Lembram-se certamente dos tempos sobre os quais se baixou o pano para entrarmos numa recessão económico-financeira sem precedentes no período pós 25 de Abril. Se antes tínhamos de esperar pelos dois subsídios para fazer face às despesas mais imponentes, agora nem isso temos.
Aconteceu comigo. Aconteceu há pouco tempo. Já há seis anos que não troco de lentes. A minha graduação é alta, o que torna, a nível financeiro, tudo mais complicado. Sofrer por falta de visão é um problema sem fim à vista, pelo menos, nos anos mais próximos. A compra dos aros não é o problema. Afinal, tenho os aros só precisaria mesmo de trocar de lentes. Mas, trocar de lentes tornou-se um luxo, principalmente com a minha graduação. Terei de esperar mais seis anos? Tudo parece indicar que sim. As lentes, destinadas ao estigmatismo e à miopia, ficariam na módica quantia de oitocentos e tais euros. Incomportável para quem está longe de casa, a pagar mais uma renda, imposto IMI (que todos sabemos que vai aumentar consideravelmente) e tudo o mais que está dentro das despesas de uma família. As pessoas da loja tentaram todas as situações possíveis para tornarem os óculos uma realidade. Impossível. Para já, é impressionante o preço das lentes quando não se trata de um luxo mas de uma necessidade. Numa época de crise, as lojas da especialidade parecem não terem dado conta da realidade dos funcionários públicos (dos que ganham pouco). Com os cortes anunciados no vencimento, terei, no mínimo, de esperar mais um ano. Entretanto, tenho um no letivo para ultrapassar. Preciso, para controlar os alunos (que até são simpáticos mas não deixam de ser adolescentes) de ver bem ao longe e ao perto. Mesmo com os óculos novos, o campo de visão fica sempre limitado, levando-nos a uma ajuda constante do pescoço, para o controlo necessário. Agora, nem uma coisa, nem outra. Terei de continuar a trabalhar lidando com esta limitação. Mas há soluções… assim haja boa vontade para o resolver. O governo é indiferente a estas questões. Dali, não se espera nada de bom. Então, como fazer? Talvez os produtores e as lojas não tenham de ganhar tudo. Talvez tenham de fazer ajustes para continuarem a vender sem serem prejudicadas. A não ser que continuem a vender com a minoria-maioria endinheirada que existe neste país. O que duvido. Então porque não começar, por exemplo, a suportarem metade do IVA das lentes? Em tempos de crise não se pode estar doente. E se pensarmos no que se passa na Grécia onde, por exemplo, as pessoas cancerosas que necessitam de cirurgia têm de andar desesperadamente a ver onde podem arranjar dinheiro ou as grávidas que, antes da entrada nos hospitais, têm de pagar uma média de oitocentos euros para serem assistidas… é aterrador para os portugueses que sempre se preocuparam com a saúde. Lembram-se da expressão “desde que haja saúde…” que sempre referem até aquando do anúncio dos votos para o ano que começa? Isso revela muito senão tudo…
2013: que perspetivas?
Estas vão do cinzento, cinzento-escuro e negro. Colorido? Só para os mais ricos e aqueles que trabalham para as empresas públicas a troco de chorudos salários só para fazerem o que lhes compete. E, isso, todos fazemos. O que está a transtornar este país, mais uma vez, são as diferenças sociais (entre os pobres e os ricos cujo abismo é cada vez maior). E não é só no nosso país mas em todos aqueles onde ainda está enraizada toda uma mentalidade medieval. Os países (poucos) onde isso não acontece, não têm problemas financeiros, dívidas exteriores nem mal-estar social. São países onde todos se sentem bem, os mais ricos inclusive, uma vez que esse bem-estar é geral. Ninguém gosta de viver num país onde a miséria predomina. Nós estamos em vias de nos transformarmos num desses países desagradáveis, onde de um lado estão as construções típicas, retratos atípicos de uma humanidade de contradições, dos mais ricos e, do outro, dos mais pobres. Pior do que esta perspetiva: estamos a afundar-nos enquanto país, devidos a sucessivos governos incapazes de levar a fundo uma reforma capaz de solucionar todos os problemas reais do país. Estes mais uma vez foram ignorados e os problemas de ontem continuam a ser os de hoje e preparam-se para ser os de amanhã. Por este andar, estamos no terceiro milénio com os mesmos problemas do século dezanove. Com tantas estratégias e objetivos capazes de poderem tornar este país num grande pequeno país, estamos a este pequeno país ainda mais ínfimos em todos os aspetos. E temos um povo capaz de fazer tanto como os outros e tão bem como eles. O que não temos é governante à altura. Nunca tivemos! Geralmente, quem vai para a política vai pelas razões erradas, embora, à partida, pareçam mobilizados por uma ideologia benigna. E talvez assim aconteça no início, mas parece não fomentar. Sabem o que acontece a uma maçã podre junto de outras sãs? As outras acabam por apodrecer por contaminação. Assim parece ser na política. Só que a proporção parece invertida. Quantas vezes, vimos pessoas testemunhas dos mais variados abusos, financeiros incluídos, denunciaram-nos e saíram demarcando-se de uma tendência habitual e que acabaram por ser atacados pessoalmente, no sentido de lhes retirar todo o crédito, profissional e pessoal? Assim, é claro, que não vamos a lado nenhum. Nem nunca iremos. E este cancro político já está enraizado desde o tempo da monarquia, quando um rei português, numa carta a um seu conhecido ou parente, se queixa do cancro da corrupção política e se sente incapaz de travar tal mal. Resta-me desejar-vos, para 2013, querido povo português, e gente de boa vontade, que tudo quando planeais se torne realidade. E que os que têm possibilidades de tornar este país maior, não cessem de tentar, pois são esses – os de boa vontade (não os mascarados) – aqueles que, num trabalho consciente e perseverante – conseguem levar o país para a frente. Não temos de aumentar as exportações? Por que não exportar os políticos e os executivos corruptos? Enriqueceríamos depressa se o fizéssemos ou empobreceríamos ainda mais porque ninguém os quereria. Já têm os deles! É uma raça que toda a gente parece querer dispensar.
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