A crise instalou-se em todos os sectores. Até nas escolas que se queixam de falta de dinheiro, com os cortes aplicados. E já começa a gerar conflitos em certos curtos. Os rapazes que, há anos atrás, trocaram a oportunidade de estudar para encontrar um emprego e ganhar dinheiro e outros porque, simplesmente o dinheiro era pouco ou nenhum, ou porque simplesmente não gostavam, voltaram a estudar à noite alimentados pelo dinheiro, não muito, que o Estado lhes pagava para estudar. Era um atractivo para chamar as pessoas que, por alguma razão, as levara a desistir do estudo. Agora o caso parece estar feio. A confusão instalou-se. Ninguém sabe por quantos anos se vai estender o curso, e quanto ao dinheiro e, segundo informações da escola, esta não tem dinheiro para lhes pagar. Enfim, o que, de início, despertara a atenção dos alunos de variadíssimas maneiras parece estar, neste momento, a desiludi-los. Já se ouvem histórias de possíveis desistências ou mesmo da troca deste curso por outro. Indecisos e confusos os alunos mais velhos dos cursos nocturnos parecem desiludidos. Não sabem se deverão ir à procura de emprego, os que não o têm, ou se se limitarão simplesmente a abandoná-lo escondendo-o num local recôndito da sua memória, como se se tratasse de uma má experiência que quisessem esquecer. A desestabilização, como é natural, não está a ajudar no aproveitamento escolar. Alguns alunos, depois de um dia de trabalho, ainda se arrastam para as aulas que duram, muitas vezes, até à meia-noite mas muitos já desistiram. Ninguém acredita. Só alguns estudantes cuja fé abalada ainda não os abandonou ficaram. Mas, até quando? Por que não pode ser o dinheiro um motivo para a frequência do curso? Quando oiço pessoas a falarem deste aspecto, dá a impressão de que vivemos num país sem dificuldades! Muitos dos alunos da noite que não terminaram os estudos foi simplesmente porque precisavam e queriam ganhar dinheiro por razões várias que só a eles diz respeito. Vão agora puxar-lhes o tapete debaixo dos pés?
Demorei algum tempo a escrever este artigo. O tema não é fácil. E ver aquele ex-aluno da Casa Pia e depois de todo o sofrimento passado e presente (porque este sofrimento não se apaga) a dar a cara não só por si mas por todos aqueles que, antes dele, sofreram os mesmos horrores, é necessária muita coragem. Aquele testemunho é o de todos aqueles que se atreveram a acreditar e a olhar para alguém com alguma admiração pensando ter nessa pessoa aquilo que nunca tiveram na vida e, no fim, percebem que toda a confiança depositada não passava de uma ilusão. E o que fazer quando essa ilusão se desfaz? O que fazer quando essa amizade os leva por caminhos desconhecidos pagando com o próprio corpo o encontro com a desgraça? O que faz com que certas pessoas, aparentemente normais, com um comportamento social aparentemente irrepreensível, e muitas vezes com famílias, abusem de adolescentes e crianças? Por que protegem os seus e atacam os dos outros? Não será este um comportamento de predador de certos membros da sociedade para com outros da mesma espécie? Há uma coisa que nos separa dos animais: a capacidade de vencer os nossos maus instintos. Mas o que é preocupante é saber que estes comportamentos se encontram espalhados, como uma praga, um pouco todo o lado. Não sei o que esperam os pedófilos com essas atitudes em todos os aspectos condenáveis. Será sensação de poder sobre um ser inofensivo que os leva a tomar estas atitudes? Será só a mera satisfação sexual? Não parece, uma vez que as vítimas escolhidas não se enquadram nos padrões sociais antes conhecidos: não procuram adultos. O que posso dizer e mesmo enaltecer é a coragem destes jovens que, apesar das ameaças, tiveram a coragem de contar tudo. Conseguiram, com esta denúncia, salvar outros alunos, alertando-os, para o que se passou evitando que caiam na mesma armadilha. Especialmente quando se sabe que muitos dos indiciados se encontram normalmente a cumprir o seu horário dentro dessa instituição. Não sei se, com esta denúncia, terminará a rede pedófila dentro daquela instituição estatal, ou se os culpados não reconhecidos estarão à espera de marés mais calmas para que tudo volte ao mesmo. Cabe à instituição alertar os miúdos para o que se passou, não deixando morrer o caso, e fazer com a informação dada, que outros possam ser prejudicados. Esta história não deve morrer, pelo menos na memória dos miúdos, para evitar o perigo de reaparecimento e para evitar que o esforço e a denúncia realizada por estes jovens denunciadores não seja desperdiçado. Para bem de todos mas, sobretudo, por aqueles que ainda frequentam estas ou outras instituições semelhantes, públicas ou particulares. A minha admiração e o meu apoio a todos esses jovens corajosos: admiro-os. Também o meu agradecimento: da vossa denúncia só poderá resultar uma sociedade mais alertada e informada.
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