ainda durante essa actividade, eu levei outra turma de oitavo ano. Os miúdos adoraram. Uma das miúdas disse-me que iria pedir à professora de inglês para continuar lá. Qual não foi o meu espanto, quando vejo entrar a professora dessa disciplina pela biblioteca dentro, (estávamos em pleno mês de Junho) gritando com os miúdos e questionando o que faziam eles na biblioteca àquela hora. Tinham falta colectiva e rematou com uma pergunta que não passou despercebida "Quem os trouxe para aqui?” Percebi que ela chegara finalmente ao ponto que a levara até ali. Voltei-me para os miúdos e disse-lhes que não temessem porque eu, como responsável, assumiria essa hora, colocando um artigo 102. Alguns alunos recusaram a minha proposta. Alguém me dizia “Deixe lá, professora, nós já não gostávamos nada dela, e agora é que ela não tem mesmo hipótese!” Finalmente, a Directora da Turma resolveu o problema ignorando o sumário onde constava a informação da falta colectiva dizendo, muito diplomaticamente, e a medo, que não lia sumários só tirava faltas, dando assim por terminado um escândalo que ameaçava galgar os muros da escola. Finalmente, arranjaram-me uma falta injustificada, que me foi comunicada dezassete dias depois. Por tudo isto, e não é tudo, e apercebendo-me do tipo de inimigo que tinha pela frente, achei que, por muito que me custasse, tinha de sair dali, porque a perseguição assumira proporções que há muito ultrapassara aquilo que seria razoável. Percebi que nem tudo depende só de nós. Não há nada a fazer, quando as pessoas colocam na cabeça que alguém é melhor do que elas, podendo mesmo até nem ser verdade, mas quando isso acontece, a inveja faz despoletar todos os mecanismos, capazes de prejudicar seja quem for. Aos miúdos fica o meu abraço, aos colegas daquela escola, o meu esquecimento.